Será que é amor?

O número de separações têm crescido no Brasil devido, em especial, a três principais causas

Por Aline Brehmer 15/06/2018 - 10:19 hs
Foto: Marcelo Dias/Jornal Café Impresso
Será que é amor?
Mônica Schneider é psicóloga e atua como terapeuta de casais há nove anos

“Não deu certo”. Essas três palavras formam uma das frases mais ouvidas atualmente, seja por psicólogos como também familiares e amigos de pessoas que, em determinado momento, vivenciaram o término de um relacionamento.

A intolerância é apontada como uma das principais causas para esses resultados, porém, há outros três principais fatores que interferem diretamente em uma união estável, como explica a seguir a psicóloga, professora, especialista em neuropsicologia e avaliação psicológica, Mônica Schneider, que atua há nove anos na área.

Terapeuta de casais há anos, ela ressalta que o problema financeiro é, sem dúvida, o primeiro na lista de culpados pelas separações. “De cada 100 casais que vêm aqui, 80% costumam relatar ter esses problemas. O que acontece muito é que o casal trabalha e tem uma renda fixa por mês, mas, em determinado momento, um dos dois perde o emprego e essa rotina, a forma de viver até então, acaba sendo impactada negativamente.

A partir do momento em que a renda mensal começa a sofrer modificações, o relacionamento também vira alvo do problema e, na grande maioria dos casos, acaba não resistindo”, explica Mônica.

Traição e arrependimento

O segundo principal fator apontado por ela, que culmina em muitas separações, é a traição. “A pessoa nem sempre está apaixonada no caso extraconjugal, mas mesmo assim acaba se envolvendo com terceiros. Às vezes o parceiro ou a parceira descobre a traição, outras vezes a própria pessoa que trai não consegue mais lidar com essa situação, mas não sabe como sair disso”, diz.

A psicóloga revela também que, hoje, as mulheres estão traindo mais do que os homens. “Nada justifica a traição, mas há sim motivos que levam a essa decisão. O que ouço de muitos pacientes é que uma pessoa, seja no trabalho ou na academia, fez algum elogio, o que acaba gerando uma atração mútua”, comenta Mônica.

A rotina é mesmo vilã?

Para a especialista, alguns motivos pelos quais isso acaba acontecendo é o caminho pelo qual o relacionamento acaba seguindo, entrando na temida rotina. “A verdade é que os casais não mantêm aqueles encontros do início de namoro, saindo para jantar ou fazer algo diferente, independente de terem ou não filhos. Repito que isso não justifica uma traição, mas, com base no que vivo em consultório, posso afirmar que a falta de atenção desencadeia uma certa carência, por isso, qualquer elogio feito por uma terceira pessoa pode ser visto como algo muito maior do que realmente é”, esclarece.

As dicas que a psicóloga dá para evitar esse tipo de situação não têm segredo. “Não há mistério, o conselho é manter sempre as coisas que fizeram o casal se apaixonar no início, os elogios, passeios, programas descontraídos que revivam e, principalmente, reforcem esse sentimento durante todo o relacionamento”, garante.

Incompatibilidade: um grave problema

Porém, os problemas não param por aí. O terceiro ponto analisado por Mônica é a incompatibilidade, ou seja, na prática, a frase “os opostos se atraem” não surte os efeitos desejados.

“Essa falta de afinidade acaba desencadeando sérios problemas. No começo, naquela fase da paixão, um quer fazer de tudo para agradar ao outro. Diz que gosta das mesmas comidas, passeios e músicas, mas nem sempre é verdade.

Por isso, uma hora essa máscara que as pessoas colocam acaba caindo e revelando um outro lado, quem aquela pessoa verdadeiramente é, ou seja, no fim, ambos não se conheciam realmente e, disso, começam a surgir problemas, brigas e discussões”, alerta Mônica.

Nesse ponto, a única coisa a se fazer é manter-se fiel às suas vontades e desejos, sem estar em busca de se tornar outra pessoa para agradar alguém.

“Cada um tem seu jeito, suas manias, seus costumes e, eventualmente, irão encontrar alguém parecido. O grande erro é se forçar a parecer com outra pessoa, isso gera infelicidade”, destaca Mônica.

Uma outra situação citada por ela, ainda que, segundo a psicóloga, não seja tão comum, é o fim do amor. “Ás vezes o amor acaba, isso realmente acontece. Ninguém deve se obrigar a ficar com outra pessoa por motivo algum, seja por medo de ficar sozinho, de magoar o outro ou pelos filhos. Em uma relação saudável, as duas pessoas precisam estar felizes”, analisa a psicóloga.

Mistura fatal

Nesse contexto, Mônica retoma o assunto abordado no início da matéria: a intolerância e impulsividade, uma mistura fatal. Para ela, muitas pessoas confundem o fato de “não estarem em um momento bom” com “não serem felizes” e acabam se precipitando em decisões erradas.

“Não há regra, cada relacionamento é único. Nem toda briga e discussão é motivo que leve alguém a jogar tudo para o alto, porque isso, em muitos casos, acaba gerando arrependimento.

A verdade é que as pessoas não têm mais paciência com seus companheiros e, às vezes, nem mesmo consigo. É preciso respirar fundo, analisar a situação para então, com calma e serenidade, sentar de novo junto ao companheiro e conversar. Na hora da raiva muitas coisas podem dar errado e não ter conserto”, reflete a especialista.

Terapia é a solução?

Diante de suas colocações, Mônica aconselha que o casal, ao sentir que algo não está mais dando certo e sem saber como resolver, procurem auxílio. “A terapia traz inúmeros benefícios, tanto para o casal em si como individualmente. Ninguém sabe como realmente é a vida a dois entre quatro paredes, por isso, também não se pode julgar o que é visto de fora.

A dica que eu dou é que as pessoas têm que ser felizes e estar em um relacionamento que traga alegria, mas são nos momentos de dificuldades que vemos se o casal é resiliente ou não.

Todos os casais terão problemas, mas estar com a pessoa tem que ser mais prazeroso do que as dificuldades que se apresentam, é sempre mais fácil os dois juntos conseguirem resolver as desavenças”, finaliza.

Menos casamentos

·         Foram registrados 0,3% a menos de casamentos em 2016 comparando com o ano anterior. Deste total, 98,8% de casamentos entre homens e mulheres. 

·         O casamento entre cônjuges do sexo masculino teve um crescimento de 16,66% entre 2015 e 2016, enquanto o número de casamentos entre mulheres permaneceu com números muito próximos, 139 (2015) e 137 (2016).

Mais divórcios

·         Aumentou 20% o número de divórcios no Estado. De 7.885 processos de divórcios encerrados em 2015, passou para 9.134 em 2016.
Do total de divórcios em 2016, 61,5% era de casais com filhos menores de idade.

·         Em 72% dos casos a guarda era da mãe; em 26,3% dos casos a guarda era compartilhada e em 7,2% dos casos o pai era o responsável.

·         De 732 registros de guarda compartilhada, em 2015, passou para 1.066, em 2016. Um crescimento de 45,6% no número.

Dados: IBGE