Os medos (e a Fé) de Tati Uller
Aos 33 anos, a timboense relata como tem enfrentado a mais árdua batalha de sua vida
Tudo começou com um caroço. Há um mês ele não estava ali e sua aparição pegou Tati de surpresa. Em um primeiro momento ela não chegou a pensar que fosse algo grave (quem dera que pudesse ser fatal), mas sua mãe a alertou para procurar um médico porque poderia ser algo perigoso (e instinto de mãe nunca falha).
Foi assim que ela decidiu ir atrás de um especialista para detectar
o que era aquilo. O resultado não demorou a aparecer e pegou todos de surpresa.
Aos 33 anos Tatiane Uller encarou uma nova e assustadora realidade: estava
lutando com um câncer de mama triplo negativo, um dos tumores mais agressivos
que há.
A notícia foi recebida no dia 22 de junho e, de lá para cá, muita coisa mudou.
Faz exatamente uma semana que ela compartilhou, através de uma live no facebook no Café Impresso, como tem sido sua rotina nos últimos dias. Em pouco tempo a repercussão dessa conversa foi gigante. Centenas e mais centenas de pessoas foram conversar, algumas mandando mensagens de apoio, outras buscando respostas para algumas dúvidas.
Desejos de melhora e orações são o que ela mais tem recebido nos últimos dias, fortalecendo ainda mais sua fé e esperança.
Confira, a seguir, o depoimento que Tati deu em primeira mão ao Café
Impresso relatando o que tem sido os últimos três meses.
Nova vida em
três meses: o emocionante relato de Tati Uller
“Tenho dois
filhos e amamentei por um bom tempo, por isso criei o hábito de fazer o
autoexame. Foi assim que, no final de junho, senti um nódulo no seio direito,
sentia ele bem grande. Durante umas duas semanas não dei muita atenção. Sabia
que ia ver o que era isso, mas não marquei médico do dia para a noite.
Quando fui, a
médica fez um ultrassom na hora. Ela disse que exames seriam feitos, mas vi que
ela estava preocupada. Fiz mamografia, ultrassom e ela me pediu para fazer
também uma biópsia. Nesse tempo eu chorava escondida, mas em momento algum
pensei: “tenho um câncer, vou morrer”. Pensava que tinha que tratar, mas foi
difícil.
Na época
contei para minha sogra, mãe, para meu marido e alguns amigos mais próximos só.
Estava com medo do desconhecido e, quando o resultado chegou, minha médica me
ligou. Ela não me disse “você tem câncer”, mas já me indicou um mastologista.
Agendei uma
consulta no dia seguinte e ele explicou qual era meu tipo de câncer. Fizemos
mais exames, até para ver se não havia tumores em outras partes do corpo.
Quando vieram os resultados encaminhei a um oncologista. Juntos, decidimos não
fazer cirurgia de imediato, mas sim fazer as quimios primeiro.
Minhas
quimioterapias terminam em janeiro, a princípio. Tenho que fazer 16 (quatro
vermelhas e 12 brancas) e até o momento fiz duas, mas logo na primeira o câncer
diminuiu 50%. Na época optei por não fazer a cirurgia porque meu exame de
genética ainda não estava pronto e eu não podia esperar.
Meu câncer é
o mais agressivo, que se espalha mais fácil e tem tendência a aparecer em
mulheres mais novas. Por outro lado, é o que melhor responde às quimioterapias.
Mas após terminar as quimios irei fazer cirurgia, para evitar que fique ali
qualquer célula cancerígena e eu precise passar por isso tudo de novo.
Quando faço a
quimio, os primeiros seis dias são muito difíceis. Me sinto enjoada, cansada,
tonta, com a vista embaçada. São os dias nos quais preciso me retirar para
descansar. Mas, depois disso, é hora de reagir.
Você tem que
sair da cama e reagir, tentar ao máximo retomar sua vida. Se você se deixar
abalar, isso vai afetar muito lá na frente. Há médicos que ficam surpresos com
o quanto a Fé e o otimismo das pessoas refletem de uma boa forma no processo de
recuperação e cura.
Mas claro que
há os momentos difíceis. Faz duas semanas que optei por raspar meu cabelo,
porque já estava caindo demais. Busquei tentar fazer esse ser um momento
alegre, marcante, e minha maior preocupação sempre foi como meus filhos, que
são pequenos, iriam reagir.
O mais velho
disse que eu estava linda, o mais novo me falou para colocar o cabelo de volta
(mas agora já se acostumou com o novo visual da mãe). Lembro que, no dia
seguinte ao corte, tive uma sessão de quimio e logo no sábado, dois dias
depois, era aniversário do meu caçula, que completou três anos.
Quando optei
por cortar meu cabelo decidi fazer isso em casa, com a presença da família e de
amigos. Uma amiga me maquiou, outras fez fotos, estava me sentindo bem comigo
mesma.
Mas quando
foi hora do aniversário e percebi que teria que encarar outras pessoas que não
haviam me visto assim ainda me senti, de certa forma, constrangida. Hoje não
mais, passou, e claro que eu faria de novo aquela comemoração ou o que quer que
fosse preciso pelos meus filhos.
Sem dúvida
meu marido está sendo uma pessoa incrível em meio a isso tudo. No começo acho
que ele sofreu ainda mais do que eu com essa notícia, e sei que agora também
continua sendo difícil, mas juntos temos a certeza de que iremos superar tudo
isso.
Com certeza
hoje minha rotina é outra. Não posso sair para comer em qualquer lugar, minha
alimentação é restringida. Mas continuo praticando atividades, até por ser uma
recomendação médica, já que ajuda na ansiedade também.
Você tem que
enfrentar o que está passando, não adianta ir contra. Tento fazer isso com
humor sempre, me cuidando, até porque se sua imunidade estiver baixa você não
pode fazer a quimio – e quero terminar o quanto antes.
O que digo às
mulheres é que, se sentirem qualquer desconforto ou algo diferente em suas
mamas, ou qualquer parte do corpo, procurem um médico – não deixem para depois.
Pode não ser nada, mas pode ser algo grave.
Depois que
você descobre algo assim, sua forma de olhar e viver muda por completo. Sou
hoje uma pessoa mais calma, estava sempre estressada. Meus filhos sentem isso,
sinto que estão mais próximos de mim.
O poder da
mente é incrível! Posso dizer que, hoje, sou mais feliz do que antes. É difícil
para algumas pessoas entenderem isso, mas acordo todos os dias grata, afinal,
há pessoas que estão em situações piores que a minha. Nunca duvidei que um dia
vou me curar – e esse dia está cada vez mais próximo.
Quero também
deixar registrado aqui o meu muito obrigada a todos que têm mandado mensagens
de carinho e apoio. São pessoas que fazem, e muito, a diferença nos meus dias.
Agradeço de coração aos meus amigos e à minha família – é deles que vem toda a
minha força, onde minha Fé se fortalece dia após dia. Amo vocês”.
Newsletter
Cadastre seu email e receba nossos informativos e promoções de nossos parceiros.