Nesta semana, a saída do até então secretário de Educação de Indaial, Ozinil Martins Souza, se tornou oficial. Dentre especulações e dúvidas que surgiram acerca dessa decisão, o ex-reitor da Uniasselvi e colunista do Café Impresso conversou com a redação, afirmando foi ele quem pediu para sair e revelando qual foi sua experiência e impressão durante o um ano e meio que ficou à frente de uma das áreas mais importantes a serem administradas, tanto em Indaial quanto a nível nacional.

Acerca de diversas colocações, destacando tanto as dificuldades quanto os prós da função que exerceu como funcionário público, Ozinil é enfático quando diz que a educação é o que move sua vida.

“Com 71 anos ainda tenho muito a aprender. Com certeza continuarei trabalhando pela Educação esteja onde estiver, seja como voluntários nas instituições com as quais trabalho ou em outras funções, meu objetivo é que a Educação tenha cada vez mais qualidade, pois o Brasil só tem este caminho”, afirma.

“Cuidado com seu CPF”

Para Ozinil o serviço público, em função de sua extensa regulação legal, impede a agilidade decisória e torna um obstáculo a ousadia de qualquer gestão.

“Logo ao assumir o cargo ouvi, repetidas vezes, a expressão: ‘cuidado com seu CPF’. Quando você gerencia sem a possibilidade de correr riscos, acaba também inibindo sua capacidade criativa”, analisa.

Por outro lado, ele aponta que a inexistência de indicadores que possam medir o desempenho do setor que até então estava sob sua responsabilidade, faz com que o gestor, em qualquer área, sinta-se inseguro sobre a eficácia das ações tomadas.

“Parece, e inclusive já afirmei isso em outras ocasiões, que os processos desenvolvidos para o setor público foram, assim feitos, para impedir seu funcionamento harmonioso”, desabafa.

Há solução?

Quando questionado sobre sua impressão na área da Educação hoje, tanto em Indaial quanto no Brasil, o ex-secretário da pasta comenta que o primeiro aspecto a vetar muitas coisas é o financeiro.

“Na minha opinião, esse é o fator que limita a ação do gestor e obriga as escolas, através da Associação de Pais e Professores (APP), a pagar contas que jamais deveriam ser de responsabilidade da instituição”, argumenta.

Na breve gestão de Ozinil, foi estabelecido um tripé com base para os quatro anos de mandato do prefeito André Moser. Porém, o ex-servidor não viu de concretizar as três propostas devido, justamente, à questão financeira.

“Me refiro aqui, primeiramente, ao desenvolvimento da tecnologia de informação, que foi prejudicado pelo estado dos equipamentos disponíveis. Em contraponto, sobrou vontade dos professores que, com o que tinham, fizeram um excelente trabalho”, elogia.

“O problema é gigante”

Na mesma linha de pensamento, Ozinil evidencia que o segundo problema é gigante e está diretamente ligado a má formação dos professores. “Não há percepção de que o mundo acelera seu processo de mudanças e de que, em breve, não haverá empregos para os moldes em que educamos nossa juventude hoje”, reflete.

Ozinil tem como premissa que o papel fundamental da educação é ensinar os estudantes a pensar. “Para que isso aconteça, temos que mudar a forma de dar aula. Isso quer dizer esquecer os métodos com os quais aprendemos, afinal, tendemos a repetir o que vemos. É preciso adotar novas metodologias de ensino. Esse é o grande desafio”, garante.

E a última perna do tripé ao qual Ozinil se refere também apresenta um problema. “Neste ano, há um sério problema que está ligado à pobreza intelectual que cerca a elite dos municípios, estados e país. A mesquinharia em que o partido que perde a eleição torce para que o pior aconteça.

Enquanto não tivermos a dimensão de que a educação é o futuro e seus maiores beneficiários são os estudantes, vamos continuar a praticar ações mesquinhas e torpes, no sentido de prejudicar o gestor de plantão esquecendo que, em verdade, estaremos prejudicando o Brasil”, frisa.

Nova função com muitos desafios

A saída de Ozinil da secretaria de Educação de Indaial completa cinco dias hoje. O cargo já foi assumido por Jairo Gebien, servidor da rede municipal de ensino que exercia até então a função de diretor da Escola Básica Professora Úrsula Kroeger.

Ozinil diz que deseja sorte a Gebien frente ao novo desafio, revelando que também já iniciou novos trabalhos nesta semana na Escola Superior de Cerveja e Malte, atuando como professor de Gestão de Pessoas.

“Tinha me esquecido como é bom dar aula”, comenta entre risos. Ele informa ainda que também deve começar a trabalhar com a escola na captação de futuros acadêmicos para a Faculdade Épica no curso de Engenharia de Produção, com foco em gestão cervejeira.

“Outro objetivo que também tenho é escrever dois ou três livros sobre minhas vivências profissionais”, complementa. Ozinil é firme quando afirma que sai de sua gestão na Educação com a cabeça erguida.

“Agradeço ao André Moser pela oportunidade de conhecer a dinâmica de funcionamento do setor público, também reconheço o respeito com que sempre fui tratado pela administração e pelos profissionais que a compõem.

Aos profissionais que compunham a equipe gerencial da Secretaria de Educação, meu profundo respeito e carinho pela forma como me receberam e toleraram durante este tempo que convivemos. Vocês são ótimos”, agradece.