“A família antes de tudo”, Lorivald Beyer

Por Aline Christina Brehmer 12/01/2018 - 11:13 hs
Foto: Aline Christina Brehmer
“A família antes de tudo”, Lorivald Beyer
Selli Beyer, Lorivald Beyer, Luciane Beyer, Benício Floriani e Marlei Adriana Beyer Floriani

Assim que chega em sua casa, pouco depois das 17h de uma quarta-feira, seu Lorivald dá oi às pessoas que estão na sala (sua família e eu), mas, quem realmente lhe faz a recepção é o pequeno neto, que a família chama carinhosamente de ‘Bê’.

Ele chega para abraçar o avô e não está sozinho: os fiéis companheiros e amigos de quatro patas, Black e Obama, também recebem com pulos e animação seu dono. Não é preciso conhecer Lorivald para saber que, naquele exato momento, os sentimentos que o define são felicidade e gratidão.

“Após tantos anos trabalhando e com experiência em diversas áreas, há algo que nunca mudou: a prioridade sempre será a família. Cada um seguiu seu caminho e tem suas funções, mas sempre encontramos um tempo para ficarmos juntos”, garante.

Muito além da camisa social

Senhor Lorivald Beyer é um homem que, no auge dos seus 63 anos, acumula diversas histórias de sucesso em seu currículo – principalmente quando relacionado à Ceesam, cooperativa com sede em Santa Maria e da qual hoje é presidente.

Mas, além desse lado mais sério, voltado ao trabalho e com uma coleção de camisas sociais, seu Beyer revela detalhes de outras funções que assume com dedicação e amor: a de pai, filho, irmão, marido e avô.

Unidos há mais de quatro décadas

Sua companheira há 43 anos, Selli Doege Beyer, de 63 anos, diz que os dias para a família são agitados, começando cedo o expediente e, muitas vezes, sem ter hora para acabar. Mas, desde quando se casaram, aos 24 anos, isso nunca foi um problema ou empecilho.

“Eu hoje sou responsável pela nossa empresa, Artesanato Beyer, que produz inúmeros móveis e peças em madeira, verdadeiras obras de arte para todas as utilidades. Já Lorivald cuida da Ceesam, o que também foi uma grande mudança e desafio em sua vida”, comenta. Complementando as colocações de sua esposa, Beyer diz que começou a trabalhar já menino.

“Minha educação me transformou na pessoa que sou hoje, incluindo essa parte administrativa de negociador e empresário. Meu pai me ensinou muito, trabalhei na roça com minha família até os 19 anos e plantávamos de tudo.

Lembro que meu pai me deu um trecho de plantio de milho para cuidar e vender. Ele me ensinou a pesar, me guiou em todos os passos. Então, em 1973, começamos a tornear canetas”, explica o empresário.

Primeiros passos na Ceesam

Já a história de Beyer na Ceesam começou em 1983, quando foi convidado para participar do Conselho Fiscal da cooperativa. Logo em seguida virou vice-presidente e, em 2011, após o falecimento do ex-presidente, Beyer assumiu o cargo mais alto da cooperativa – no qual está até hoje.

“Assumir a Ceesam foi um desafio que veio repleto de surpresas e nem todas eram boas. Foi uma reviravolta em nossas vidas, mas demos conta do recado e conseguimos contornar a situação transformando a cooperativa na empresa de referência que é hoje”, agradece.

Isso porque, até então, Beyer comandava junto com sua mulher e filha mais nova, Luciane Semila Beyer, 34 anos, a empresa da família. “Sempre trabalhamos juntos e o que conseguimos foi assim, com união. Quando casamos não tínhamos casa própria, apenas um chão em Indaial, mas tornamos nossos sonhos realidade”, destaca Selli.

Bê: a alegria da casa

Mas nem tudo é trabalho na vida da família Beyer, principalmente após a chegada do Benício, o ‘Bê’, filho da primogênita Marlei Adriana Beyer Floriani, 36 anos, que, apesar de não morar mais na mesma casa dos pais, sempre está presente e auxilia Beyer na cooperativa.

O pequeno, que tem dois anos, é hoje o caçula e primeiro neto– e, ao que tudo indica, herdou algumas coisas do avô. “O Bê é metódico igual ao meu pai. Ele enfileira todos os brinquedos bem certinho, é detalhista”, comenta Marlei. Porém, seu pai é ainda mais perfeccionista.

“Outra curiosidade sobre meu pai é a forma como ele é observador. Ele analisa as coisas e consegue trazer ideias de diversos lugares para colocar em prática aqui”, complementa Luciane.

Nesse aspecto, o pai concorda com suas filhas. “Sempre deixo as coisas importantes anotadas, para não correr o risco de esquecer. Já agradeci muito a Deus e acredito que isso seja um dom, porque, por onde passo, observo cada detalhe.

Vejo ideias, anoto, modifico da forma que é necessária e, sempre que se torna viável, as coloco em prática”, explica Beyer.

Em cada canto, uma ideia nova

Traços dessas ideias já aparecem em sua casa, por exemplo. A mesma, localizada em Alto Benedito, possui uma espécie de torre na frente, remetendo ao formato de um castelo – até pelo material utilizado.

