Entre letras e traços, a história dos Floriani

Dona Cornélia Floriani e seu filho, Roberto, vivem juntos uma vida de criação, cores e melodia

Por Aline Christina Brehmer 19/01/2018 - 10:53 hs
Foto: Rafael David

Inspiração, criatividade e lucidez – três elementos que andam de mãos dadas, transformando ideias simples em grandes obras de arte que, por si só, transpassa décadas e milênios.

Através de textos e pinturas, está expressa e registrada uma história, um momento, uma lembrança. Mas, mais do que isso, está também eternizado um nome, e, nessa reportagem, ela se chama Cornélia Augusta Floriani.

Sua casa, localizada em Timbó, abriga centenas de quadros e pinturas (tanto em azulejos quanto porcelana), criadas por ela há mais de 70 anos.

“Comecei a pintar quando tinha 13 anos de idade e não penso em parar. Diversas casas em Timbó e até em outras cidades têm expostas em paredes, ou até mesmo pelo teto, criações minhas, seja com o pincel ou até com jato de areia”, relata a artista, hoje com 85 anos.

Obras expostas por toda a cidade

Dona Cornélia não sabe dizer ao certo quantos quadros fez no decorrer destes anos, nunca pensou em catalogar suas obras – mas todas elas estão marcadas com sua assinatura e a data de sua criação.

A inspiração para tantas maravilhas? Ela não sabe dizer ao certo, mas garante que o amor é o que guia suas mãos e desenha cada traço. “As ideias surgem. Quando começo um quadro ou uma pintura em porcelana, na grande maioria das vezes não tenho em mente o que pretendo desenhar ali.

Os traços vão surgindo e criando forma. Quando vejo, se tornaram alguém ou algo, como um arranjo ou uma paisagem. Todas as minhas criações são ideias originais tomando forma, mas também já realizei muitas pinturas baseadas em fotografias”, relembra.

A artista chegou a participar de exposições e compartilhar algumas de suas obras de arte durante eventos, mas as verdadeiras relíquias estão junto dela. Em todos os cantos da casa, há uma companhia: seja o quadro do Papa João Paulo II (minucioso nos mínimos detalhes; de John F. Kennedy, fiel à semelhança do ex-presidente americano, ou até mesmo de seu falecido marido, com olhos azuis que, mesmo em pintura, chamam a atenção de qualquer um.

Ideias que vêm do coração

Quando está em seu ateliê, a imaginação de dona Cornélia vai longe. Sempre em sintonia com o coração, ela garante que cada um dos milhares de trabalhos que realizou ao longo de sua vida sempre foi único.

“Ainda hoje faço pinturas, a maioria em peças de porcelana. Recebo muitos pedidos e encomendas. Minha família sempre teve artistas, como meu pai, que era fã número um da leitura. Ele declamava Dante Alighieri em italiano como ninguém.

Há o meu filho, Roberto, que já escreveu centenas de poesias e o faz até hoje. Podem passar gerações, sempre há um artista”, reflete a matriarca da família Floriani.

Há muitos anos, Cornélia veio com sua família para Timbó. Aqui, conheceu seu marido e com ele teve sete filhos. Hoje é viúva, tem 14 netos e cerca de 50 bisnetos.

“Passei por muitas coisas. Já tive câncer e fiquei internada 45 dias, mas me recuperei e estou firme e forte. Lembro de praticamente tudo da minha vida, tenho vários momentos guardados na memória”, garante.

Em sua carteira, há fotos que mostram Cornélia nova, com cabelos volumosos e comprido, abaixo da cintura, presos em duas longas tranças. Lembranças de um tempo que, para ela, ganham vida novamente em um piscar de olhos.

Roberto: o grande poeta

Junto com Cornélia moram dois filhos. Um deles, no dia em que cheguei em sua casa, estava viajando. O outro é Roberto Luiz Floriani, de 61 anos – poeta de mão cheia, coleciona centenas de poesias, contos e histórias.

Tudo começou muito cedo para ele também. Foi na quarta série do ensino fundamental que escreveu seu primeiro conto: O Desejo de Juca.

“A escrita é algo que flui naturalmente. Lembro de noites em que a inspiração para escrever chegou e só consegui ficar tranquilo depois que coloquei no papel tudo o que chegava com intensidade em meus pensamentos”, confidencia.

Inspiração, letras e números

Desde novo, Roberto diz que duas disciplinas, já na escola, sempre foram suas preferidas: matemática e português. “Cheguei a cursar engenharia, mas não terminei.

Durante muitos anos trabalhei no, hoje, Banco do Brasil. Escrevi recentemente um livro, intitulado ‘Mega Sena: um jogo de linhas e colunas’.

Mas, de tudo, a escrita sempre foi algo predominante em minha vida. Números e palavras, é isso o que me move. Elas ganham vida e melodia conforme as escrevo”, compartilha.

Hoje, Roberto coleciona mais de 600 poesias em seu acervo. Já escreveu sobre tudo: amor, tragédia, natureza, vida, morte. Mas, dentre todos os assuntos, política é algo que desperta seu interesse – e há vários artigos comprovando isso.

“Já pensei em juntar parte das poesias para lançar um livro, mas tudo envolve um custo. É algo que pretendo fazer um dia talvez, mas não agora. Não escrevo todos os dias, porque sou guiado pela minha inspiração.

Mas sempre que seguro uma caneta, sinto extravasar de mim diversos sentimentos e sensações. Quando você sente prazer em fazer algo e vai atrás, isso te induz a procurar, sentir, querer. É assim que me sinto em relação à poesia”, revela.