Transformando tábuas em obras primas

A criação de móveis feitos com madeira nobre e o serviço de demolição são as especialidades da família Gumz

Por Aline Christina Brehmer 20/08/2018 - 16:19 hs
Foto: Marcelo Dias/Jornal Café Impresso

Resistência, durabilidade, qualidade e garantia – quatro características muito procuradas, especialmente quando se referem aos móveis. Hoje a atenção e apreciação pelo aspecto rústico está cada vez mais em alta. A procura por algo original, seja aquela cômoda, uma mesa ou penteadeira. Há ainda os itens de valor sentimental, aquela herança especial que a todo custo você quer manter através de um trabalho de restauração.

Mas, se tratando de madeira, criar formas e desenhos não é uma tarefa fácil. Por exemplo, você já imaginou um beliche trator? Esse foi um dos pedidos mais originais que Waldir Gumz e seu filho Edson já receberam.

“Foi um cliente de Timbó quem pediu. Ele viu em algum lugar e nos falou, então fui atrás para descobrir como fazer. Como nunca havia construído ou montado nada parecido, demorou cerca de um mês para ficar pronto, até acertar as medidas e encaixes”, relembra Edson, responsável por criar e fazer os móveis.

Depois de construída, a obra prima (na foto ao lado) recebeu pintura com tinta automotiva, deixando o móvel bem característico e único. É uma das várias criações que Edson se orgulha ao falar.

Por acaso?

Na vida dos Gumz, nunca esteve nos planos a criação de móveis. Tudo surgiu devido a uma dívida que Waldir tinha para receber – e ela foi paga, mas através de uma casa de madeira antiga, que foi doada para quitar o valor devido.

Foi assim que, há cerca de oito anos, o serviço de desmanche de casa e venda de madeira começou e, dali em diante, só aumentou. “Lembro das primeiras casas que desmanchei, eram por aqui, na região. Faço mais essa parte, de ir atrás, procurar e negociar. A verdade é que está ficando cada vez mais difícil agora encontrar casas antigas para desmanchar, mas é um trabalho que gosto de fazer, então sempre acabo encontrando algo”, revela Waldir.

Na propriedade da família, há vários espaços construídos separadamente. Em um deles estão as tábuas, todas empilhadas, apenas aguardando que Edson as selecione para iniciar o projeto de um novo móvel – atividade que só começou em 2015, quando foi aberto o CNPJ da empresa.

Em andamento

Quando a madeira chega, existe um processo de classificação. Primeiro, são separadas as tábuas dos sarrafos e pedaços podres. Em seguida, são retirados os pregos e partes ruins da madeira e, por fim, cada peça é classificada: as tábuas, paus quadrados, portas e janelas.

“Tudo é utilizado e reaproveitado, até mesmo a madeira ruim, que vai para a lenha”, comenta Edson. Ele diz que, somente na semana passada, foram vendidas cinco janelas de uma casa que havia sido desmanchada.

Em uma outra área do terreno, está o local onde Edson passa a maioria de suas horas, lixando e produzindo novas peças. No momento, ele diz que está trabalhando no pedido para uma cliente de Curitiba (PR). Se trata de uma mesa com duas pranchas e, no meio, uma placa de vidro.

“Nós fazemos painéis, camas, mesas de centro, armários, cristaleiras, bancos, aparadores... tem de tudo aqui. Atendemos muitos clientes de fora também. Em média, os projetos levam algumas semanas até ficarem prontos. No momento tem bastante encomenda, então estou dando prazo de um mês a um mês e meio para entregar os pedidos, por garantia”, comenta. Quem o ajuda nesses procedimentos são seus irmãos Thaís, de 18 anos e Lucas, de 12 anos.

Exclusividade

Edson diz que uma das principais vantagens da madeira é a exclusividade, afinal, uma peça nunca será igual a outra – seja na forma ou nos mínimos detalhes.

“Hoje há materiais mais acessíveis, só que eles incham e estragam rápido. Outro problema é com a própria madeira que certos locais usam. São peças que não secam naturalmente, são colocadas em estufa e isso acaba prejudicando a qualidade, diferente da madeira que usamos aqui”, compara.

Alguns projetos são criações de Edson junto aos irmãos, já outros são elaborados através de pesquisas. Mas os trabalhos de demolição e venda dos móveis rústicos, assim como da madeira, não é a única fonte de renda da família.

“Dependemos de pedidos, então nem todo mês isso paga todas as contas”, comenta. Sua mãe, Simone Oliveira Gumz, por exemplo, trabalha mais voltada ao cultivo, serviços domésticos, entre outras atividades.

Tábua milionária?

Para quem trabalha todos os dias com isso, não existe “um pedaço de madeira”. Cada item ali possui características únicas, como, por exemplo, uma longa e larga tábua de fundo de carroça que Waldir salvou da fogueira há uns sete anos.

“Eu quase vendi essa tábua já. Teriam me pago até R$ 800,00 por ela, mas não me desfiz. Coloquei ela aqui, na nossa área de festas e lazer, e não pretendo vende-la. Por algum motivo quis manter ela para nossa família e acredito que acertei fazendo isso”, comenta.

Para ele, os dias mais frios e gelados que estamos vivendo representam a melhor época para trabalhar. “Esse clima é o ideal, sem dúvida. Tanto para trabalhar por aqui quanto para ir viajar e fazer as negociações. Mas, claro, no verão nós trabalhamos igual, não pode parar, né?”, comenta entre risos.