O que está por trás do último adeus?

Há 100 anos a Funerária Haas dedica seu trabalho para trazer conforto e dignidade nos momentos mais difíceis da vida

Por Aline Christina Brehmer 20/12/2018 - 10:11 hs
Foto: Divulgação

Um último olhar, o último toque, a atenção aos mínimos detalhes àqueles que, em seguida, terão sua última despedida. A morte é de fato uma palavra forte, que gera impacto e medo. Ainda assim, importante reconhecer o trabalho daqueles que, todos os dias, buscam formas de, em meio às dificuldades e luto, evidenciar o que há de singular em cada um.

Há 100 anos a Funerária Haas atua com o objetivo de amenizar a dor das famílias que estão perdendo alguém, dando a chance para que as pessoas possam se despedir de seu ente querido de forma adequada e digna, valorizando qualidades e virtudes que pessoa que partiu.

Hoje, o serviço funerário é muito mais do que o simples ato de preparar o corpo para o velório, é o meio pelo qual a família pode expressar toda sua gratidão e homenagear aquele que partiu enaltecendo acima de tudo o legado e a vida.

Para Rafael Cavilha, gerente da Funerárias Haas, há várias lições que se aprendem trabalhando nessa área. “A primeira delas é reconhecer que somos mortais. A morte atinge a todos, sem distinção. Isso faz com que a gente comece a compreender a vida de forma diferente, valorizando as pequenas coisas, respeitando o próximo, tendo compaixão pelo sentimento alheio, afinal, algum dia chegará nossa hora também e, inevitavelmente, estaremos no lugar daqueles que são, hoje, nossos clientes”, reflete.

E ele relembra uma história especial, em meio a tantas que a Funerária Haas já presenciou. “Certa vez, preparamos o corpo de uma senhora que gostava de jogar cartas. A família pediu que fosse colocado um baralho na mão dela, mas fizemos mais do que isso. Praticamente foi feita uma batida de mão, com dois coringas. Assim, colocamos a primeira carta e a segunda que viesse, ela batia”, relata.

De marmoraria à funerária

Os 100 anos da Funerária Haas representam uma história marcada por várias pessoas, por várias mãos que unidas em torno de um mesmo objetivo, lutaram com garra, enfrentaram os desafios e principalmente se preocuparam em bem atender e acolher todos nossos clientes.

A empresa da família Haas se tornou funerária na década de 1960, mas sua história iniciou muito antes. Mathias Haas e seu pai, Anton Haas, receberam o primeiro pedido para fazer uma lápide, para uma criança, em 1907.

Não demorou para que eles percebessem que com o domínio técnico desenvolvido na Europa, somado à grande disponibilidade de matéria prima, poderiam transformar esse pedido singular em um grande negócio.

Foi assim que optaram por abrir uma oficina voltada à produção de lápides, atendendo especialmente o mercado funerário, produzindo túmulos e ornamentos.

Em 1911 Anton partiu com a família para morar nos Estados Unidos, mas Mathias ficou e, sete anos depois, fundou a Marmoraria Haas. Ele faleceu aos 75 anos, em 1963, mas seu filho, Guido Walter Haas, já assumia a empresa nessa época, adequando-a ao momento de industrialização e direcionando a produção para fabricação em série com chapas de granito polido e marmorite/granitina.

Seguindo a linha familiar em 1967 o filho de Guido, Rolf Mathias Haas, quem assumiu a administração da Marmoraria, abrindo no final da década de 60 uma empresa de atendimento funerário, além de uma pequena fábrica de caixões no final da década de 70, inserindo os negócios da família Haas em um novo ramo de atendimento em serviços funerários.

Cavilha evidencia que o setor funerário vem sofrendo grandes mudanças. “Vai muito além do que o “simples” ato de preparar o corpo para o velório. Nosso trabalho é o meio pelo qual a família pode expressar toda a sua gratidão e homenagear aquele que partiu, enaltecendo, acima de tudo, o legado e a vida”, declara.

Memorial Funerário Mathias Haas

Nesta nova etapa da história dos Haas, um marco foi a inauguração de uma capela velatória em 1987 (até então os velórios aconteciam em residências ou dentro da própria igreja).

Outra grande ideia que Ronald Haas colocou em prática foi a implementação do plano funerário Boa Vida, em 1998, ampliando a atuação de assistência funerária.

Ao mesmo tempo, não é possível falar da família Haas sem mencionar o Memorial Funerário Mathias Haas, inaugurado em 2017. Se trata de uma iniciativa particular. O local abriga um acervo formado por artigos de funerária, ornamento tumulares, fotografias, registros de empregados, desenhos, materiais de expediente, formas tumulares, ferramentas, máquinas, dentre outros.

Nesse mundo de memórias e itens históricos, o destaque vai para os diários escritos por Mathias e sua esposa, Rosa Haas. “O museu expõe um pouco da trajetória daqueles que têm a morte como ofício, buscando dar visibilidade aos profissionais da área, além de dedicar espaço para reflexões sobre a morte e, sobretudo, sobre a dinâmica da vida”, elucida Cavilha.

Hoje, a equipe responsável por coordenar o Memorial é formada pela doutora em história Elisiana Trilha Castro, a museóloga Anna Julia Serafim, o estagiário de história Marcelino Valencio Junior e pelos membros da família, Ronald Haas e Elke Haas B. Fonseca.

“O trabalho da marmoraria com arte funerária era sazonal, ou seja, dependia principalmente de datas como Finados e, com o passar dos anos, o investimento em arquitetura mortuária, por parte das famílias, foi ficando cada vez menor”, relata Fonseca.

Diante da crise vivida pelo setor, ele diz que Rolf buscou por novos empreendimentos para a Haas e foi a partir da conversa com um amigo que surgiu a possível solução para o seu negócio: abrir uma funerária, o que aconteceu no final da década de 1960.

Pouco tempo depois ele arrendou outra concorrente, a Lubow, também em Blumenau, que somente na década de 80 foi transferida para a sede da marmoraria, passando então a realizar a venda de caixões e demais produtos.

Foi assim que a oficina de mármores passou a se chamar “Marmoraria e Funerária Haas”.

Projeção para 2019

“A missão de nossa empresa sempre foi acolher nossos clientes no momento mais difícil de suas vidas, ou seja, o momento de despedida de um familiar ou amigo. Acolher com compaixão e respeito é o que nos move, saber que um familiar ou amigo nos confiou os cuidados de uma pessoa querida que veio a falecer certamente é uma responsabilidade muito grande e a chance de amenizar a dor”, diz Cavilha,

Ele destaca que o foco em 2019 é a expansão dos serviços funerários em Timbó e região. “Acreditamos que será um marco em nossa história, pois teremos a responsabilidade de prestar assistência integral, que vai do funeral à cremação, com cerimônia de despedida personalizada, focada em enaltecer o legado e a vida de quem partiu. Estaremos sempre inovando e, manter-se por 100 anos em atividade, é a prova de que estamos no caminho certo. Agora iniciamos a luta para compor, junto aos nossos clientes, a história dos próximos 100”.