Como se fosse a primeira vez

Na terceira idade, Leonilda e Marcos comprovam que o amor e o frio na barriga podem ser vividos por todos, em qualquer fase da vida

Por Aline Brehmer 07/06/2019 - 14:48 hs
Foto: Marcelo/Jornal Café Impresso

“Me sinto uma adolescente, com frio na barriga e apaixonada. É muito bom viver isso tudo de novo”. O brilho nos olhos e o sorriso estampado no rosto confirmam com ainda mais força a frase de Leonilda Nolli.

Hoje, aos 70 anos, a sensação é como se tivesse 17. Na data considerada a mais romântica do ano, que é o dia 12 de junho, ela completa um ano de namoro ao lado de Cleocir Marcos Dellai, de 61 anos.

Sentados lado a lado e de mãos dadas enquanto trocam sorrisos e relembram sua história, o casal mostra que é sim possível ser feliz e apaixonado em qualquer fase da vida – afinal, em muitas situações as idades não passam de números.

“O que envelhece é apenas nosso corpo, o espírito permanece sempre jovem, assim como o coração. Nunca imaginei que fosse sentir “borboletas” de novo um dia, mas a vida me trouxe essa grata surpresa”, compartilha Nidi, como Leonilda é conhecida.

A volta por cima de Nidi

E toda a surpresa diante dessa paixão inesperada não foi à toa. Em 2016, às vésperas de completar 50 anos de casamento, Nidi perdeu seu companheiro de vida. “Foi um dia antes do meu aniversário, mas nada disso mais importava, simplesmente fiquei sem chão. Não sabia por onde começar, o que fazer”, relata.

Diante da dor imposta por uma separação indesejada, ela disse aos filhos que nunca mais iria ter alguém em sua vida como namorado ou marido novamente – mas é justamente nessas horas que a vida surpreende.

“Sempre fui uma pessoa muito brincalhona e alto astral, mas essa dor me abalou de forma profunda. Nunca deixei de amar meu esposo e senti que estava começando a entrar em depressão. Não saía e nem me divertia mais”, compartilha.

Adriana Nolli, que tem 38 anos, auxiliou a mãe nessa fase difícil incentivando-a a sair e voltar a viver – foi quando Leonilda conheceu os Grupos da Terceira Idade de Timbó.

“Comecei a fazer novas amizades e isso trouxe mais cor para o meu mundo. Sempre fui uma pessoa que, como dizem, nunca deixa a peteca cair. Dei a volta por cima e até consegui convencer minha família a formarmos um grupo de coral para cantar na igreja”, conta entre risos.

E foi ali, na Igreja Nossa Senhora Aparecida, que os caminhos de Nidi e Marcos se cruzaram.

A primeira dança

Algumas trocas de olhares, inclusive nos salões dos diversos bailões em comum que frequentavam, deram para ambos a certeza que havia um sentimento nascendo entre eles.

“Sempre via ela na igreja junto com filhos e a família, então ficava pensando: “como vou fazer para ir falar com ela agora? Preciso dar um jeito!”, e acabava nunca indo”, admite Marcos.

Enquanto isso, Nidi também não tinha coragem de dar o primeiro passo por achar que ele ainda era casado. “Como sempre o via rodeado de amigas pensei que uma delas fosse sua esposa, mas para minha sorte ele era solteiro”, diz.

Enfim, chegou o dia em que conversaram a primeira vez e trocaram os números de celular. Justamente na semana do Dia dos Namorados, combinaram que iriam se encontrar em um baile.

“Ela perguntou: “Tem certeza que você vai ir?” e eu respondi que sim, sem dúvida”, relembra Marcos.

