Momo incentiva o suicídio infantil e pais devem ficar alertas

Imagem assustadora surge no meio de episódios de desenho e incentiva crianças a cometerem suicídio. Psicologa orienta supervisão permanente dos pais

18/03/2019 - 16:40 hs
Foto: Divulgação/Internet

"Baby shark, doo doo doo doo doo doo. Baby shark, doo doo doo doo doo doo. Baby shark, doo doo doo doo doo doo. Baby shark!". Poderia ser só mais um vídeo colorido com músicas e coreografias infantis que grudam na cabeça, ou um daqueles vídeos em que uma criança mostra como funciona um determinado brinquedo. Uma imagem assustadora, no entanto, pode aparecer no meio do desenho e ensinar seu filho o passo a passo para o suicídio. A Momo está de volta, desta vez em vídeos infantis no Youtube.

A Momo, criada a partir de uma escultura de um artista plástico japonês, tem olhos esbugalhados, pele pálida e sorriso sinistro. Ela ficou conhecida depois que um vídeo chamado “Desafio Momo”, que envolvia roubo de informações pessoais, incitação ao suicídio e extorsão, viralizou na internet no ano passado.

Na nova versão, a personagem macabra aparece inesperadamente no meio dos vídeos infantis - como uma espécie de propaganda - e ensina as crianças a como encontrar objetos cortantes em casa -, e na sequência, como cortar os próprios pulsos. O assunto foi tema de uma reportagem da Revista Crescer, publicada na última sexta-feira (15).

De acordo com a revista, mesmo no YouTube Kids - versão do aplicativo própria para crianças - é possível se deparar com a presença da Momo. A reportagem traz também o depoimentos dos pais de uma menina de 8 anos que, após ver a personagem assustadora no meio de um vídeo sobre slime, ficou completamente amedrontada. Mesmo com filtro nos vídeos e tendo acesso apenas ao YouTube Kids, a menina já havia visto a Momo três vezes.

“Assim que começamos a conversa, ela teve uma crise de choro e não conseguia nem falar. Fomos acalmando-a e então ela contou que já tinha acontecido de ver a Momo. Disse também que estava com muito medo de dormir sozinha, de sonhar com a personagem ou de vê-la saindo de dentro do armário. Foram minutos bem complicados para nós”, contou a mãe em entrevista à Crescer.

EXPLIQUE OS PERIGOS

Para Roberta Pereira Vallory, psicóloga especialista na infância e adolescência, é fundamental que os pais estejam atentos aos perigos que surgem no mundo virtual. A orientação número um é: jamais confiar em filtros ou bloqueios, e sempre supervisionar o uso do celular e da internet por parte das crianças.

"A gente consegue preservar as crianças desse tipo de risco orientando e supervisionando o que a criança tem visto. Dependendo da idade, orientar mesmo, falar, não dar detalhes para não aguçar a curiosidade, mas explicar o risco, o perigo. O mais importante: não entregar o celular na mão da criança e achar que ela está protegida porque está dentro de casa. Muitas coisas acontecem no mundo virtual. É ter cuidado, orientar, conversar, estar ao lado quando tiver vendo algum vídeo. 'Que vídeo é esse, deixa eu ver com você'. É você estar ao lado, conhecer seu filho, saber do que ele gosta, explicar os riscos. Você não vai proibir, mas vai supervisionar. Eu falo sempre, no momento em que não estiver perto, não puder supervisionar, não deixe ele com acesso livre. A criança não tem maturidade cognitiva para entender certas coisas. Quem tem que orientar, ter maturidade discernimento são os pais", explica a psicóloga.

Vale, inclusive, explicar as crianças que há uma pessoa por trás da Momo, alguém que utiliza o personagem para influenciar crianças e adolescentes a cometerem atitudes ruins. Seu filho já viu? Mudou de comportamento depois disso? É bom buscar ajuda profissional.

"Explicar que há uma pessoa por trás da Momo. As pessoas estão usando disso para poder instruir crianças para o mal. Para atingir crianças e adolescentes para ter certo tipo de comportamento. Tem que explicar, estar atento, mostrar que há um incentivo de alguém, por trás da Momo, para incentivar a fazer coisas ruins contra a própria vida. Explicar abertamente para a criança. Se a criança está traumatizada, com mudanças bruscas de comportamento, o ideal é os pais procurarem uma ajuda psicológica para avaliara qual nível do trauma e reduzir toda a ansiedade", conclui.

O QUE DIZ O YOUTUBE

Procurado pela revista Crescer, o YouTube se manifestou por uma carta, em que conta a história da aparição do boneco e nega a existência de novos vídeos da momo no aplicativo.

"Muitos de vocês compartilharam suas preocupações conosco nos últimos dias sobre o Desafio Momo - prestamos muita atenção nisso. Depois de muita análise, não vimos nenhuma evidência recente de vídeos promovendo o Desafio Momo no YouTube. Vídeos incentivando desafios prejudiciais e perigosos são claramente contra nossas políticas, incluindo o desafio Momo. Apesar dos relatos da imprensa sobre esse desafio, não tivemos links recentes sinalizados ou compartilhados conosco do YouTube que violem nossas Diretrizes da comunidade.

Fonte: Gazeta