Reconstruindo histórias e lares

ONG Equilíbrio Vital e Grupo Patrulha do Bem se juntam ao prefeito Jorge Krüger na criação do Conselho do Bem-Estar Animal, em Timbó

Por Aline Brehmer 12/03/2018 - 10:08 hs
Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Reconstruindo histórias e lares
Fifi é uma das vidas que foram resgatadas e transformadas através do Projeto Patrulha do Bem

Abandonados em um terreno, do lado de fora de sua casa e sem saber o paradeiro de seu dono, passando dias sob um sol e calor intensos, ou ainda com chuva, sofrendo com pulgas e fome. Quatro cachorros da raça Chow-Chow compartilharam essa mesma história – e ela aconteceu em Timbó em 2016.

Eram duas cachorras adultas e dois filhotes, que só receberam ajuda depois que uma vizinha os viu lá e divulgou aquela situação, que se tornou então de conhecimento público. Muitas pessoas, quando souberam, foram de imediato até o local e adotaram três dos animais.

Uma delas, porém, era arisca e não se deixava pegar, mesmo com todo o esforço de uma equipe com 19 pessoas, que ficou nos arredores para conhecer as rotas de fuga e ao mesmo tempo tentando encontrar uma forma de conseguir captura-la, isso ainda indo de encontro aos empecilhos, criados por pessoas que tinham como objetivo de dificultar a captura.

Com o fêmur quebrado e suspeita de estar prenha, a situação dela era delicada e ao mesmo tempo urgente, mas ainda assim a cachorrinha insistia em fugir – vestígios de um grande trauma.

A Polícia Militar (PM) e o Corpo de Bombeiros Militar (CBM) de Timbó se envolveram nesse objetivo. Graças a insistência do Grupo Patrulha do Bem, após cerca de três meses, enfim foi feita a captura da Chow-Chow, mas ainda não é aqui que termina sua história.

O envolvimento dos voluntários foi tanto que antes mesmo de conseguirem alcança-la já lhe deram um apelido: Ninja. Depois de resgatada, ela foi levada para receber todos os cuidados com o ferimento, além de um banho no pet-shop, com direito a xucas e enfeites e tosa, para ajudá-la a se livrar das pulgas.

Depois de tantos acontecimentos e reviravoltas, a Chow (como foi batizada por sua nova tutoria) recebeu um lar na casa de uma das voluntárias e protetora dos animais, que acompanhou todo esse processo e é integrante do grupo Patrulha do Bem.

“Ela é uma ótima guardiã, não deixa ninguém chegar perto de casa sem avisar. Já comigo ela é muito dócil. Não gosta muito de ficar em casa, prefere o ar livre, mas hoje é saudável e feliz”, garante a atual tutora de Chow.

Prefeito Jorge Krüger cria projeto em prol dos animais

O relato anterior abordou a história de quatro cães que, independente da raça, sofreram com abandono, considerado como uma das formas mais perversas de maus tratos. Felizmente eles foram adotados e suas vidas foram salvas. Por outro lado, a situação reforça o alerta acerca dos animais abandonados.

Como forma de auxiliar e garantir que haja maior atenção destinada a essa causa, o prefeito de Timbó, Jorge Krüger, criou o projeto de Lei Nº 7/2018, que institui o Conselho do Bem-Estar Animal em Timbó.

“O projeto foi apresentado nesta semana na Câmara de Vereadores e foi votado de forma positiva. Há ainda outro projeto que institui o valor que a municipalidade repassa à ONG Equilíbrio Vital, que tem como responsável o senhor Harry Penz. Nos últimos anos praticamente dobramos esse valor, dando maior assistência ao trabalho realizado pelos voluntários”, destaca.

O objetivo, segundo Krüger, é chamar a atenção das organizações, principalmente as mais próximas da causa, estreitando esses laços e, em conjunto, planejando ações que visem a diminuição de problemas envolvendo animais abandonados.

“A ideia inicial é que as agentes de saúde passem nas residências fazendo esse levantamento, para que possamos ter esse controle”, explica. Assim, informatizando esses dados, o prefeito diz que seria possível pensar em uma forma de estar auxiliando aqueles que se cadastrassem como lares temporários.

“Essa ajuda seria com a alimentação, veterinários, esses cuidados básicos e indispensáveis, até que esse animal encontrasse um lar definitivo e fosse adotado”, complementa.

Crueldade que assusta

Krüger fala também sobre o projeto de transformar a antiga Fundação Psicultura Integrada do Vale do Itajaí (Funpivi) em uma extensão da Furb.

“A própria instituição que teve essa iniciativa, mas ainda não tivemos uma resposta definitiva sobre isso. A ideia consiste em transformar o local em um espaço que servirá como suporte para alguns dos cursos, como medicina veterinária, indo de certa forma ao encontro do que pensamos no sentido de cuidado com esses animais”, esclarece.

Sobre a criação de um Centro de Acolhimento, Krüger comenta que a ideia chegou a ser cogitada, mas, após conversar com Penz, a mesma foi descartada.

“Falamos com pessoas de outras cidades onde a ideia foi implantada e vimos que o local poderia acabar agravando o problema, correndo o risco de que algumas pessoas o vissem como um ‘depósito de animais’, tornando assim a proposta insustentável”, argumenta.

O senhor Penz, que há anos participa dessa luta, desabafa que a crueldade contra os animais em Timbó está aumentando de forma assustadora. “As situações são inacreditáveis, como um cachorro que estava com bicheira e ao invés de receber tratamento, teve o rabo cortado. Ou outro que fugiu e, como castigo, foi cegado com spray para não poder fugir mais.

