Pesquisadores conseguem bloquear ação do zika em camundongos
Estudo é da USP, com universidades de Harvard e Buenos Aires
Estudo é da USP, com universidades de Harvard e Buenos Aires
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em parceria com cientistas das universidades de Harvard e de Buenos Aires, conseguiram desvendar e bloquear a ação do vírus zika em camundongos, evitando a microcefalia em seus fetos.
O
trabalho, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp), foi publicado na revista Nature Neuroscience.
Em 2016, pesquisadores do mesmo ICB-USP e da Plataforma
Pasteur-USP, liderados pelo professor Jean Pierre Schatzmann Peron, conseguiram
comprovar, a partir do estudo em camundongos, que o zika era o causador da
microcefalia e defeitos congênitos em fetos de fêmeas contaminadas com o vírus.
Agora, uma nova pesquisa da mesma equipe desvendou os
mecanismos usados pelo zika para driblar o sistema de defesa imunológica dos
camundongos – que possibilitam que o vírus atravesse a placenta, aloje-se no
cérebro dos fetos e se multiplique desenfreadamente em seus neurônios, causando
microcefalia.
Segundo o estudo, o zika age estimulando uma proteína, o
receptor aril hidrocarboneto, ou AHR. Uma vez ativado, o AHR limita a defesa
imunológica do organismo, coibindo a produção de interferon tipo 1 – de enorme
importância na imunidade antiviral inata de camundongos e humanos – e a
proteína PML, que inibe a replicação do vírus.
“O trabalho tem duas grandes mensagens, uma de que o vírus
usa essa molécula chamada AHR para suprimir a resposta imune. Então, ele se dá
bem porque inibindo isso, lógico, ele consegue se replicar. E o segundo, é de
que o AHR se torna um braço terapêutico”, disse o professor Jean Pierre
Schatzmann Peron.
A partir da descoberta, os pesquisadores passaram a testar
nos camundongos uma droga que inibe a ação da proteína AHR. A substância já
estava sendo testada em humanos, mas com outra finalidade.
“Descobrimos uma droga que ainda se encontra em estágio de
desenvolvimento, mas que foi capaz de inibir a ativação do AHR induzida pelo
Zika”, ressaltou Peron. Os pesquisadores administraram a droga em fêmeas
prenhes de camundongos infectados com zika e puderam perceber a melhora nas
lesões por todo o corpo. No caso dos neurônios no cérebro, o remédio bloqueou
em 100% a ação do vírus.
“Os fetos tratados com a droga voltaram a nascer com peso normal.
O comprimento total dos animais também melhorou. Na placenta e no cérebro,
pudemos observar que a remissão do vírus foi total,” disse o pesquisador.
De acordo com o cientista, agora que a droga experimental
mostrou resultados excelentes nos camundongos, o próximo passo seria algum
laboratório se interessar em fazer a mesma pesquisa com macacos, que é um
estágio preliminar obrigatório antes do início dos testes clínicos em humanos.
“O que precisa agora é comprovar em outras espécies, como em
macacos, por exemplo, que a droga é eficaz e o fenômeno se reproduz. E depois
repetir isso para o ser humano. Mas, primeiro, como se trata de estudo em
grávidas, precisamos saber se a droga é tóxica ou não na gravidez”, ponderou.
De acordo com o Ministério da Saúde, o vírus zika é um
arbovírus, transmitido por picadas de insetos, especialmente mosquitos. A
doença causada pelo zika apresenta risco superior a outras arboviroses, como
dengue, febre amarela e chikungunya. Uma das principais complicações é a
microcefalia em fetos. A doença começa com manchas vermelhas em todo o corpo da
mãe, olho vermelho, pode causar febre baixa, dores pelo corpo e nas juntas,
também de pequena intensidade.
No caso de o feto ser infectado durante a gestação, pode desenvolver lesões cerebrais irreversíveis e ter comprometida, definitivamente, toda a sua estrutura em formação. O comprometimento nesses casos é tão importante que algumas crianças, ao nascer, têm uma deformação dos ossos da cabeça, sinal do não crescimento adequado do cérebro.
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