A força do mau hábito

O casal Hein fumava mais de 80 cigarros por dia e, hoje, celebram cada minuto livres do vício

Por Aline Christina Brehmer 04/09/2018 - 15:55 hs
Foto: Divulgação/Redes sociais

Quatro maços por dia, o que significa 80 cigarros diariamente e um investimento mensal de aproximadamente R$ 800,00. Por muitos anos, esses foram os números que nortearam a vida do casal Siegrit Piske Hein, de 47 anos e Ademir Hein, de 44 anos. Ela fumava cerca de um maço e meio por dia e seu marido em média três (mas, aos fins de semana, esse número aumentava). Esse vício é algo que faz parte de suas vidas há muitos anos, desde quando eram adolescentes, mas foi juntos que conseguiram unir forças para mudar de vida.

“Faz cinco meses que paramos de fumar definitivamente. Lembro com clareza que foi em uma segunda-feira de manhã quando decidi que aqueles seriam os meus últimos dois cigarros. Não saí para comprar mais e quando meu marido chegou em casa ele pediu se eu havia comprado, quando respondi que não, ele disse que não iria mais comprar também. Foi a partir daí mudamos nossas vidas”, relata Siegrit.

Ela diz que um dos pilares fundamentais para essa conquista na vida da família foi o apoio do Grupo de Tabagismo, que realiza encontros semanais nas Unidades de Saúde dos bairros Capitais, Nações e Pomeranos.

Dias difíceis (e vencidos)

No dia em que o casal Hein optou por mudar de vida em busca de qualidade e saúde para seus dias, estava frequentando os encontros há cerca de um mês e meio, mas os primeiros dias sem o cigarro foram difíceis – gerando reflexos até hoje.

“Ainda tomo remédio para ansiedade e uso os adesivos, mas agora a dosagem do medicamento vai começar a diminuir. Os primeiros dias foram complicados, você se sente irritado, agoniado, nervoso. Todos os dias eu tomava café e fumava um cigarro, mas tive que largar a bebida que gosto por um tempo para não sentir tanto a falta de fumar. Hoje já consigo beber café normalmente”, comenta Siegrit.

Ela diz que as mudanças positivas não demoraram muito a aparecer, fazendo com que tanto ela quanto seu marido se mantivessem firmes na decisão. “Quando você fuma demais às vezes nem consegue puxar o ar direito, mas não percebe. Hoje me sinto bem para caminhar, trabalhar, o ar está muito mais limpo, o olfato melhor e o paladar então, nem se fala”, garante.

Saúde da família

Muitas foram as razões que pesaram na decisão do casal e, dentre as principais, está o fato de que sua filha mais nova Sofia, que tem nove anos, sofre com problema de rinite – uma condição que a afetava ainda mais quando seus pais fumavam, mesmo que não fosse dentro de casa. Hoje, ela também sente resultados positivos em sua qualidade de vida.

“O único arrependimento que temos é de não termos parado antes. Uma das consequências é que, normalmente, a pessoa acaba ganhando uns quilinhos a mais, justamente por recuperar o paladar e também em decorrência da ansiedade, afinal, o metabolismo como um todo muda, é algo normal. Mas isso se resolve, inclusive já estou consultando uma nutricionista para começar a ter uma alimentação mais saudável”, reflete Siegrit.

Hora de ajudar

Com um novo estilo de vida, o casal agora encara uma nova luta rumo à sua próxima conquista: auxiliar dona Gertrudes Piske, de 66 anos, mãe de Siegrit, a também parar de fumar.

“Quando uma pessoa decide que quer parar isso tem que partir dela. Minha mãe disse que não quer mais, ela realmente está tentando parar. Hoje fuma uma carteira e meia por dia, às vezes mais e às vezes menos. Vamos começar a frequentar esse mesmo Grupo de Apoio junto com ela, e é até bom porque nós gostamos de ir lá, às vezes nossa história acaba incentivando de forma positiva outras pessoas”, comenta Siegrit.

