Bugios de Indaial ganham mosquiteiro

Mais de 2 mil metros de tela foram colocados sobre o recinto para proteger os primatas do mosquito silvestre, responsável pela transmissão da febre amarela

Por Aline Christina Brehmer 16/04/2019 - 11:58 hs
Foto: Aline Christina Brehmer/Jornal Café Impresso

Eles são 49 no total. Todos olham curiosos, alguns com um misto de susto e desconfiança também. Em um dos recintos, tem uma família de bugios onde está a mais nova filhote do local, que tem apenas sete meses.

Ao redor de todo o recinto se estende uma tela branca, que cobre cada fresta e canto. Ela está ali há pouco mais de uma semana e foi colocada para proteger os macacos do seu (atualmente) mais perigoso vilão: o mosquito silvestre, que transmite a febre amarela.

O abrigo desses primatas fica em Indaial. Sua espécie é protegida e preservada através do Centro de Pesquisas Biológicas de Indaial – Projeto Bugio, uma iniciativa pública financiada através da Prefeitura de Indaial em parceria com a Furb.

“Esses bugios não têm nenhuma vacina que os proteja do vírus, por isso optamos pela colocação dessa espécie de mosquiteiro, que só foi possível graças aos poderes públicos que mantêm a estrutura”, comenta o médico veterinário do local, Júlio César de Souza Júnior.

Trabalho de equipe

Há mais de 2 mil metros de tela ali e quem costurou tudo isso foram os próprios funcionários do projeto. “O processo de licitação para a aquisição desse material já acontece desde setembro, mas até que ele chegasse e tudo fosse costurado e instalado, o que também deu bastante trabalho, demoraram alguns meses. Mas agora a tela foi colocada e está protegendo todos eles, tanto que nós funcionários, que ficamos aqui fora, já sentimos um aumento no número de mosquitos”, relata a coordenadora do projeto, professora Zelinda Hirano.

Hoje, como forma de precaução, a morte de todos os bugios é comunicada à Vigilância Epidemiológica da cidade onde o óbito foi registrado. Em seguida, o material biológico é coletado e encaminhado ao laboratório da Fiocruz, em Curitiba (PR), onde é feito o exame para confirmar se o primata tinha ou não febre amarela.

“Muitas pessoas ainda pensam que os bugios transmitem o vírus, quando na verdade eles são apenas vítimas, até mais do que os humanos. Enquanto 20% das pessoas infectadas adoecem, para os macacos não há exceção. Todos acabam adoecendo e a maioria não resiste”, desabafa Souza.

Alerta é para todos

No dia 4 desse mês a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive), vinculada à Superintendência de Vigilância em Saúde (SUV), da Secretaria de Estado da Saúde, confirmou a primeira morte de um macaco por febre amarela no estado.

No fim do mês de março a Dive/SC anunciou a primeira morte de um humano devido à febre amarela. O último registro de um óbito em decorrência do vírus havia acontecido em 1966.

Em todo o estado a Campanha de Vacinação contra a Febre Amarela foi intensificada e ali, para quem trabalha no projeto, estar vacinado é uma obrigação.

“É um local de risco e todos sabemos disso, então não é permitido que alguém trabalhe aqui sem estar vacinado. Desde setembro do ano passado havia uma previsão que a febre amarela iria se intensificar. Agora aguardamos a chegada do frio já que, na teoria, durante o inverno a incidência de mosquitos cai consideravelmente”, comenta Zelinda.

Projeto Bugio monitora áreas de Indaial e Blumenau para vigilância da febre amarela

No último sábado, dia 6, a equipe do Projeto Bugio, com apoio do Setor de Vigilância Epidemiológica, realizou uma busca ativa por primatas não humanos e mosquitos para a vigilância de febre amarela no Encano, Polaquia e Morro Geisler, em Indaial, além do Morro do Macaco e Morro do Ristow, em Blumenau.

A equipe foi composta por três professores e cinco técnicos da Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb), os médicos veterinários Julio César de Souza Jr., José Eduardo Oliveira Gneiding e Amanda Rezende Peruchi, a biomédica Zelinda Maria Braga Hirano, os biólogos Gustavo Henrique Pereira Gonçalves, Pâmela Schwabe Schmidt e Aline Naíssa Dada e o estudante de Ciências Biológicas Danrley Godoi, e o técnico de Enfermagem da Vigilância Epidemiológica de Indaial, João Ronaldo Duarte dos Santos.

Durante a busca foi possível ouvir localização de grupos de bugios e de saguis, não foi encontrado nenhum primata morto e foram coletados mosquitos para a pesquisa do vírus. A equipe também conversou com moradores locais para coleta de informação e conscientização sobre a vacinação e a relação da febre amarela com os primatas.

Comunique a Vigilância

A preservação e o monitoramento dos primatas são vitais para a vigilância da febre amarela. Por serem mais sensíveis aos efeitos da doença, eles permitem que a evolução do vírus seja acompanhada antes de afetar seres humanos. Dessa forma, eles funcionam como sentinelas para os órgãos de saúde pública. Caso um primata morto ou doente seja encontrado, a recomendação é avisar a Vigilância Epidemiológica (3317-2100) ou entrar em contato com o Projeto Bugio (3333-3878).