Nova vida sobre três patas

Nesta semana Zeus foi resgatado em estado grave pela polícia e salvo por duas veterinárias

Por Aline Brehmer 00/00/0000 - hs
Foto: Marcelo Dias/Jornal Café Impresso
Nova vida sobre três patas
Zeus com as médicas veterinárias Poliana Kotaka e Marina Padilha

“A primeira vez que oferecemos comida, Zeus não sabia o que era. Então, conseguimos fazer com que experimentasse e ele começou a comer. Agora está se alimentando bem e com muito apetite”.

O relato é das médicas veterinárias Poliana Kotaka e Marina Padilha, da Clínica Arca de Noé. O Zeus a quem elas se referem é um filhote, que tem aproximadamente três meses, e foi encontrado pelas polícias Civil e Militar nesta semana, em uma residência na cidade de Timbó.

Na manhã dessa segunda-feira, dia 25, a Polícia Militar (PM) foi acionada para prestar apoio à Polícia Civil em uma diligência. Ao verificarem os entornos da residência em questão, os policiais então teriam ouvido “o choro de um animal semelhante a um filhote, o qual foi observado pelas frestas da parede, ferido e desnutrido, ou seja, um flagrante de maus tratos”, explica a guarnição no boletim oficial divulgado à imprensa.

Diante da situação o cachorro, mais tarde batizado como Zeus, foi então resgatado pela PM e levado até a Delegacia de Polícia. Em seguida, um dos policiais ligou para Harry Penz, que é o responsável pela ONG Equilíbrio Vital.

“Assim que atendi o telefone e soube da situação, falei que me responsabilizaria pelo cachorrinho. Entrei em contato então com a doutora Poliana, que de imediato ofereceu ajuda. Em seguida, funcionários da clínica foram até a delegacia e buscaram o Zeus. Sem dúvida o trabalho da polícia foi de um valor e importância enormes”, agradece Penz.

Cirurgia de emergência

Quem fez o primeiro atendimento a Zeus foi Marina, que ainda no mesmo dia realizou uma cirurgia no filhote. “Ele estava com prolapso do reto, que é quando parte do intestino vem para fora através do ânus, então foi uma cirurgia de emergência. Mas ele reagiu de forma positiva”, explica a veterinária.

Já no dia seguinte, terça-feira, Zeus ficou aos cuidados de Poliana, que fez a cirurgia na pata. “Nós queríamos salvar a patinha dele, mas não foi possível. Havia múltiplas fraturas e não tivemos outra saída senão amputá-la”, relembra a médica.

Mas, com apenas três meses de vida e demonstrando fragilidade, Zeus surpreendeu pela rápida recuperação, em todos os sentidos. “Ele chegou com muito medo e receio das pessoas, mas hoje já confia na gente. Todos aqui da clínica se uniram para ajudar nesse processo e Zeus está cercado de muito amor, o que também gera resultados positivos”, comenta Marina.

Uma nova vida

Poliana diz que horas após a cirurgia, Zeus já arriscava os primeiros passos com apenas três patas – desafio no qual está se saindo muito bem. “Ele é filhote e por isso tem uma resiliência ainda maior. Conforme crescer, os pelos vão cobrir a cicatriz dos pontos que existem hoje e ele será um cão normal, que corre, brinca, pula. Ele vai ficar bem”, garante a veterinária.

Tanto ela quanto Marina deixam seus agradecimentos à ação das polícias Civil e Militar. “Se não fosse por eles, Zeus não estaria aqui. Ele não tinha mais do que um ou no máximo dois dias de vida naquelas condições”.

Penz explica que o destino do cãozinho já foi decidido. “Ele irá morar com uma pessoa que conheço, a qual também cuida dos animais. Sem dúvida vai estar em boas mãos e rodeado de atenção e amor no seu novo lar”, diz o responsável pela ONG, que hoje abriga 19 cachorros (18 deles resgatados) em sua casa.

Prisão dos suspeitos

O resgate de Zeus foi uma consequência de outra ação que estava sendo executada naquele dia, quando Polícia Civil foi acionada para atender a uma ocorrência no bairro Padre Martinho Stein.

No local, encontraram dois homens que estariam em posse de aproximadamente 500 barras de ferro, um material de construção semelhante ao que teria sido furtado recentemente, sendo que, nessas barras, estaria uma etiqueta com o nome da vítima do furto, o que, segundo a PM, “configura a posse do material ilícito naquela residência”.

Porém, durante essa busca, os policiais ouviram choros de Zeus e o encontraram. Os dois homens então foram encaminhados à Delegacia de Polícia e, além de receberem voz de prisão por estar em posse das barras de ferro, também foram acusados pelo crime de maus tratos aos animais.

Versão dos suspeitos

Infelizmente, situações envolvendo agressividade e desleixo com os animais não são raras. O delegado de Timbó responsável por esse caso, Eduardo Boaretto, explica que a dupla será indiciada.

“O inquérito está próximo de ficar pronto, só falta juntar o prontuário do animal e relatar. Os dois suspeitos serão indiciados pelo Art. 32 da Lei de Crimes Ambientais”, esclarece.

Essa mesma lei prevê detenção de três meses a um ano e multa para quem praticar maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.

Somado a isso também há a questão do furto. Segundo Boaretto, por não se tratar de uma prisão em flagrante nesse caso (já que o furto havia acontecido cerca de duas semanas antes) ou de ser um crime qualificado, a pena também é menor, variando entre um e quatro anos.

Questionado sobre o que os homens teriam dito em relação ao flagra de maus tratos, o delegado diz que a versão de ambos é de que “teriam encontrado esse animal na rua, já machucado, e então levado para casa afim de prestar os cuidados necessários para sua recuperação”.