Um passo de cada vez

Para o casal Hein, a caminhada rumo à uma vida sem cigarros foi a passos lentos, passando de 12 para dez cigarros por dia e assim diminuindo até chegar a zero – uma das táticas que se mostram mais eficazes no combate ao tabagismo. Prova disso é que hoje, mesmo quando estão com dona Gertrudes e ela está fumando, ambos se mantêm firmes e dizem até nem mesmo sentir mais vontade de fumar novamente.

E é a partir de sua experiência e resultado que se colocam à disposição para estar ajudando outras pessoas. “Meu sogro sofreu com vários problemas de saúde por causa do cigarro e minha mãe, que já fuma há mais de 50 anos, terá que passar por outra cirurgia. Muitas pessoas julgam quem fuma, dizendo que é fácil parar, mas não é, muito pelo contrário. Por isso essa troca de experiências de pessoas que vivem esse mesmo problema se mostra tão eficaz”, argumenta Siegrit;

Recaídas?

À frente da coordenação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) e do Grupo de Tabagismo há um ano, Maira Lúcia Cipriani reforça as vantagens e resultados positivos que o grupo tem obtido em seus encontros.

“O mais importante de tudo é o apoio, principalmente psicológico. Às vezes a pessoa quer parar mas sofre com momentos de recaídas. Além disso, sozinho é sempre mais difícil”, avalia.

Hoje, são aproximadamente 50 pessoas que participam dos encontros – um número considerado baixo levando em consideração a quantidade de fumantes que há em Timbó, porém, para Maira, conseguir ajudar com que uma pessoa se livre desse vício de vez já é gratificante.

“Há aqueles que começam e depois acabam voltando, porque retornaram ao vício. Nos encontros são dadas várias dicas para os momentos difíceis, como a redução dia após dia, desafios que vão sendo impostos para tornar esse vício cada vez menos presente na vida de cada um”, explica.

Para cada caso, uma solução

No grupo participam também um enfermeiro e uma médica, que montam o plano terapêutico de cada pessoa, fazendo o acompanhamento e vendo o que está ou não dando certo, oferecendo novas e mais eficazes propostas para quem teve alguma reação com os medicamentos, por exemplo.

“Temos o adesivo de nicotina de 21 miligramas que é o mais forte, para quem fuma 30 ou mais cigarros por dia, mas depois vai passando para outras dosagens, cada vez menores. Há ainda a opção da goma de mascar, que se mostra eficiente nos momentos em que as pessoas estão a ponto de acender novamente um cigarro”, exemplifica a coordenadora.

Maira diz que o maior número de participantes é na faixa dos 30 aos 40 anos, mas como a maioria já fuma há muito tempo, o desafio é sempre grande. “Algo que tenho reparado é que o número de jovens fumantes diminuiu, porém, hoje existe o narguilé, que é tão prejudicial quanto o cigarro”, compara.

Segundo ela, na hora de parar de fumar definitivamente, a força do hábito é a maior barreira que as pessoas precisam ultrapassar. “Aquele costume de fumar logo após uma xícara de café, por exemplo, tudo isso exige uma reeducação, substituições, adequações e isso que é difícil, trabalhar o lado psicológico. Mas a partir do momento e que a pessoa decide parar de fumar, ela não está beneficiando somente sua saúde, como também de todos aqueles que convivem ao seu redor, por isso cada caso onde a pessoa atinge esse objetivo é motivo de alegria e conquista para todo o grupo”, destaca a coordenadora.

Reuniões do Grupo Tabagismo

Os Grupos de Tabagismo são abertos à toda comunidade e, em Timbó, há três Unidades de Saúde que oferecem esse auxílio.

Unidade de Saúde Pomeranos

Dia: toda segunda-feira

Horário: 08h30

Unidade de Saúde Capitais

Dia: toda quarta-feira

Horário: 14h30

Unidade de Saúde Nações

Dia: toda quarta-feira

Horário: 8h