“O formol quase me matou”, Aline Milbratz

Após realizar um procedimento químico no cabelo, Aline Milbratz sofreu uma grave intoxicação devido ao uso excessivo de formol

Por Aline Brehmer 01/02/2019 - 10:12 hs
Foto: Divulgação/Redes sociais
“O formol quase me matou”, Aline Milbratz
Há duas semanas Aline teve sua crise mais grave e, agora, busca respostas para saber o que desencade

Olhos e garganta extremamente inchados, falta de ar e coração acelerado. Os sintomas de Aline Milbratz, de 28 anos, foram desencadeados devido a uma forte reação alérgica ao formol. O desejo de ter cabelos lisos (que é compartilhado por milhares de mulheres) acabou custando muito mais do que o previsto.

O alisamento progressivo passou a ser presente na vida da fotógrafa há três anos. Desde então, a cada seis meses ela ia no salão retocar o procedimento e garantir que suas madeixas ficassem, em suas palavras, “lisas e comportadas”.

 A primeira reação

Com o cabelo naturalmente cacheado, Aline comenta que não se sentia à vontade com sua aparência natural e por isso decidiu mudar. Foi em 2017 que ela sofreu a primeira reação alérgica.

“Eu fazia o alisamento sempre na mesma cabeleireira, mas em determinado momento recebi indicação de outra profissional que faz alisamento e marquei com ela. Logo quando essa cabeleireira começou a passar os produtos no meu cabelo senti meus olhos arderem. Eu tinha um pano no meu rosto para aguentar de tão forte que o cheiro era. Assim que saí do salão fui para casa e meus olhos já estavam inchados, não conseguia respirar e corri para o hospital”, relembra Aline.

Ela diz que no hospital os médicos explicaram que se tratava de uma intoxicação devido ao uso excessivo do formol e indicaram que, assim que Aline chegasse em casa, lavasse muito o cabelo, a fim de eliminar o máximo possível do produto.

 Em busca de respostas

Aquela reação era algo completamente desconhecido e assustador para Aline. Por isso, decidiu começar a pesquisar melhor sobre o procedimento do alisamento e revela ter se assustado com algumas informações que obteve.

“Li muito, conversei com médicos e descobri que o formol é um produto que penetra no couro cabeludo, entrando na corrente sanguínea e que nunca mais sai. A cada novo procedimento ele vai acumulando no seu organismo e não tem como elimina-lo. É por isso que a Anvisa permite, no máximo, 0,2% de formol nos produtos. Só que essa porcentagem serve como conservante, não é o suficiente para alisar. Os fios só mudam realmente se a mistura tiver pelo menos 20% de formol em sua composição”, relata.

Refletindo sobre todo o tempo em que já fazia o alisamento, Aline diz que, com base no que leu, ouviu e se informou, acredita que a intoxicação teria ocorrido em qualquer outro salão que fizesse uso excessivo do formol, afinal, segundo sua teoria, “já havia uma quantia significativa do produto em sua corrente sanguínea”.

 Um ano e 14 idas ao hospital

Somente em 2017 Aline deu entrada no hospital 14 vezes devido às crises alérgicas desencadeadas pelo último alisamento que tinha feito. Ela explica que seu organismo desenvolveu alergia a outros componentes.

“Hoje não posso tomar diversos medicamentos, nenhum tipo de anti-inflamatório e nem mesmo usar esmaltes. Isso não foi um problema tão grande, porque passei a optar por medicamentos naturais. Quando sinto uma dor mais forte, como enxaqueca, preciso ir no médico para ele me receitar algo (que geralmente é à base de corticoide)”, esclarece.

Prevenida, ela optou por listar os medicamentos aos quais é alérgica em uma folha. Fez cópia dela diversas vezes e deixou uma dentro de sua carteira, outra no carro e demais lugares estratégicos – além de informar esse mesmo conteúdo aos amigos e familiares.

“Penso que se um dia viesse a sofrer um acidente, por exemplo, o simples fato de aplicarem na minha veia uma injeção com dipirona pode me matar. Então sempre tenho junto um antialérgico e essas listas, inclusive quando faço viagens mais longas e não há hospital por perto”, diz.

 Começando do zero (mais uma vez)

Seguindo os cuidados indicados pelos médicos e, principalmente, mantendo uma distância segura de qualquer produto que contenha formol, Aline não estava mais sofrendo nenhuma crise alérgica – até duas semanas atrás.

Ela diz que neste ano teve a reação mais grave e forte de todas, mas, diferente das outras vezes, não sabe ao certo por qual motivo teve essa crise.

“Já fui em três médicos desde 2017, mas agora preciso descobrir o que causou a reação no último mês. Eles (médicos) explicaram que uma reação alérgica demora até sete dias para se manifestar, ou seja, pode ter sido qualquer coisa que comi, toquei ou respirei naquela semana. Estou começando do zero de novo, vou precisar fazer exames para ver o que me atacou e como posso me tratar agora”, desabafa.

 Outras alergias

Aline diz que outra consequência dessa reação foram alergias variadas, como na pele, por exemplo. A fotógrafa também precisa estar atenta às suas compras, até mesmo em itens básicos como sabonete – precisa sempre ser o neutro.

Mas, para ela, o que realmente assusta é o descaso que alguns profissionais têm com seus clientes e consigo mesmos. “Se faz mal para mim, que fiz o alisamento poucas vezes, imagina para o profissional que lida com isso, com esses produtos, todos os dias. A verdade é que seu cabelo só vai alisar de forma mais duradoura se tiver formol. Depois de tudo o que vivi nos últimos anos aprendi a aceitar meus cachos e gostar deles. Claro que às vezes recorro à chapinha, mas afirmo com toda segurança que, se fosse hoje, eu não teria feito alisamento nunca. O formol quase me matou”, admite.

 Alertas da Anvisa

Segundo consta no site oficial da Anvisa, “Tanto o formol quanto o glutaraldeído, devido à semelhança química com o formol, não podem ser utilizados como alisantes capilares. Eles têm uso permitido como conservante e, no caso do formol, também como endurecedor de unhas. Qualquer outro uso acarreta sérios riscos à saúde da população. Adicionar formol é infração sanitária (adulteração ou falsificação) e crime hediondo, de acordo com o art. 273 do Código Penal”.

Mais informações sobre orientações relacionadas aos alisantes podem ser encontradas no site www.portal.anvisa.gov.br/alisantes.