Saiba porque as abelhas são suas melhores amigas

Mel que custa R$ 10 mil, colmeias com até 80 mil abelhas, a criação de novas rainhas: entenda como esse universo funciona e porque nossa vida depende da delas

Por Aline Christina Brehmer 12/04/2019 - 09:59 hs
Foto: Aline Christina Brehmer/Jornal Café Impresso
Saiba porque as abelhas são suas melhores amigas
Hoje, Marcilio Bertram cria 14 espécies de abelhas melíponas

Um quilo de mel que custa R$ 10 mil? Ele existe e a abelha que o produz, conhecida como Lambe-Olhos, tem 1,5 milímetro de comprimento (a menor do mundo) e é cultivada bem aqui, em Timbó. O meliponicultor Marcilio Tobias Bertram dedica seu dia-a-dia exclusivamente para trabalhar com a procriação das abelhas melíponas (que não têm ferrão).

Somente ali ele cuida de 14 espécies, fazendo criação e novos enxames para revender. “Tenho enxames aqui que valem até R$ 900,00. Só que existem outros ainda mais valiosos, que custam cerca de R$ 3 mil”, conta.

Segundo ele, trabalhar com a multiplicação dos insetos voadores se tornou uma opção mais viável por duas razões: há espécies em extinção que precisam ser criadas e salvas e também por serem abelhas que não produzem tanto mel quanto as apis (que têm ferrão) e por isso a lucratividade com a venda do produto seria muito menor.

“Tem pessoas interessadas em começar essa criação, mas quase não entendem o funcionamento de uma colmeia. Então é preciso ensinar e explicar isso tudo antes”, esclarece o meliponicultor.

Ele é hoje presidente da Associação de Apicultores e Meliponicultores de Rio dos Cedros e revela que “a maior preocupação atualmente é que os agricultores e criadores de abelhas estão deixando de existir”. Em Rio dos Cedros, atualmente, há apenas três apicultores. No total há 17 associados, contando as cinco cidades que participam da Associação.

“Se as abelhas desaparecerem os humanos morrem”, Marcilio Bertram

Bertram diz que a procura maior continua sendo pelo mel, mas lembra que as abelhas produzem outros produtos como a cera, própolis e geleia real – mas ninguém na região pensa em comprar um enxame, por exemplo.

Com mais de oito cursos na área para aprender melhor o mundo e funcionamento desses insetos, Bertram conta que também é um dos poucos da região que sabe fazer o procedimento de inseminação artificial em determinadas espécies.

Segundo ele, se todas as abelhas desaparecessem hoje, em cerca de quatro anos não teria mais como sobreviver na Terra. Em uma reportagem veiculada no site Correio Braziliense em 2013, a resposta que corrobora com a declaração de Bertram é que “Pesquisadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, estimam que um terço dos alimentos consumidos pelo homem são diretamente dependentes do papel das abelhas na natureza, e que elas são responsáveis pela polinização de 80% dos cultivos existentes” (a reportagem completa você encontra acessando o site www.correiobraziliense.com.br).

Novas consistências e sabores

Voltando para as Lambe-Olhos, que foram mencionadas no início da reportagem, Bertram novamente pega a pequena caixa de madeira na mão e apresenta em detalhes o ninho delas: as abelhas que produzem o mel mais caro do mundo.

Há apenas algumas ali nessa caixa que, segundo o meliponicultor, produzem entre três e quatro colheres de sopa por ano de mel. “O valor do produto nesse caso é caro pela alta propriedade medicinal, que auxilia no tratamento da catarata”, explica. Entretanto, reforça que todos os tipos de mel possuem alguma propriedade medicinal também.

De forma geral, Bertram classifica as melíponas como abelhas mais “mansas” e intuitivas. “Cada espécie tem suas singularidades, mas de forma geral elas não apresentam perigo. Tenho aqui colmeias que só sobrevivem se ficarem 100% do tempo na sombra, em lugares baixos, porque necessitam da umidade. Já outras só vivem se ficarem no sol o tempo todo”, comenta.

O gosto, assim como a consistência do mel, também muda bastante. “São mais líquidos, alguns um pouco mais azedos, outros mais cítricos e uns mais doces mesmo. Já cheguei a colher mel verde e até vermelho, devido à florada na qual aquelas abelhas pousaram, que tinham gostos bem singulares”, relembra.

Outras curiosidades citadas pelo meliponicultor é que todas as colmeias têm, diariamente, seu “horário da faxina” e também conseguem prever o tempo. “As abelhas sentem, e isso é comprovado cientificamente, como será a temperatura até daqui a 50 dias. Elas são realmente fascinantes, mas com certeza há muito a aprender a respeito ainda”, reflete.