“Trouxe o modelo da nossa lá de Nova Petrópolis (RS), esse estilo ‘castelinho’. Na época, a engenheira e o pedreiro não sabiam como construir esse modelo, então fui atrás para descobrir de que forma se dava a construção e a colocamos em prática. Deu certo”, relembra.

Outro exemplo é a Academia de Ginástica ao Ar Livre, sendo que uma está localizada em Alto Benedito e outra em Santa Maria, no município de Benedito Novo.

“A praça vi em Itapema, em frente ao nosso apartamento. Estudei o custo e viabilidade de traze-la para cá, liguei para a empresa que a havia construído no litoral e, no fim, também deu certo, assim como a vinda do Sicoob aqui para cima”, analisa.

Mas, não é só em sua atual cidade: por onde passa, Beyer observa e deixa algumas modificações e lembranças. “Meu pai foi o único a perceber que faltavam duas árvores no calçadão da praia. Em frente ao nosso apartamento.

Então, ele comprou e plantou duas palmeiras. Um senhor, dono de um bar ali perto, se comprometeu a rega-las e hoje elas estão crescidas. Agora não falta nenhuma”, relembra Marlei.

Família em primeiro lugar

Quando se fala em rotina na casa da família, cada um possui o seu horário de acordar, almoçar e jantar. Mas, para garantir um tempo de qualidade e união, os Beyer se reúnem sempre que possível – como no fim do ano.

“Nós vamos à praia passar um tempo juntos. Também tenho um jeep e adoro fazer trilha, participo do Jeep Clube desde 2008”, destaca Beyer. Há ainda o sítio, que abriga um amplo terreno, carneiros e a casa onde Beyer nasceu.

“É um local no qual adoro ir e o Benício sempre quer vir junto comigo. Na verdade, ele quer vir junto comigo para qualquer lugar que eu vá. Nos fins de semana sempre gosto de fazer uma faxina ‘geral’ lá no sítio também, é uma forma que encontro para relaxar”, garante.

O que faz Beyer feliz?

São nos pequenos detalhes que a família convive e se entende. Durante a conversa com pai, mãe e filhas, descubro, por exemplo, que dá para perceber que o chefe da casa está animado quando ele começa a assobiar ou cantarolar.

“Se ele estiver com o sapatão sujo, quer dizer que ele foi uma pessoa muito feliz. Meu pai adora se meter na lama, no sentido de colocar a mão na massa”, comenta Luciane, que também traz lembranças muito vivas de sua infância.

“O pai sempre foi uma pessoa muito carinhosa. Ele viajava bastante uma vez, mas sempre antes de ir ele vinha no quarto e nos dava um beijo, era sagrado. Sempre fomos todos muito voltados à família, unidos e próximos”.

Picapes antigas: uma grande paixão

Outra grande paixão de Beyer são as picapes/caminhonetes antigas. Somente ali em sua casa ele tem quatro, mas, claro, sempre existe a preferida – e é essa que ele escolhe para irmos até o sítio e a uma das usinas da Ceesam.

No caminho, Black e Obama estão juntos no passeio, super comportados e felizes pegando um ar fresco na parte de trás da picape. O pequeno Bê não esconde que ama dirigir e passear com o avô para lá e para cá.

Até mesmo durante a visita, o netinho acaba ficando junto com os cachorros, que o protegem em todos os instantes, sempre atentos a cada passo ou corridinha – assim como o avô, que em nem um segundo desgruda os olhos do pequeno.

Cozinheira de mão cheia

Mas dona Selli também tem seus truques escondidos na manga, ou melhor, nas receitas. Cozinheira de mão cheia, não há algo que não saiba fazer, seja doce ou salgado – para a alegria da família, incluindo a mãe de Beyer, que tem 96 anos e mora com eles, ficando sob os cuidados da nora, bisneta e do filho.

Durante a conversa na cozinha, em meio a um delicioso café, o pequeno Bê, fã de tratores e guinchos, reaparece com brinquedos, risadas e diversas palavras soltas. “Vovô e vovó foram duas das primeiras palavras que ele disse. A chegada do nosso neto mudou completamente nossa vida para melhor”, garantem os avós corujas.

Ainda, é durante essa conversa, descontraída e com risadas, que descubro estar em frente a um casal dançarino e festeiro, que aproveita para prestigiar eventos em Timbó, Blumenau, assim como na sua própria cidade e em tantas outras. “É algo que amamos. Rever pessoas, reviver histórias, conhecer a cultura”, ressalta Selli.

Gratidão

Antes de ir embora, o senhor Beyer me leva até uma das salas da casa onde estão diversas fotografias, que contam a história da empresa de artesanato desde o início até os dias de hoje e todas as evoluções que ocorreram nesse período.

Também, Beyer me apresenta a história de um coqueiro que, há anos, está plantado no terreno da família. “É da época que fazia canetas, o material era dessa árvore. Por isso plantei ela e a tornei símbolo de minha história. Foi o que me fez crescer na vida, chegar onde estou hoje e por isso sou muito grato”, reflete.