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Médica ginecologista Kênia Ramos alerta sobre os cuidados com a saúde íntima e reforça métodos preventivos contra as DST

Por Aline Christina Brehmer 05/11/2018 - 10:18 hs

O Outubro Rosa chegou ao fim, mas a prevenção continua sendo pauta principal – seja para homens ou mulheres. O cuidado com a saúde é o que dita a qualidade de vida das pessoas, principalmente com o alto número de doenças (contagiosas ou não), além, claro, de uma que está entre as mais temidas: o câncer.

E nesse cenário a ginecologista Kênia Belz Ramos faz alertas sobre a importância de estar atento aos mínimos detalhes, que envolvem (e muito) a saúde íntima. Como apenas o primeiro exemplo ela cita a AIDS, uma doença que hoje está “camuflada” mas ainda existe e, mais do que nunca, pode ser evitada através do uso de preservativos.

“As pessoas portadoras do HIV geralmente não comunicam seus respectivos parceiros sobre isso e nem se protegem fazendo uso da camisinha. Pelo fato de a doença ter um tratamento e permitir que as pessoas tenham qualidade de vida, muitos acabam pensando que a AIDS desapareceu, simplesmente porque não ouvem mais sobre mortes decorrentes disso, mas ela continua existindo e não deixou de ser um problema que pode se tornar muito grave, caso não haja o tratamento adequado”, alerta.

Além do que se vê

A médica explica que o vírus da AIDS somente infecta uma pessoa a partir do momento que entra em contato com uma pele com pequenas lesões ulceradas (às vezes decorrentes da própria relação sexual ou por infecções), o que torna as mulheres mais suscetíveis a contraírem a doença.

“A partir do momento em que a relação é de fato consumada, o órgão íntimo da mulher acaba, muitas vezes, sofrendo leves lesões, o que é normal. Mas esse ‘normal’, para o vírus do HIV, é suficiente”, esclarece Kênia.

E suas dicas a respeito do uso de preservativo não se limitam às pessoas solteiras. “Teoricamente, a pessoa tem um parceiro que considera fixo e por isso deduz que está segura, mas sabemos que há exceções, isso no caso de quem possui relacionamentos extraconjugais. Por isso a dica é, que no caso de dúvida, a menor que for, seja feito o uso da camisinha”, aconselha.

Vida sexual ativa (e cada vez mais cedo)

E, entrando no assunto de relações sexuais, Kênia afirma: hoje a vida sexual está começando cada vez mais cedo. Atendendo a pacientes novas, a partir dos 14 ou até mesmo 13 anos de idade, a ginecologista se mostra otimista pelo fato de que uma grande parte dessas garotas faz o acompanhamento devido – mas a realidade de sua clínica, como ela mesma reforça, não é a do Brasil.

“É muito uma questão de hábito. A mãe frequenta um médico ou médica ginecologista e então traz a filha também. Esse acompanhamento é muito importante. Mas essa é a realidade do que vivo em meus atendimentos aqui, que não é a mesma de outros locais”, destaca.

O estresse e a falta de desejo

Outro ponto abordado por Kênia é a disfunção sexual, principalmente em jovens. “Teoricamente se imagina que a mulher, assim que está iniciando a fase adulta, tenha mais desejo. Mas o que vejo com mais frequência a cada dia é que o desejo está sendo direta e negativamente influenciado por fatores externos, como o estresse”, pontua.

A médica diz que nesse ponto homens e mulheres “funcionam” de formas bem diferentes. “O homem não é tão afetado por fatores externos para sentir prazer em um momento de intimidade. Já a mulher, ela até pode estar em seu período fértil, mas se alguma coisa durante o dia a incomodou ou estressou, às vezes até mesmo uma “frase descuidada” por parte do parceiro poderá afetar a disposição para a intimidade. Questões envolvendo a autoestima, sono reparador, alimentação, atividade física regular, boa convivência familiar e no trabalho (ou escola) podem interferir negativamente e nem sempre o companheiro entende isso”, explica a ginecologista.

Hormônios? Cuidado com eles

E na busca por alternativas para lidar com essas questões, muitas mulheres recorrem aos hormônios. “Atualmente”, explica Kênia, “observo um “modismo perigoso” de usar hormônios para finalidades estéticas (que não é o objetivo original deles) e ainda o uso sem supervisão médica”, comenta.

Para ela, um grande veneno que também adoece mulheres e homens, de diversas formas, são os assuntos mal resolvidos. Estresse, mágoa, raiva e sentimentos negativos acabam prejudicando a imunidade e trazendo consequências mais graves.

“Aos 18 anos é uma gripe, com 50 pode ser um câncer. Já vivenciei casos tristes, quando uma paciente perdeu alguém próximo e “de repente” tem câncer. Acredito e sempre digo que o tratamento é essencial, mas a postura preventiva é melhor. Se cuidar, se respeitar, se alimentar adequadamente – tudo isso faz diferença na qualidade de vida a longo prazo. Além disso, sempre repito: o perdão é também um santo remédio”, reflete a profissional.