“Minha filha Adriana estava junto comigo no baile e de repente ela falou: “ó, o cara de quem você falou tá entrando lá”. Foi quando senti um friozinho na barriga. Ele então pegou uma cerveja, dois copos e veio em direção à mesa onde eu estava. Cumprimentou meus amigos, me ofereceu o copo de cerveja e eu aceitei. Foi nessa noite, no dia 12 de junho do ano passado, que tivemos nossa primeira dança. Desde então não nos desgrudamos mais. Todas as emoções sentidas hoje, é como se fosse a primeira vez mesmo, revive o que há de melhor na gente”, reflete Nidi.

O frio na barriga

Pouco mais de um mês depois do primeiro beijo, no dia 17 de julho de 2018, aniversário de Nidi, o relacionamento do casal se tornou oficial. “Ele conheceu meus filhos e eu os dele. É engraçado porque, quando nossos filhos são adolescentes, precisam da nossa aprovação para namorar e, agora, nós precisávamos da aprovação deles”, compara entre risos.

Mas, nesse dia, o frio na barriga foi sentido por Cleocir. “Eu deveria estar lá às 20h30, mas o tempo não passava. Quando finalmente chegou a hora pensei: “Quer saber de uma coisa? Vamos enfrentar, seja o que Deus quiser”, e fui. Lá havia umas 100 pessoas e conhecia várias, algumas era parentes inclusive. Me senti em casa desde o começo”, conta.

Nidi teve três filhos com seu falecido marido: Adir Nolli, de 49 anos, Aldacir Nolli, de 47 anos e Adriana. Marcos teve dois filhos, frutos de seu primeiro casamento (hoje ele é divorciado), que são Taffarel Douglas Dellari, de 29 anos e Liandra Paola Dellai, hoje com 24 anos.

Uma nova história

E passado o tempo, tudo deu certo. Durante os últimos 12 meses, as famílias Nolli e Dellai se aproximaram. Com a aceitação e apoio dos filhos, o casal (que se chama pelo apelido de “baby”) também continua fazendo seus passeios, indo à missa e, principalmente, curtindo muitos bailes.

“Se por um lado fui eu quem tive coragem de chegar até nela, foi a baby quem oficializou nosso namoro. Era um dia quente quando estávamos em uma festa e ela disse: “Preciso conversar com você lá fora”, e eu fui né. Quando cheguei, ela me olhou e perguntou: “Escuta, o que você quer comigo?”, respondi que queria assumir nosso namoro, levar ela a sério. Ela me falou que queria o mesmo, mas lembro que também que ela me olhou e falou que eu não ia lembrar do que assumi porque havia tomado umas cervejas. Só que lembro até hoje, em detalhes”, conta Marcos enquanto Nidi olha para ele rindo e concordando com toda a história.

Juntos para o que der e vier

Nas quartas-feiras, o famoso “dia oficial de ver o(a) namorado(a)”, o casal quase sempre está junto. Quem também é companhia indispensável é a fofa Luna, de oito anos, a Shihtzu de Nidi que, como os demais, aceitou a entrada de Marcos na família.

“Nem sempre eu e a baby conseguimos nos ver nesse dia, mas já sinto saudade. As conversas não falham, direto estamos trocando mensagens de WhatsApp também”, conta Marcos.

Em um mundo tomado por inúmeros relacionamentos rasos, tristeza, solidão e depressão, a história de Nidi e Marcos comprova que a felicidade não tem idade, local ou hora para acontecer – basta você permitir que ela entre em sua vida.

“Precisamos ser felizes, amar de verdade e aproveitar as oportunidades. O ontem não volta, quanto ao amanhã não podemos fazer nada ainda, mas o que fizermos hoje nunca poderá ser desfeito. O que tem de existir na vida, principalmente entre um casal, é o amor. Sem isso não é possível superar as barreiras e dificuldades. Tem que sentir isso no fundo do coração, principalmente nas horas difíceis, é o que realmente sustenta uma relação. Também é preciso respeito e tolerância, sem deixar que o orgulho fale mais alto, isso é o que acaba isolando as pessoas. Quem está junto precisa permanecer lado a lado para o que der e vier. Momentos difíceis chegam para fortalecer o amor”, aconselham.