Movidos pelo amor

Dedicação e carinho são os combustíveis que tornam o transporte do Tio Ademir um sucesso entre as crianças

Por Aline Brehmer 20/02/2018 - 11:33 hs
Foto: Divulgação/Ademir Ramos
Movidos pelo amor
O trabalho de Ademir Ramos garante histórias inesquecíveis e emocionantes todos os dias

 

O trajeto feito para sair de casa e ir até a escola (e vice-versa) é algo comum à rotina dos estudantes. Acordar, levantar, se arrumar e ir para mais um dia de aula. Quem nunca passou por essa etapa, não é mesmo?

Entretanto, esses minutos percorridos no trânsito podem tornar o dia muito mais empolgante para diversas crianças e jovens, e é justamente essa a intenção do Tio Ademir, que trouxe uma nova proposta: uma van equipada e personalizada de forma lúdica – que faz a alegria da criançada.

Mas não é somente as atrações realizadas nesse transporte que fazem a diferença e sim o amor que tanto Ademir Ramos, 37 anos, quanto sua esposa Thayse P. Ramos, 31 anos, dedicam aos seus passageiros.

Boa relação com os pais

O querido e conhecido Tio Ademir não é apenas o motorista responsável por levar e buscar, mas sim um amigo para os quais as crianças contam segredos, com quem brincam e se divertem – alguém sempre disposto a ouvir e, da forma que for possível, fazer brotar um sorriso naquele rostinho que esteja triste.

Prova dessa relação de amizade é uma história que Ramos nos conta. “Lembro de um dia, no qual devem ter falado sobre profissões em sala de aula. E, naquela vez, um dos meus passageiros me perguntou com o que eu trabalhava. Acho que foi apenas neste momento que ele descobriu que, além de amigo, sou tio de transporte escolar”, relata entre risos.

Ramos também destaca a importância dos pais nesse processo, acerca da confiança depositada no casal. “Já houve situações nas quais eles pediram que magia eu havia feito, porque o filho, que nunca gostou de ir no transporte escolar, chegou em casa rindo e já com vontade de ir para a aula de novo depois que começou a vir com a gente. É gratificante ver isso, a alegria e a confiança que esses pequenos depositam em nós”, garante o tio.

Uma surpresa a cada dia

Para os passageiros desse transporte incomum, cada dia é uma surpresa. Thayse é analista de recursos humanos e não trabalha direto com Ramos na van, mas todos os projetos e ideias desenvolvidos para as crianças e os jovens são analisados por ela também.

Entre as atrações que criam, estão as festas de aniversário, dia do geladinho, dia do pirulito, cineminha, caixa amarela, dia do sorvete, dia do sorriso, dia da alegria, adivinhe se puder, estoura balão, outubro rosa ou novembro azul, aluno nota 10, entre tantas outras.

Ela relembra uma novidade que foi criada pelo casal recentemente: o piquenique. “O Ademir estava com saudade das crianças, afinal, ele passa a maior parte do tempo com elas e eu também participo em muitos casos, porque trabalho meio período, então a outra parte do dia posso me dedicar para ajudar no transporte.

E foi justamente essa saudade que ele sentia das crianças que nos trouxe a ideia do piquenique. Então escolhemos um dia, conversamos com os pais e os convidamos para participar, muitos deles inclusive nos auxiliaram. Agora, as crianças sempre esperam por esse dia, é bom até porque elas podem se reencontrar, caso de um ano para outro mudem de escola, têm a chance de manter esse convívio durante as férias”, diz.

Responsabilidade é fator chave

A responsabilidade é fator chave no dia-a-dia do casa, afinal, para lidar com as crianças e também com os jovens (visto que Ademir faz o transporte para a faculdade também) não é na sorte e sim com diversas técnicas.

“Sou pontual, busco seriedade no meu trabalho sim, apesar das brincadeiras e diversão, o cuidado e a dedicação não podem ficar de lado jamais. Antes de iniciar bem o dia eu já estou na rua, dirigindo e buscando meus passageiros. A primeira coisa que ouvem quando entram é um animado ‘bom dia’, carregado de amor.

Agradeço todos os dias a Deus pela oportunidade de tê-lo ao meu lado e entrego meus dias nas mãos dEle, que é nosso guia nesses trajetos diários. Meu lema é: ‘metade do meu trabalho é com amor e a outra metade é por amor’”, garante o Tio Ademir.

Amor às crianças e a Deus

Esse amor pelas crianças vem desde sempre na vida do casal. Thayse revela que Ademir sempre quis ser pai, mas, na época, ela teve dificuldade para engravidar.

“Algo que nos motiva, o que realmente nos faz ir adiante dia-a-dia é Deus. Nós não pregamos religião para as crianças, mas conversamos sobre como é importante ter fé. Nossos passos não somos nós quem planejamos. Todos seguimos o plano de Deus e Ele sempre sabe o que faz”, reflete a analista que, um dia antes de vir com o marido para a entrevista na redação do Café Impresso, comemorou com ele a notícia que de agora há um bebê a caminho.

“É uma prova de que precisamos aprender a esperar e compreender. As coisas acontecem na hora em que devem acontecer, não quando a gente quer. Estamos muito felizes com a descoberta”, agradece o casal.

Depoimentos

“O Ademir, assim como a Thayse, é muito atencioso com as crianças. Já é o quarto ano que meu filho está indo com ele para a escola e adora. Ele sabe como agradar as crianças, não esquece de nada, como as datas importantes. Nada do que ele faz é uma obrigação, ele é por si só uma pessoa de muito bom coração e as crianças veem isso, como nós, que somos os pais” (Janice Duwe)

“Desde o jardim meu filho vai com ele para a aula. Hoje ele está no terceiro ano e o que tenho a dizer é que o Ademir não é um motorista, é muito mais do que isso. Ele é alguém que dá carinho e atenção, cuida, dá segurança para os passageiros e também para nós, que somos pais. É um carinho realmente especial que ele sente pelo trabalho que realiza, isso se percebe na organização. Em dias de chuva, ele pega cada uma das crianças no colo com guarda-chuva para deixa-las na porta da escola ou busca-las até o transporte. Um paizão” (Cristiane Cristofolini)

“Existe uma situação que descreve muito a pessoa que o Ademir é. Meu filho uma vez tinha que levar bebidas para a escola, mas em algum momento, quando ele chegou, umas das garrafas de refrigerante furou e ele ficou só com uma. Ele chorou, ficou triste e o Ademir viu isso. Depois que ele deixou as crianças na escola, foi até no mercado mais próximo e comprou um refrigerante.

Ele esperou dar o intervalo da aula e entregou para o Miguel. Essa iniciativa é algo tão raro, ficamos emocionados com a atitude e muito gratos quando o Miguel e os professores nos contaram. O Ademir e a Thayse também são pessoas maravilhosas que se preocupam, buscam sempre algo novo, que realmente tratam as crianças como se fossem filhos deles. Só temos a agradecer” (Rúbia Purim e Claudinei Piske, pais do Miguel, que tem sete anos)