Estiagem causa prejuízos para lavouras catarinenses

26/09/2017 - 14:04 hs
Foto: Patrick Rodrigues / Agencia RBS

Sem chuvas regulares desde o dia 23 de agosto, Santa Catarina começa a sentir os efeitos da estiagem. Um dos setores mais afetados é o agronegócio, que já contabiliza os prejuízos devido à falta de chuvas. O Meio Oeste catarinense, por exemplo, um dos celeiros do estado, registrou apenas 10% da chuva esperada para o mês de setembro.

Nesta sexta-feira (22), o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) e o Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epágri/Ciram) divulgaram uma análise detalhada dos impactos da estiagem no estado. O documento traz informações sobre o monitoramento dos rios, previsão do tempo e condições da safra.

Para o agronegócio os principais impactos são nas lavouras de trigo, que podem ter uma colheita 30% menor do que na safra passada. A produção catarinense do cereal está estimada em 163,4 mil toneladas na safra 2017/18, contra 229 mil toneladas colhidas na safra 2016/17.

Os produtores de milho, hortaliças e leite também sentem os efeitos da falta de chuvas.

Acompanhamento de safras

Oeste Catarinense

São esperadas perdas nas lavouras de trigo, principalmente pela redução na produção e produtividade. Em todo o estado mais de 40% da área plantada de trigo está em fase de florescimento, e as regiões mais adiantas são Chapecó, Concórdia e Xanxerê.

Os produtores de milho acabaram atrasando o plantio, que normalmente é feito na segunda quinzena de setembro, e uma parte significativa as lavouras da região ainda não foram cultivadas – em torno de 20%.  Esse atraso no plantio pode ter reflexos também na próxima safrinha.

A produção de hortaliças necessita de irrigação para o cultivo comercial e a falta de chuvas causa preocupação pela redução no volume em pequenos açudes, riachos e ribeirões.

A bovinocultura leiteira sente menos os impactos da estiagem, com uma produção maior do que a do ano passado, porém sofre com o aumento nos custos de produção. Já que os produtores acabam usando silagem e ração, em substituição ao pasto, na alimentação dos animais.

São Miguel do Oeste

A região de São Miguel do Oeste, de modo geral, não apresenta problemas de falta d’água, pois nesse mês choveu cerca de 40 mm na estação de São Miguel do Oeste e as estações próximas ao rio Uruguai também registram precipitações semelhantes.

A exceção se dá na região próxima ao Paraná, onde as chuvas já foram menores e começam a comprometer o plantio da safra de verão, a produção de pastagens e conseqüentemente a produção de leite e de carne bovina. A produção de leite nos municípios da região, que estão mais próximos ao Paraná, deve ter queda de aproximadamente 15% em algumas propriedades e/ou aumento dos custos de produção em função do aumento da suplementação com alimentos preparados como feno, silagem e ração. Nesses municípios também pode haver um comprometimento da produtividade do trigo e da aveia.

Norte Catarinense

Os produtores da região tiveram que interromper ou até adiar a semeadura de trigo até a volta das chuvas, o que provocou certo atraso no plantio. Na região de Canoinhas, 70% do trigo plantado está em fase de floração e, se as chuvas não retornarem até o enchimento do grão, haverá perda significativa da produção.

A falta de chuvas atrasa o plantio de milho na região. O que pode comprometer a safrinha de soja no próximo ano.

Assim como em outras regiões, a produção de leite segue normalmente apenas com aumento nos custos devido ao uso de silagem e ração na alimentação animal.

Vale do Itajaí

A Região representa aproximadamente 50% da área plantada de cebola do estado, com mais de 10 mil hectares plantados. Os produtores estão irrigando as lavouras em função da falta de chuva e isso aumenta os custos de produção. A grande preocupação é com a disponibilidade de água na região, pois os reservatórios estão perdendo capacidade de garantir a demanda necessária.

Até o momento 85% das áreas de fumo já estão plantadas. E as lavouras plantadas mais cedo começam a florescer precocemente em função da estiagem. Os técnicos e produtores se preocupam também com as mudas que estão nos canteiros, que podem passar do tempo para serem transplantadas. Como a cultura do tabaco é resistente, as expectativas são de que a chuva recupere as lavouras.

A produção de arroz segue com normalidade, já que a maioria das áreas está em fase de preparo de solo. No Alto Vale do Itajaí apenas 10% das áreas destinadas ao plantio de arroz já foram cultivadas.

A região tem 30% das lavouras de milho já plantadas e muitos produtores estão inseguros para ampliar a área cultivada – o que pode reduzir ainda mais a próxima safra.

Região Serrana

A cultura mais afetada na região é o alho, que está em fase de diferenciação do bulbo. As lavouras estão sendo irrigadas e a preocupação maior é com o nível de água nos reservatórios.

Sul Catarinense

O arroz irrigado tem seu período de plantio preferencial nos meses de setembro e outubro, até o momento não há problemas com restrição hídrica. No entanto, se a estiagem persistir, algumas regiões podem apresentar problemas no abastecimento de água. Na região, aproximadamente 18% da área já está sendo cultivada; nessa mesma época na safra passada o plantio já passava dos 40% da área cultivada.

A fruticultura também sente os reflexos da falta de chuvas. Nos bananais as altas temperaturas e o déficit hídrico afetam o tamanho dos cachos com redução na produtividade média em algumas localidades da microrregião de Criciúma, com efeitos na oferta e qualidade da fruta comercializada nos próximos meses.

A produção leiteira da região também busca ração e silagem para alimentação dos animais, o que reflete nos custos de produção.

Meio Oeste Catarinense

A safra de trigo está comprometida com redução de até 60% no volume estimado inicialmente. Isso se deve, sobretudo, a estiagem, porém outros problemas climáticos desde o plantio interferem na qualidade da safra. Muitos produtores sequer conseguiram fazer os tratos culturais necessários como adubação nitrogenada.

Culturas como feijão e soja ainda não foram impactadas, pois o plantio inicia em 10 de outubro.

Para produção de milho, a recomendação é que o plantio seja feito a partir de 10 de setembro e muitos produtores temem não conseguir uma segunda safra nessas áreas.

As parreiras, pereiras, pessegueiros e ameixeiras da região, devido à baixa umidade estão apresentando brotação desuniforme com reflexos posteriores na floração. Com a falta de chuvas e altas temperaturas a polinização das macieiras em floração pode ser comprometida, refletindo na redução da produtividade.

Cenário atual

A situação de estiagem em algumas regiões de Santa Catarina é decorrente do baixo índice de pluviométrico em setembro de 2017. A região do Litoral Sul foi a que mais teve chuva no estado, cerca de 31,8mm na média, seguida da região do Extremo Oeste com 29,6 mm. A região que menos choveu em setembro foi o Meio Oeste de Santa Catarina, com uma média de 1mm, seguida da região Florianópolis Litorânea com 1,3mm. A média histórica em Santa Catarina varia entre 159 a 251mm, portanto em algumas regiões não choveu nem 10% dos valores médios históricos.

Situação dos Rios           

De acordo com o monitoramento dos níveis dos rios em Santa Catarina, existem 22 estações hidrológicas na qual o regime hídrico se apresenta abaixo da normalidade. Os municípios mais atingidos na condição de alerta e emergência são Forquilhinha, Bocaina do Sul, Otacílio Costa, Canoinhas, Palhoça, Chapadão do Lageado, José Boiteux, Salete, Taió, Timbó, São João Batista, São Martinho, Orleans, Tubarão, Passos Maia, Joaçaba, Rio das Antas, Tangará, Concórdia, Camboriú e Rio Negrinho.