Mais de 5 mil faltas (e os pacientes na espera)

Em Indaial, segundo a secretaria de Saúde, mais de 5 mil consultas não foram realizadas pelo SUS neste ano. O motivo? Pacientes que faltam sem justificar a ausência.

Por Aline Christina Brehmer 04/11/2017 - 11:09 hs

Mais de 5 mil faltas (e os pacientes na espera)
Adriane Machado Ferrari, secretária de Saúde de Indaial

O último município da série de reportagens que abrange a questão das filas de espera do Sistema Único de Saúde (SUS) é Indaial e, nestas páginas, a secretária de Saúde da cidade, Adriane Machado Ferrari, faz uma avaliação sobre a situação – já de início explicando que o problema do não comparecimento às consultas agendadas ocorre há muito tempo.

“Atualmente, nosso índice geral é de 4,77% de faltas injustificadas, o que significa dizer que mais de 5 mil vagas de consultas não foram utilizadas no período de janeiro a setembro de 2017”, alerta.

Mudança nos agendamentos

Para combater esse problema, o município de Indaial tem tentado alternativas, como a mudança na forma de agendamento, que deixou de ser em um único horário e passou e ser em horários individualizados.

Segundo Adriane, sendo assim, a vaga deixada por uma falta injustificada não pode ser ocupada por outro paciente. “Não temos tempo hábil para isso. Essa mudança diminuiu o tempo de espera para o atendimento e possibilitou a melhor organização das agendas médicas.

Mas há um único ponto negativo: não é possível aproveitar as vagas deixadas pelos pacientes faltosos”, comenta a secretária.

“Por isso é necessário comprometimento”

Adriane diz que os agendamentos são feitos em intervalos que variam de dez a 30 minutos por paciente, conforme a solicitação médica. Sendo assim, quando um paciente falta, a enfermagem aguarda sua chegada durante todo o tempo no qual o mesmo teria atendimento.

“Não sabemos se o paciente virá ou se está apenas atrasado. Quando esse tempo de atendimento chega ao fim, é hora de chamar o próximo da fila. Por isso, mesmo tendo o profissional disponível para atender, ocioso dentro do consultório, não podemos utilizar a vaga”, explica.

Adriane reforça que devido a questões assim e os problemas que elas geram se torna tão importante que a população se comprometa, para assim possibilitar um bom funcionamento no serviço público.

“Comunicar com antecedência, mesmo que seja apenas algumas horas do horário marcado, já ajuda”, destaca a secretária.

Estratégias contra as faltas

Há ainda outras estratégias de combate ao absenteísmo (ausências no processo de trabalho, dever ou obrigação, seja por falta ou atraso, devido a algum motivo interveniente) injustificado, mas Adriane diz que o fato é que nenhuma foi capaz de reduzir significativamente os números e dados citados no início desta reportagem.

E é por esse motivo que, segundo Adriane, “a conscientização da população é a melhor e mais eficiente alternativa para otimizar os recursos públicos e poder aproveitar 100% das vagas de consultar que temos disponíveis”, analisa.

Central de Ligações

Além disso, também foi implantada a Central de Ligações, setor que tem como principal objetivo garantir que todos os usuários saibam de seu agendamento. Para que isso aconteça, com antecedência de 48 horas todos os pacientes são informados de suas consultas, a fim de que garantam ou não a presença.

“Caso o paciente informe que não poderá comparecer, já é feito o cancelamento, disponibilizando assim a vaga para outro paciente que aguarda na fila de espera”, explica Adriane.

Hoje, o principal motivo alegado pelos pacientes que faltam é esquecimento, impossibilidade de sair do trabalho, falta de transporte no momento da consulta, melhora no quadro clínico, entre outros.

E sobre as cirurgias?

No que diz respeito às cirurgias, a secretária explica que os cancelamentos se dão por diferentes motivos, como preparo inadequado do paciente, jejum menor que o recomendado pelo médico e casos eventuais de exames que não ficaram prontos ou não foram realizados a tempo do procedimento.

“As faltas, nos casos cirúrgicos, geralmente são justificadas e comunicadas com antecedência ao setor de Autorização de Internação Hospitalar (AIH) que procede com alteração no agendamento”, complementa a Adriane.

Ela diz que, atualmente, a maior fila de espera cirúrgica em Indaial é na especialidade de ortopedia, mais especificamente aquela que trata patologias de ombro, sendo a tendinopatia do manguito rotador (dor no ombro) a mais frequente.

Médicos também faltam?

Questionada sobre o motivo pelo qual ocorrem essas ausências injustificadas, Adriane diz que é difícil opinar, mas, segundo ela, o fato de a grande maioria dos pacientes desconhecer o transtorno e prejuízo causados pelo não comparecimento injustificado a uma consulta agendada não deixa de ser um fator.

“Outra situação que contribui para o aumento do absenteísmo são os casos de cancelamento de agenda por parte dos profissionais”, analisa a secretária. Ela diz que, assim como todos nós, os médicos também enfrentam problemas pessoais e de saúde.

“Procuramos conscientizá-los (médicos) da importância de comunicar sua ausência antecipadamente, mas, eventualmente, isso não é possível, o que nos leva a realizar o cancelamento da consulta e reagendá-la”, explica.

“Compreendemos o transtorno que essa situação causa na rotina do paciente, especialmente quando o mesmo já esperou um longo período por sua consulta, mas, infelizmente, temos que gerenciar esses inconvenientes e buscar soluções que amenizem o prejuízo, como horários alternativos de atendimento e horas extras de trabalho para evitar que a população fique sem o atendimento”, explica Adriane.