Agressão e Covardia

Após ficar internado seis dias no Hospital Beatriz Ramos, seu Harold, de 83 anos, não resistiu aos ferimentos que sofreu durante o assalto e veio a óbito

Por Aline Brehmer 09/11/2018 - 09:56 hs
Foto: Divulgação
Agressão e Covardia
Seu Harold foi assaltado em sua casa. Após ser rendido por duas pessoas, foi amarrado e espancado

“Ele disse que tinha medo de pegar a estrada e cair. Na cabeça dele passou que ninguém iria vê-lo aquela hora da noite ou, que se visse, fosse pensar ser apenas mais uma pessoa que bebeu demais e acabou desmaiando na rua”.

O relato acima é do senhor Harold Schneider, de 83 anos, mas quem conta essa história para nós é uma das sobrinhas dele, que está junto comigo na sala de espera do Hospital Beatriz Ramos (HBR), relembrando os momentos de pânico que seu tio viveu há uma semana.

Senhor Harold foi vítima de um assalto que aconteceu no bairro Mulde Central, em Timbó. Mas, além de ter seu dinheiro levado, ele sofreu muitas agressões, apresentando ferimentos por todo o corpo, além de ter tido duas costelas trincadas.

A crueldade desse caso chocou a comunidade local e regional. Segundo a sobrinha da vítima, Harold estava naquela tarde, por volta das 15h, se preparando para roçar – foi quando duas pessoas chegaram e pularam em suas costas, derrubando-o em seguida.

“É isso que ele nos conta. Ele não teve tempo de ver nada de nenhuma das duas pessoas que o atacaram, mas tem certeza que havia duas delas ali. Logo depois eles falaram que era para ele ficar quieto, porque só queriam seu dinheiro. Então amarraram suas mãos para trás e em seguida os pés”, conta a sobrinha de Harold, visivelmente abalada e apreensiva com toda a situação.

Tudo por R$ 800,00, linguiça e margarina?

Naquele momento, seu Harold falou à dupla que o ameaçava não ter dinheiro em casa. “Só que os bandidos encontraram R$ 800,00. Eles chutaram e deram vários socos no meu tio. Depois, pegaram o dinheiro e um pouco de comida (margarina e linguiça), fugindo em seguida. Meu tio ficou ali horas mexendo os pés para conseguir se soltar da corda que o amarrava, o que aconteceu por volta das 21h. Nós pedimos para ele porque ele não tinha falado logo de cara que tinha o dinheiro em casa, mas a gente sabe né, é tão difícil e suado conseguir juntar um dinheirinho para entregar assim. Meu tio é colono a vida toda, sempre viveu disso e nunca passou por nada parecido, é muito triste”, comenta a sobrinha.

E foi assim, tarde da noite, que seu Harold conseguiu enfim pedir ajuda, cambaleando na beirada da rua, com as mãos ainda amarradas, até que chegou na casa de uma das vizinhas.

Assim que foi socorrido, essa mesma vizinha ligou para a sobrinha dele e falou o que tinha acontecido. “Nós só pulamos no carro e fomos até na casa desses vizinhos. Chegando lá colocamos meu tio no carro e levamos ele até o Pronto Socorro (PS) do Hospital Oase. Eles amarraram tão forte os braços do meu tio que as mãos ficaram muito, muito inchadas. Hoje já está melhor”, relembra.

Segundo ela, seu tio diz não sentir dor, apesar das duas costelas trincadas e de todos os golpes que recebeu – ainda visíveis através dos ferimentos que percorrem seu corpo.

Altos e baixos

Seu Harold ganhou alta e foi para a casa da sobrinha. Mas, na noite do último sábado, dia 10, acabou se sentindo mal e desmaiou, sendo levado até o Hospital Beatriz Ramos (HBR), em Indaial, onde está internado até o momento.

Na tarde dessa quarta-feira, dia 7, enquanto conversávamos, essa sobrinha revelou que seu tio chegou a falar que sentia a morte chegando cada vez mais perto. “Ele disse, para mim e para minha irmã, que não aguentaria até essa noite, mas sentei e conversei com ele. A verdade é que todos sabemos que, em algum momento, ficaremos doente ou acabaremos caindo em uma cama de hospital. Mas assim? Desse jeito? Com essa covardia? Meu tio sempre foi uma pessoa boa, do bem, calma, não merecia isso. Ele está muito traumatizado e em uma noite nessa semana chegou a arranhar as enfermeiras durante uma crise. Está sendo muito difícil para ele e também para nós, que o vemos nesse estado, uma pessoa que sempre trabalhou e foi independente, que levava sua vidinha feliz do jeito que era”, desabafa a sobrinha.

Os últimos momentos de seu Harold

Nessa quarta-feira, dia 7, o estado de saúde de seu Harold piorou e ele estava entubado, aguardando vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de algum dos hospitais da região. Infelizmente, na noite de ontem, dia 8, não resistiu mais e veio a óbito. Seu velório acontece em sua casa, no bairro Mulde Central, como era de sua vontade.

Quando a redação conversou com a sobrinha dele, na quarta à tarde, ela se mostrava forte e otimista. Os planos eram que, a partir do momento em que seu Harold ganhasse alta, ele fosse morar as sobrinhas. Como é solteiro e nunca teve filhos, foram elas que se colocaram à disposição para cuidar dele.

“Nós já queríamos que ele tivesse vindo morar com a gente, só que ele se criou naquela casa, ama aquele lugar, os bichos, os gatos, a roça, então sempre preferiu ficar lá, mas agora não tem mais como deixa-lo morando sozinho”, havia comentado a sobrinha da vítima.

Polícia Civil investiga o caso

O delegado responsável pela investigação do caso, Raphael Souza Werling, disse à redação do Café Impresso que “há uma linha de investigação e estamos esperando o resultado de provas técnicas pra concluir o inquérito policial com êxito. Esperamos concluir nos próximos dias, mas temos que aguardar”.