“Se tivesse dez pessoas, teria matado todas”, diz filho de Vilmar

Vilmar Leite foi condenado pelo júri a 17 anos de prisão. A defesa irá recorrer à decisão e o MP, que pede uma pena próxima aos 30 anos, também

Por Aline Christina Brehmer 02/10/2018 - 10:13 hs
Foto: Aline Christina Brehmer/Jornal Café Impresso

Após mais de seis horas de julgamento, Vilmar Leite, 45 anos, foi condenado pelo júri popular a 17 anos, quatro meses e 20 dias de prisão e, por ser réu primário, irá cumprir dois quintos da pena (aproximadamente seis anos e meio) em regime fechado, progredindo em seguida para o semiaberto. Ele foi indiciado como autor de um duplo homicídio que aconteceu no dia 5 de fevereiro deste ano, na localidade de Alto Palmeiras, em Rio dos Cedros.

Naquele dia, mãe e filho perderam a vida de forma brutal. Marlise Negherbon tinha 57 anos e seu filho, Patrício Reiner, 16. No mesmo dia, Vilmar e seu filho, que na época era menor de idade, foram presos em flagrante e encaminhados à Delegacia de Polícia de Timbó junto com as armas utilizadas nos homicídios – uma espingarda calibre .36 e um revólver calibre .32.

Em depoimento aos policiais civis, tanto Vilmar quanto seu filho teriam admitido cometer os assassinatos. Porém, pouco tempo depois, Vilmar mudou a versão da história e disse que não havia tido nenhuma participação no ocorrido, que apenas teria admitido culpa para proteger seu filho – o qual manteve sua versão e se responsabilizou sozinho pelos homicídios.

Diante dos fatos, Vilmar foi encaminhado ao Presídio Regional de Blumenau e seu filho (que já completou 18 anos) ao Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório (Casep), na mesma cidade. Ele foi julgado pela 1ª Vara da Infância e Juventude como autor do crime e sua pena são três anos de internação devido ao ato infracional.

 Filho de Vilmar dá detalhes dos homicídios

O julgamento de Vilmar aconteceu nessa terça-feira, dia 25, no Auditório da Prefeitura de Timbó. A acusação era representada Promotor da 2ª Promotoria de Justiça do Ministério Público de Timbó, Alexandre Daura Serratine, e a defesa ficou por conta do doutor Reny Becker Filho. O Juiz de Direito da Vara Criminal que conduziu o julgamento foi o doutor Ubaldo Ricardo da Silva Neto.

Naquela tarde, o primeiro a se pronunciar foi o filho de Vilmar, que veio do Casep para dar seu depoimento. Sentado na cadeira, de frente para os jurados, ele relatou o que teria acontecido naquela trágica manhã.

Falou que tinha acordado cedo, por volta das 7h. Não demorou muito para que ele pegasse a espingarda (que tinha comprado por R$ 100,00) e o revólver (que tinha adquirido por R$ 2.500,00), seguindo em direção à propriedade vizinha, onde as vítimas moravam. Ele percorreu cerca de 300 metros e detalhou o que aconteceu em seguida.

“Dei um tiro de espingarda no peito dele (Patrício), mas ele não morreu na hora. Tinha uma tobata perto e ele se apoiou nela. A mulher (Marlise) se apavorou e voltou correndo de dentro de casa, dei um tiro nela também, que foi no peito. Ela caiu no chão e depois disso dei mais um tiro no piá, no rosto. Aí soltei a espingarda e peguei o revólver. Atirei nela de novo e depois no piá de novo. Falando aqui a verdade, se tivessem dez pessoas lá eu matava todas naquele dia, se alguém tem dúvida. Me arrependi, mas naquele dia eu matava”, relatou o rapaz aos jurados, respondendo às perguntas do promotor.

Ao final de seu interrogatório, ele deixou a sala do Auditório se dirigindo ao seu pai, quando disse “Deus te abençoe pai”. Em seguida, foi conduzido de volta ao Casep.

Após o rapaz prestar seu depoimento, Vilmar foi chamado, mas ele optou pelo direito de se manter em silêncio, sendo que por essa razão as perguntas, tanto da defesa quanto da acusação, não chegaram a ser feitas.

Entretanto, o advogado de defesa, doutor Reny, apresentou um vídeo feito com Vilmar no qual ele foi interrogado e concordou em responder às perguntas. No vídeo, o acusado disse que nunca encostou em nenhuma das armas do filho e que reafirmou não ter participação alguma nos crimes cometidos.

Disse também que havia passado pelo terreno dos vizinhos naquela manhã, mas quando chegou lá já os teria encontrado sem vida e, em seguida, ido embora. Segundo ele, não ligou para a polícia porque tinha medo de ser acusado ou apontado como assassinato.

 Defesa e MP irão recorrer à decisão do júri

A redação do Café Impresso entrou em contato com os dois advogados e tanto a defesa quanto o Ministério Público irão recorrer à decisão do Júri. O doutor Reny diz que já entrou com os recursos nesta semana e explica qual é o motivo apresentado pela defesa.

“Entendo que a prova no processo está clara no sentido de que ele (Vilmar) não teve essa participação no duplo homicídio, tanto é que o menor (filho dele) assumiu tudo e disse que cometeu os crimes sozinho. Entendo que a prova é só essa, não existe outra que o incrimine, então estou levando esse recurso para que seja rediscutida a negativa de autoria”, esclarece Reny.

Ele destaca também que o primeiro interrogatório, feito na Delegacia de Timbó, teria ocorrido de forma equivocada. “Ambos foram levados à delegacia e interrogados devido às prisões em flagrante. Mas lá, apesar de ambos terem confessado, nenhum deles teve a assistência de um advogado, isso é um manifestamento ilegal. Em juízo, Valmir mudou sua versão e disse que o filho dele quem atirou nas vítimas, mas o primeiro depoimento, tomado de forma irregular, o comprometeu”, opina o advogado.

Para o MP, a pena sentenciada não corresponde aos crimes cometidos e deve ser aumentada. O promotor Serratine estará, ainda nesta semana, entrando com recurso baseado no fato de que foram cometidos dois crimes qualificados, somado ao crime de corrupção de menor, o que, segundo ele, soma no mínimo 28 anos de detenção.