50 mil abelhas em ação

O “zum zum zum” vem de todos os lados. É bem ali, no Centro de Rio dos Cedros, que o apicultor Agenor Poffo abre uma caixa de abelhas para que possamos ver, de perto, o resultado de todo o seu trabalho.

Naquela colmeia em específico há cerca de 50 mil abelhas apis, ou seja, aquelas que têm ferrão. O local, ele explica, é uma espécie de berçário onde estão sendo produzidas novas rainhas. Depois, quando elas começam a postura, então as caixas são levadas para um novo local.

Para chegar perto desse ninho e prevenir qualquer picada há todo um processo de preparação: a começar pela roupa. Agenor veste um macacão branco, luvas, botas e uma máscara, sem deixar qualquer pedaço de pele à mostra (afinal, trabalhando com abelhas há mais de 20 anos, também já levou algumas picadas).

Então, com um equipamento que exala fumaça, seguimos mata adentro. “Essa fumaça é justamente para acalmar elas, já que quando alguém chega e começa a mexer no seu esconderijo elas partem em defesa da colmeia e da rainha”, explica.

4 toneladas que viram R$ 80 mil

Dentro dessa única caixa há aproximadamente dez favos de mel, alguns que estão quase carregados por completo. Mas antes que chegue outubro nenhum deles será retirado dali.

“A época em que as abelhas trabalham para produzir mel é quando começa a primavera. Isso, claro, se o tempo colaborar. Em 2018 colhemos, em mais de 200 caixas, somente uns 1.300 quilos de mel porque foi um período chuvoso e frio. As flores não desabrocharam e as abelhas não produziram”, explica o apicultor.

Já neste ano o resultado foi melhor: quatro toneladas de puro mel foram recolhidas, embaladas e revendidas para os supermercados. “Vendemos o quilo a R$ 20,00, então tiramos uns R$ 80 mil nesse ano. Foi bom, mas já teve anos muito melhores. Nossa melhor marca até hoje foram 36 toneladas”, revela.

Até 100 quilos

Agenor conta que a melhor média por caixa ficou na faixa dos 37 quilos (mas a produção de uma única colmeia pode chegar até os 100 quilos). Ou seja, neste ano, se todas as 330 caixas ficassem nesse mesmo patamar, renderiam quase 9 toneladas de mel.

“É preciso dizer que a gente sempre trabalha com uma margem né, então se perdermos 20% das abelhas que criamos hoje é uma porcentagem aceitável, porque é a média de percas mesmo”, comenta o apicultor.

Houve um ano em que a família Poffo perdeu 100 caixas devido a diversos fatores, como a Irara por exemplo, que é um predador comum das abelhas. “A natureza não é fácil e, quando se trabalha com abelhas, a gente pode ser pego de surpresa em algumas situações. Tem gente que estuda elas a vida inteira e não consegue entender realmente o mecanismo e funcionamento da espécie. Independente disso, é importante sempre lembrar que as abelhas devem ser respeitadas. Muita gente as vê e mata e não é o certo. É apenas preciso respeitar as abelhas”, alerta o apicultor.

Criação e tratamento

As apis são criadas em lugares altos e devem estar a uma distância de 150 metros de um rio e próxima das flores. Diariamente, segundo Agenor, uma única abelha pousa em até 10 mil flores.

“É durante a primavera que elas fazem a produção de mel para estocar, porque sabem que no inverno irão morrer de fome se não fizerem isso. Agora que estamos chegando perto do frio, é muito interessante. A rainha sabe que a produção de mel vai diminuir e por isso ela diminui a postura. Pode colocar até 3 mil ovos por dia, mas a partir de agora começa a diminuir essa quantia, por isso que no inverno sempre verifico a situação de cada colmeia, abro a caixa e vejo se tem reserva de alimento, caso contrário é preciso trata-las para que não morram de fome”, esclarece.

Uma nova Rainha

Mas, o que acontece se a rainha morrer? As abelhas escolhem um novo ovo e o tratam exclusivamente com geleia real (os demais são tratados com pólen e mel). Dentro de aproximadamente 15 dias nasce uma nova rainha devido ao tratamento diferenciado que aquele único ovo recebeu.

Já o zangão demora até 20 dias para nascer e as operárias até 24 dias. O tempo médio de vida das operárias é de 45 dias, do Zangão é de 84 dias e da Rainha pode chegar até a cinco anos (isso porque se alimenta da geleia real). (Fonte: Revista Zum Zum).