Catarinense vai para o Guinness por trabalhar 80 anos na mesma empresa

09/01/2018 - 10:04 hs
Foto: Estela Benetti

No dia 17 deste mês o catarinense Walter Orthmann, 95 anos, entra para a história mundial como o trabalhador que atua há mais tempo na mesma empresa. Ele completará 80 anos na RenauxView, indústria de tecidos para moda de Brusque, Santa Catarina. Por isso entrará para o livro dos recordes, o Guinness Book. Ele já é o empregado mais longevo do Brasil há 10 anos, quando completou 70 anos de casa. Seu primeiro salário na carteira assinada em 17 de janeiro de 1938 era de 200 mil réis. Nessas oito décadas, viu mais sete moedas, 18 zeros cortados em função da inflação, várias crises econômicas e transformações tecnológicas. Hoje gestor de vendas, quando questionado sobre a razão de manter o emprego por tanto tempo, ele diz: “o trabalho é a minha vida”. Seu Walter é uma celebridade, tem contrato até 2021 podendo ser renovado e o seu recorde será comemorado com duas festas pela empresa.

Como o senhor se sente trabalhando aos 95 anos?  Eu me sinto feliz. O trabalho é a minha vida. É muito gostoso trabalhar.

Se tivesse que ficar em casa, aposentado? Eu não aguento ficar em casa. A minha vida foi trabalho e o trabalho me faz bem. Tenho saúde com o trabalho.

O que o senhor tem a dizer sobre quem não gosta de trabalhar? Quem não gosta de trabalhar é doente. Não sabe o que fazer. Trabalhar é saúde, trabalhar é vida. Nascemos para trabalhar.

Para que região o senhor vende produtos atualmente? Agora fico na sede da empresa, em Brusque. Atendo clientes aí.

Quando era vendedor externo, o senhor viajou muito pelo Brasil? Trabalhei por mais de 60 anos viajando. Primeiro, o Brasil todo. Depois, somente para o Nordeste.

Como o senhor está vendo os empregos do futuro? Quanto mais moderna a empresa, menos empregos tem. Então, temos que inventar mais empresas. Em Brusque, por exemplo, temos a Havan que já emprega 13 mil pessoas. O Luciano Hang (dono da Havan) é meu amigo. É preciso abrir novos empregos. Mas hoje está difícil conseguir trabalhador. Você precisa de um empregado e não encontra. Ninguém mais quer trabalhar e está caro contratar. As coisas mudaram. A minha faxineira, por exemplo, vem de carro e a mulher que passa roupas lá em casa também. No meu tempo, fui a pé trabalhar durante três anos. Hoje, as pessoas não andam um quilômetro para ir à escola. Na minha vida, sempre fui na escola descalço. Mesmo no meio da geada. Só aos 14 anos, quando fiz a primeira-comunhão, ganhei o primeiro sapato. Tudo era difícil. Aos 13 anos, meu pai queria me tirar da escola para trabalhar na fábrica. Aí a professora pediu para ele deixar eu estudar mais um ano para melhorar no estudo. Era só em alemão. Para pagar os 7 mil réis da escola, eu tinha que trabalhar na casa do professor à tarde.

O senhor usou bastante bicicleta também? Muito! Eu trabalhava no escritório e tinha que buscar o Correio de bicicleta. Aí fui subindo na empresa, fui para o setor de faturamento e depois, de vendas. Fui o primeiro do Brasil a viajar para conhecer clientes. Em 1975 não tinha avião. Eu ia de ônibus. Ai depois, quando ampliaram a oferta de aviões, comecei a viajar até o Norte e o Nordeste do Brasil. Eu conheço todas as capitais, de Porto Alegre a Manaus. Acho que a volta do uso de bicicleta é saudável. Hoje as pessoas ficam muito tempo no computador na empresa e em casa. Isso faz mal. Eu tenho tablet, mas uso só na fábrica. Saio de lá, acabou! Não atendo mais ninguém. Uso só para os serviços da empresa. Tudo o que eu preciso para vendas está lá dentro. Não consigo atender todos que me ligam. Sou conhecido no Brasil todo.

O que gosta de fazer quando está de folga? Gosto muito de esporte. De ver notícias sobre esporte. Quando jovem eu jogava basquetebol, voleibol, fazia ginástica em aparelhos, jogava boliche, bolão. Hoje eu assisto mais esporte. Mas todo dia eu faço, sozinho, 40 minutos de exercícios. Sou bem disciplinado.

Que outros conselhos o senhor dá sobre a vida e cuidados com a saúde? O principal é saber viver. Não ficar zangado por qualquer coisa, estar sempre alegre e tomar bastante água. É preciso tomar dois litros por dia. Um carro sem gasolina não vai. O corpo é a mesma coisa. Sem água não funciona. Sou muito cuidadoso com minha saúde. Não tomo refrigerante nenhum há mais de 30 anos. Não tomo café, prefiro chá de camomila. Ao meio dia e à noite, tomo água sem gás ou uma taça de vinho tinto seco. No caso de frutas, opto por aquelas que não me causam problemas. Tenho potássio alto, por isso não posso comer certas frutas.

Gosta de ler? O que costuma ler? Eu estudei até a sétima série, mas sempre gostei de ler. Leio a bíblia todas as noites. Sou evangélico Luterano.

Estela Benetti