Médico é denunciado em Indaial

Vereador Flávio Molinari acusa o profissional de burlar o sistema público e o médico decide pedir demissão

Por Aline Brehmer 16/03/2018 - 13:41 hs
Foto: Câmara Municipal de Indaial
Médico é denunciado em Indaial
Denúncia feita pelo vereador Flávio Molinari já foi protocolada no MP de também no CRM de SC

Uma grave denúncia resultou no pedido de demissão de um médico na semana passada, em Indaial.

Toda a situação foi exposta através de um vídeo gravado pelo vereador Flávio Molinari, no qual ele supostamente aparece flagrando o médico em seu consultório particular ao mesmo tempo em que teria batido o ponto no Serviço de Atendimento Integral à Saúde (Sais) da cidade.

Diante da situação, nesta semana foram protocoladas denúncias contra o profissional na Ouvidoria do Ministério Público (MP) da cidade e também no Sindicato dos Médicos.

“Ainda nessa quarta-feira, dia 14, fui também até Florianópolis protocolar a denúncia também junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM) de Santa Catarina”, garante Molinari.

Secretária de Saúde se manifesta a respeito

O médico até então integrava o quadro de servidores da Saúde de Indaial e, conforme explica a secretária de Saúde da cidade, Adriane Ferrari, ele teria que cumprir uma jornada de 20 horas semanais (das 8h às 12h) – entretanto, já havia uma desconfiança acerca da quantidade de vezes em que o profissional saía de seu posto de trabalho.

“Essas horas semanais funcionavam sendo metade delas na regulação e as outras dez na direção técnica, o que é uma área que exige deslocamento às vezes para outra Unidade de Saúde a fim de resolver algum caso pontual.

De fato, a gestão não tinha conhecimento do que estava ocorrendo. Há cerca de um mês, quando o vereador Molinari nos trouxe essa informação, nós colaboramos e demos total apoio para que os fatos fossem investigados e tudo fosse esclarecido”, garante Adriane.

Suposto flagra aconteceu na última semana

No vídeo publicado no último dia 8, que teve um alto índice de repercussão, Molinari aparece primeiro no Sais, onde o médico teria batido o ponto e, pouco tempo depois, indo até o consultório do profissional, flagrando-o lá.

“O primeiro caso absurdo aconteceu no dia 1º de março, quando esse médico bateu seu cartão às 7h, saiu do Sais e foi para seu consultório, retornando ao Sais somente às 16h30min para bater novamente o cartão.

Por isso que na semana passada decidi marcar uma consulta particular com ele às 10h, assim conseguiria registrar o flagra. Importante reforçar que o horário de trabalho desse médico no serviço público seria das 8h às 12h, então havia dias nos quais ele fazia hora extra.

Mas, continuando. Então na quinta-feira passada cheguei às 10h em seu consultório e lá havia vários pacientes aguardando, todos com hora marcada. Entretanto, enquanto ele fazia os atendimentos particulares, seu cartão ponto no Sais registrava que ele estaria trabalhando lá também, ou seja, recebendo por horas que não estava cumprindo”, relata o vereador.

Investigação

O vereador alega que já fiscalizava essa situação há cerca de 30 dias, acompanhando de perto os passos do denunciado. “Esse médico batia o ponto, ficava em torno de uma hora, uma hora e meia no Sais e, em seguida, ia para seu consultório particular, retornando ao Sais somente para bater o ponto de novo”, diz.

No mesmo dia em que o vídeo de Molinari, supostamente flagrando o médico em seu consultório e resultando em fortes discussões entre ambos foi exposto, o profissional pediu demissão no setor de Recursos Humanos (RH) da Prefeitura Municipal de Indaial.

Sendo assim, Adriane explica que houve tempo de encaminhar os meios legais para abrir uma sindicância, mas ressalta que de forma alguma a secretaria e a gestão compactuam com a conduta que está sendo denunciada.

“Desde 2015, o servidor público registra seu ponto de forma biométrica. Há hoje 340 funcionários na secretaria de Saúde e cada uma tem sua carga horária semanal. Acredito que aqui estamos lidando com adultos e não crianças pequenas que precisamos ensinar o que é certo e errado.

Cumprir com as horas impostas é um dever do profissional, assim como seguir todas as regras do serviço público a partir do momento em que se compromete a trabalhar nessa área. E, com certeza, se ocorrer outra denúncia ou situação do tipo a investigação e os procedimentos irão acontecer, nós não compactuamos com esse tipo de conduta”, reforça.

Denúncias protocoladas

Segundo Molinari, todo o trabalho envolvido nesse flagra contou com o auxílio de uma equipe com cinco pessoas, que seguiram os passos do profissional para comprovar a ilegalidade da situação relatada.

Algumas horas após o flagra e a divulgação da discussão que ocorreu com o médico em seu consultório, o mesmo se dirigiu até o setor de Recursos Humanos da Prefeitura Municipal de Indaial para pedir demissão.

“Ele se demitiu, mas não fica por isso. Não podemos permitir que esse caso morra, por isso protocolei as denúncias na Ouvidoria da Prefeitura Municipal e também na 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Indaial, no Ministério Público (MP) da cidade. Na quarta-feira, dia 14, também fui pessoalmente até Florianópolis, no Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina, onde a denúncia também foi protocolada. Em todas as situações, entreguei as provas que tinha sobre o delito”, garante o parlamentar.

Novas investigações devem surgir

Molinari ainda diz que, segundo informações que lhe foram repassadas, “se trata de um bom médico, mas não estou aqui para julgar a qualificação dele e não tenho nada contra ele ou sua família, o que denunciei foi uma irregularidade cometida por um funcionário público, não a pessoa em si.

Fiz o que exige meu papel como vereador, que é fiscalizar e legislar e, sendo assim, ao encontrar uma grave irregularidade fiz a denúncia, mas reforço que não cabe a mim julgar a pessoa ou profissional. A própria população também tem que saber vigiar e denunciar, porque isso não acontece só aqui em Indaial e não é admissível compactuar como esse tipo de ação”, esclarece.

Após o ocorrido, ele diz que tem recebido várias denúncias da mesma natureza tanto da cidade de Indaial quanto Timbó e também Blumenau. “Irei investigar tudo o que chegar, como tenho feito nos últimos cinco anos”, garante.

A redação do Café Impresso tentou entrar em contato com o médico, mas optou por não se pronunciar por enquanto.