Pés carregados de vida e saúde

Na propriedade de Jair Dallabona, o cultivo orgânico é sua fonte de renda e vida

Por Aline Brehmer 15/06/2018 - 11:20 hs
Foto: Marcelo Dias/Jornal Café Impresso
Pés carregados de vida e saúde
Jair Dallabona mudou de forma drástica sua vida e conta como isso o transformou

O bairro Tiroleses, em Timbó, abriga diversas atrações e belezas naturais. Entre elas está a propriedade do senhor Jair Dallabona, que tem 62 anos e há 20 deles optou por ser agricultor, mudando de forma drástica seu estilo de vida, como ele explica adiante.

Antes de tudo, é importante dizer que na propriedade de 29 mil metros quadrados que lhe pertencem, 24 mil são destinados ao cultivo orgânico de verduras e frutas estando, entre elas, a saborosa e atraente laranja champagne, uma mistura da laranja com tangerina, que resulta em um gosto único ao paladar.

Quando nos recebe, logo pela manhã, seu Dallabona inicia um tour pelo local, subindo o morro e apresentando suas plantações, enquanto conta sua história.

“Os primeiros dois anos, quando comecei a cultivar, o plantio era na propriedade de meu pai. Em seguida, comprei esse terreno aqui e transferi minhas atividades para cá.

A laranja champagne, que somente eu plantava naquela época e atualmente tem mais cultivadores, foi um teste que fiz. Conforme as pessoas iam aparecendo eu entregava a fruta, sem falar o que era, apenas pedindo que experimentassem e me dissessem o que haviam achado”, relembra Dallabona.

E assim tudo começou, primeiro com dez, depois 20, 30, e hoje com mais de 200 pés estão plantados da laranja por ali. Somente da laranja champagne Dallabona tira uma parte de sua renda, afinal, toda semana colhe 500 quilos da fruta para entregar nas escolas municipais de Timbó, que a tem como parte da merenda escolar.

Infinita variedade de sabores

Enquanto conhecemos essa área verde, vamos também encontrando outras cores pelo caminho. Logo no início tem o morango, que foi plantado na semana passada e já começa a apresentar suas primeiras folhinhas.

Segundo o agricultor, a fruta deve estar pronta para ser colhida entre fim de julho e início de agosto. Em frente à essa plantação encontramos a famosa pitaya, que conquistou o paladar do público com uma aparência e sabor únicos, porém, ela ainda também não apresenta sua verdadeira forma e está nos primeiros estágios de cultivo.

Ali, cada pedacinho representa para Dallabona uma história, e, para cada espécie de plantio há um tratamento diferenciado, a começar pela escolha do solo e adubo. Por isso, nem todas as vezes que ele decidiu plantar algo aquela fruta ou verdura deu certo.

“A laranja é um exemplo. Tentei oito variedades, mas somente a champagne deu certo, as outras acabaram bichando. O plantio orgânico é feito de forma completamente natural, tanto que até mesmo a água que uso é a que vem da chuva. Tenho um reservatório de 300 mil litros”, comenta.

Propriedades medicinais?

Ao dar a volta pela área de plantio, nos deparamos com uma nova infinidade de opções, como o figo, que deve estar pronto para ser colhido em dezembro; a lichia; a graviola, que segundo Dallabona possui propriedades medicinais muito importantes no combate ao câncer.

Há também aquelas que o agricultor chama como “plantações consorciadas”, onde se encontra mais de um tipo de alimento sendo cultivado. No caso em específico, estão plantados brócolis, repolho, folha de couve. Logo ao lado tem os tomates e próximo fica o hibisco, que Dallabona revela usar para fazer chá e também quentão.

“É uma fruta medicinal também, indicada para combater a anemia. O gosto é azedinho e muito saboroso”, detalha. Da mesma forma, ele garante que toda a parte de frutas e verduras que consome diariamente são colhidas logo ali, ao lado de casa, incluindo até mesmo aipim e babatas, entre tantos outros alimentos que cultiva.

Incentivo para viver

Dallabona acorda todos os dias às 5h para ir andar pelo seu terreno e inciiar os trabalhos. Hoje, garante que sua vida está perfeita, se sente saudável e, aos 62 anos, a disposição é de se admirar e surpreende muita gente.

“Eu trabalhava em uma empresa de Blumenau e tinha um cargo de confiança. Minha renda mensal equivalia a dez salários mínimos, mas eu só dormia a base de remédios tarja preta. Então, em 1995 decidi mudar. Pedi demissão e comecei a me dedicar ao cultivo orgânico.

Minha vida deu uma reviravolta completa. Hoje ganho menos sim, a outra parte da renda mensal que tenho é vendendo as frutas e verduras na feira da ProOrg, da qual sou tesoureiro. Porém, é com alegria que vivo, pois acordo disposto, durmo bem, tenho vontade de viver. Sempre digo que a felicidade está na simplicidade”, reflete.

Ao explicar isso, Dallabona está ao mesmo tempo plantando mais um pé de laranja champagne, que estará pronto para ser colhido em um ano. Ao redor desse lugar, muitos outros pés carregados exibem frutas prontas para consumo.

Ali, o agricultor tem um ajudante que, quando solicitado, vem trabalhar, seja no cultivo e plantação ou na colheita.

Feito com amor

O aprendizado e aperfeiçoamento, para Dallabona, é de vital importância. Tanto que, na próxima semana, ele irá passar três dias em Itajaí aprendendo sobre produção orgânica.

“Quem experimenta um alimento cultivado de forma natural sente, não somente no sabor, mas também na qualidade de vida a diferença que faz. O retorno que tenho no que faço é a satisfação de ver que as pessoas estão em busca de se alimentar melhor e eu tenho a chance de oferecer isso a elas.

Minha parte, que é cuidar da terra, do solo e do ar que estamos respirando eu já faço. A segunda fica por conta dos consumidores que, adquirindo os alimentos orgânicos nos incentivam a produzir ainda mais. A consequência é um ambiente mais limpo, com ar mais puro. Todos saem ganhando”, garante o agricultor.

Para ele, cada pé é uma vida que está sendo gerada. Ali, em meio às suas plantações, se vê, como ele mesmo define, em um “templo natural, onde a palavra mágica que faz a diferença, sendo diariamente colocada em prática, é o amor”.