Uma profissão mágica

Doutor Marcelo Sônego fala sobre o Dia do Médico e relata histórias da vida profissional e pessoal

Por Aline Christina Brehmer 27/10/2017 - 10:49 hs

Na sala de espera, dois pais preocupados junto de sua filha, que não deve ter mais do que cinco anos de idade. Quando eu chego, demoram cerca de cinco minutos para que eles sejam atendidos pelo médico e cirurgião geral, doutor Marcelo Sônego.

A família é recepcionada e entra na sala de consulta. De lá, não se ouve nenhum som. Passado algum tempo, vejo quando os pais saem da sala – já com uma expressão mais aliviada – e a menina, ainda tímida, mas visivelmente saudável, fica junto deles.

Se despedem e a família segue seu caminho de volta para casa. No ramo da medicina, cada paciente tem sua particularidade e o tratamento dado à um nunca é o mesmo que será destinado ao próximo da fila – e é justamente esse um dos grandes desafios citados pelo doutor Marcelo, de 50 anos, que está em Timbó há 22 anos.

Timbó

Nesta semana, no dia 18 de outubro, foi comemorado o Dia do Médico, uma profissão, nas palavras do entrevistado, “muito gratificante e especial”. Doutor Marcelo de formou em aos 28 anos de idade e chegou a trabalhar em cidades grandes, mas, por destino ou desejo, chegou a Timbó e não deixa de ressaltar o grande diferencial do município.

“Hoje em dia não se vê mais muito o conhecido ‘médico de família’. Mas por muito tempo fui e, em alguns casos, ainda sou. Em uma cidade pequena, como aqui, é outra realidade.

Todo mundo se conhece e cumprimenta, se encontra no mercado ou caminhando na rua. O principal a se destacar nesse sentido é que as pessoas reconhecem de uma forma peculiar a atuação e importância da medicina. É algo gratificante”, garante.

Dificuldade e superação

Sônego diz que há mais de 20 anos escolheu que iria cursas medicina, e, após duas décadas, não se imagina atuando em nenhuma outra área.

“Fiz 20 anos de serviço social e trabalhei de plantão em muitas cidades. Tudo era muito diferente na verdade. Mas nunca tive dúvida do que queria fazer e imagino que nunca irei me aposentar”, comenta.

No início deste ano, devido a questões pessoais, o cirurgião passou por momentos delicados, que o fizeram refletir sobre seus hábitos e estilo de vida. Ele retomou suas atividades há alguns meses, mas com um novo olhar.

“Sempre gostei muito de praticar exercício. Adoro pedalar, já participei de concursos de remo. Ficar com minha família é uma das prioridades. Gosto muito de ir para o sítio também, aprecio os momentos de lazer e busco levar uma vida tranquila e regada”, reflete Sônego.

Momentos que marcaram

Ele relembra um acontecimento, dentre milhares, que foi marcante em sua vida profissional. Um deles foi quando auxiliou em uma cirurgia. “A menina tinha 16 anos e sofreu um trauma na perna. Um ortopedista veio para fazer a operação e estava há umas duas horas já na cirurgia.

Entretanto, ela, a paciente, disse que estava ruim e, por volta das 2h da manhã, me chamaram. Fizemos um exame e vimos que ela tinha sangue na barriga também, isso porque havia uma lesão grande no fígado que detectamos.

Nós fizemos a cirurgia e ela estava bem. O problema é que não havia sangue para repor todo o que ela perdeu. Até havia, mas vinha de Blumenau e demorava até chegar, isso sem mencionar que antes é preciso fazer o teste de compatibilidade.

No fim, o sangue não chegou a tempo. Nós a ressuscitamos, mas, infelizmente, ela veio a óbito”, relata o cirurgião.

Um pouco médico, um pouco psicólogo

Frente a essa história, Sônego frisa que os momentos que mais o marcaram na vida profissional foram situações assim. “Eu estava impotente naquele dia e não consegui resolver, não havia o que fazer sem o sangue. O médico é treinado para resolver tudo e ter que dizer ‘não consigo’ é algo muito ruim, muito difícil”, relembra.

Por outro lado, ele garante que momentos assim são compensados por outros – os de alegria, quando se vê um paciente bem após a cirurgia, por exemplo. “Encontrar alguém na rua e ver que aquela pessoa que passou por uma cirurgia e por momentos difíceis está bem, não tem preço. E, se parar para pensar, todo dia tem algo assim, que nos incentiva e motiva.

Tem alguém que entra aqui na sala com algum problema e, pode até ser que nem tudo seja resolvido na hora, mas a pessoa sai daqui mais leve e menos preocupada. Volta a viver de novo. Em diversas situações, o que ela precisava era um momento de atenção. Cada paciente tem seu tempo de atendimento, isso vai da necessidade de cada um. O médico é um pouco psicólogo também”, explica.

Cuidado com o doutor Google

Questionado sobre as mudanças que a tecnologia trouxe para a área da medicina, o profissional reforça a importância de se manter sempre atualizado e bem informado – mas alerta para cuidados com o famoso ‘doutor Google’.

“Tem que saber selecionar, filtrar o que é informação de confiança ou não. Muitos pacientes se assustam com o que leem, mas não dá para acreditar em tudo e sempre explico isso a eles”, aconselha.

“Faça por amor, faça por você”

Para o Dia do Médico, o cirurgião deixa uma mensagem importante – e que deve ser absorvida e analisada não somente pelos médicos, mas por todos os profissionais, sejam esses da área da saúde ou não.

“Sempre considerei a medicina não uma profissão, mas uma aptidão, vocação, um dom. A medicina para mim é uma inspiração que tem uma luz divina. Ela exige da gente ao máximo, tanto em dedicação quanto em tempo.

Quando se é médico, você é do paciente e trabalha 24 horas. Muitas vezes estava em viagem com minha família e voltei porque o paciente precisava de mim.

Ainda assim, sem dúvida estimulo a quem queira atuar na área porque é muito gratificante, uma profissão mágica. Você treina e se dedica ao máximo, mas o retorno é incrível – e isso em toda profissão, o que faz a diferença é sempre a dedicação.

Não espere retorno financeiro ou reconhecimento imediato. Se você fizer o que escolheu com amor, a resposta será melhor que o esperado”.