A gente vê isso e é impossível esquecer, por isso é urgente que se haja uma solução. A criação desse Conselho vem de encontro ao que precisamos. Eu amo os animais, faço meu serviço e acredito que a denúncia tenha que ser feita sempre, às vezes as pessoas só sentem as consequências de seus atos quando isso sai do bolso delas”, diz.

Patrulha do Bem

Diante da história apresentada no início dessa reportagem, fica a dúvida ainda para muitas pessoas: como ajudar? Por isso apresentamos agora a proposta do grupo Patrulha do Bem, criado justamente para auxiliar voluntários nesse processo.

O surgimento do grupo Patrulha do Bem foi em 2015, através da união de vários protetores independentes de animais que foram às ruas manifestar na campanha ‘Crueldade Nunca Mais’.

“Podemos nos denominar como um grupo de amigos que tem como único objetivo ajudar os animais necessitados. Não temos nenhum vínculo governamental ou político, é cada um por si”, explica a participante e uma das fundadoras do grupo, Sádia Cattoni.

Ela diz que o grupo chegou a ter o acolhimento de animais e atendimento a denúncias como prerrogativas uma vez, mas, devido à demanda que foi surgindo, se tornou inviável manter esses auxílios.

“Nosso objetivo é ajudar com alimentação, atendimento veterinário, castrações, remédios e outros custos com os animais que membros do grupo auxiliam e também os que conhecemos durante as feiras de adoção”, complementa Grazieli Pielke.

Ela destaca ainda que todos os dias as patrulheiras buscam levar informações a respeito da guarda responsável, castração e bem-estar dos animais, além de dar reforço na divulgação daqueles que estejam perdidos.

Grupo apoia a Criação do Conselho do Bem-Estar Animal

Sádia e Grazieli se manifestam a respeito da criação do Conselho do Bem-Estar Animal. “O objetivo seria deflagrar campanhas educacionais relacionadas à guarda responsável e tentar implantar na cidade o controle populacional desses bichinhos”, analisa Sádia.

Tanto ela quanto Grazieli comentam sobre o impacto que essa ação voluntária tem em suas vidas. “Há situações que não conseguimos simplesmente ver e deixar para lá, isso realmente é triste e magoa. É tanta judiação e crueldade que nem dá para acreditar.

Imagina só encontrar um bichinho que só tem água para tomar em um pote grosso de limo ao redor, ou ainda ver pessoas que alimentam o cachorro com uma feijoada, que o deixam preso com uma corrente curta na qual ele mal e mal consegue se mexer, sempre exposto ao sol e a chuva, sem ganhar um carinho, um minuto de atenção. Como presenciar tanta maldade sem sofrer junto?”, questionam.

Como lidar com as denúncias?

O caso dos Chow-Chows só ganhou força devido a uma denúncia de populares, que resultou em um Boletim de Ocorrência (BO) e em uma operação bem-sucedida – mas nem sempre é assim.

“Existe um risco grande quando se fala em denúncia, por isso não nos envolvemos mais. Às vezes a pessoa pode não nos receber bem. Quando o senhor Harry Penz nos chama nós acabamos indo para auxiliar, mas ele próprio já foi ameaçado por pessoas em locais onde foi averiguar denúncias de maus tratos.

Claro que queremos ajudar sim e quando possível fazemos as investigações, mas há situações de alto risco e que sozinhos não nos arriscamos a ir, acabamos nos envolvendo e podem haver pessoas perigosas no meio disso tudo também”, desabafa Sádia.

Campanhas de castração

Mas, se por um lado as denúncias acabaram não sendo mais o foco do grupo, por outro, diversas ações foram desenvolvidas para proteger e cuidar dos animais, como as campanhas de castração – que hoje são realizadas da ONG Equilíbrio Vital, com auxílio de importantes parcerias.

“Nós não achamos que apenas a castração irá resolver o problema, mas é claro que ajuda muito, tanto que nas quatro primeiras campanhas que organizamos 162 animais foram castrados. Por isso que desde 2016 nós começamos outro projeto: a Feira de Adoção, que é nosso foco hoje”, explica Grazieli.

Nessa feira são colocados para adoção responsável cães e gatos, tanto filhotes quanto adultos.

Você sabe o que é a adoção de verdade?

A feira acontece sempre no mesmo dia do Sábado Mais, no Completo Turístico Jardim do Imigrante (em frente ao Museu do Imigrante) das 9h às 13h. Nas últimas 13 edições realizadas, 76 animais foram adotados. “As pessoas nos têm como referência ao pensarem em adotar um animal de estimação, por isso nos procuram até mesmo fora das feiras”, diz Sádia.

O grupo também marca presença com a Feira no evento ‘Se Essa Rua Fosse Minha’. Mas, apesar de colocar os animais para doação, os tutores são selecionados. “Nós sempre fazemos uma breve entrevista para identificar o perfil da pessoa, o que ela procura em seu cão ou gato e se ela realmente parece entender o que é adoção responsável.

Já proibimos adoções por acreditarmos, com base em fortes indícios, que aquela pessoa não seria qualificada, justamente por não compreender a responsabilidade que é cuidar de uma vida que depende totalmente dela”, alega Grazieli.

Ela diz que os animais adultos são sempre os mais difíceis de doar, porém muitos dos filhotes acabam sendo deixados de lado e sob más condições depois que crescem – o que exige essa ‘seleção’ de tutores.

Denuncie

Presenciou uma situação de maus tratos? Denuncie! É possível fazer o BO de forma segura e anônima pela internet. Basta acessar o link www.delegaciaeletronica.sc.gov.br/inicio.aspx e relatar os fatos.

Também é possível fazer a denúncia na Delegacia de Polícia mais próxima ou comparecendo à Promotoria de Justiça do Meio Ambiente.