Os medos (e a Fé) de Tati Uller

Aos 33 anos, a timboense relata como tem enfrentado a mais árdua batalha de sua vida

Por Aline Brehmer 20/09/2019 - 12:09 hs
Foto: Débora Rosa

Tudo começou com um caroço. Há um mês ele não estava ali e sua aparição pegou Tati de surpresa. Em um primeiro momento ela não chegou a pensar que fosse algo grave (quem dera que pudesse ser fatal), mas sua mãe a alertou para procurar um médico porque poderia ser algo perigoso (e instinto de mãe nunca falha).


Foi assim que ela decidiu ir atrás de um especialista para detectar o que era aquilo. O resultado não demorou a aparecer e pegou todos de surpresa. Aos 33 anos Tatiane Uller encarou uma nova e assustadora realidade: estava lutando com um câncer de mama triplo negativo, um dos tumores mais agressivos que há.

A notícia foi recebida no dia 22 de junho e, de lá para cá, muita coisa mudou.


Faz exatamente uma semana que ela compartilhou, através de uma live no facebook no Café Impresso, como tem sido sua rotina nos últimos dias. Em pouco tempo a repercussão dessa conversa foi gigante. Centenas e mais centenas de pessoas foram conversar, algumas mandando mensagens de apoio, outras buscando respostas para algumas dúvidas.


Desejos de melhora e orações são o que ela mais tem recebido nos últimos dias, fortalecendo ainda mais sua fé e esperança.


Confira, a seguir, o depoimento que Tati deu em primeira mão ao Café Impresso relatando o que tem sido os últimos três meses.

 

Nova vida em três meses: o emocionante relato de Tati Uller

“Tenho dois filhos e amamentei por um bom tempo, por isso criei o hábito de fazer o autoexame. Foi assim que, no final de junho, senti um nódulo no seio direito, sentia ele bem grande. Durante umas duas semanas não dei muita atenção. Sabia que ia ver o que era isso, mas não marquei médico do dia para a noite.

Quando fui, a médica fez um ultrassom na hora. Ela disse que exames seriam feitos, mas vi que ela estava preocupada. Fiz mamografia, ultrassom e ela me pediu para fazer também uma biópsia. Nesse tempo eu chorava escondida, mas em momento algum pensei: “tenho um câncer, vou morrer”. Pensava que tinha que tratar, mas foi difícil.

 

Na época contei para minha sogra, mãe, para meu marido e alguns amigos mais próximos só. Estava com medo do desconhecido e, quando o resultado chegou, minha médica me ligou. Ela não me disse “você tem câncer”, mas já me indicou um mastologista.

Agendei uma consulta no dia seguinte e ele explicou qual era meu tipo de câncer. Fizemos mais exames, até para ver se não havia tumores em outras partes do corpo. Quando vieram os resultados encaminhei a um oncologista. Juntos, decidimos não fazer cirurgia de imediato, mas sim fazer as quimios primeiro.

 

Minhas quimioterapias terminam em janeiro, a princípio. Tenho que fazer 16 (quatro vermelhas e 12 brancas) e até o momento fiz duas, mas logo na primeira o câncer diminuiu 50%. Na época optei por não fazer a cirurgia porque meu exame de genética ainda não estava pronto e eu não podia esperar.

Meu câncer é o mais agressivo, que se espalha mais fácil e tem tendência a aparecer em mulheres mais novas. Por outro lado, é o que melhor responde às quimioterapias. Mas após terminar as quimios irei fazer cirurgia, para evitar que fique ali qualquer célula cancerígena e eu precise passar por isso tudo de novo.

 

Quando faço a quimio, os primeiros seis dias são muito difíceis. Me sinto enjoada, cansada, tonta, com a vista embaçada. São os dias nos quais preciso me retirar para descansar. Mas, depois disso, é hora de reagir.

Você tem que sair da cama e reagir, tentar ao máximo retomar sua vida. Se você se deixar abalar, isso vai afetar muito lá na frente. Há médicos que ficam surpresos com o quanto a Fé e o otimismo das pessoas refletem de uma boa forma no processo de recuperação e cura.

 

Mas claro que há os momentos difíceis. Faz duas semanas que optei por raspar meu cabelo, porque já estava caindo demais. Busquei tentar fazer esse ser um momento alegre, marcante, e minha maior preocupação sempre foi como meus filhos, que são pequenos, iriam reagir.

O mais velho disse que eu estava linda, o mais novo me falou para colocar o cabelo de volta (mas agora já se acostumou com o novo visual da mãe). Lembro que, no dia seguinte ao corte, tive uma sessão de quimio e logo no sábado, dois dias depois, era aniversário do meu caçula, que completou três anos.

 

Quando optei por cortar meu cabelo decidi fazer isso em casa, com a presença da família e de amigos. Uma amiga me maquiou, outras fez fotos, estava me sentindo bem comigo mesma.

Mas quando foi hora do aniversário e percebi que teria que encarar outras pessoas que não haviam me visto assim ainda me senti, de certa forma, constrangida. Hoje não mais, passou, e claro que eu faria de novo aquela comemoração ou o que quer que fosse preciso pelos meus filhos.

Sem dúvida meu marido está sendo uma pessoa incrível em meio a isso tudo. No começo acho que ele sofreu ainda mais do que eu com essa notícia, e sei que agora também continua sendo difícil, mas juntos temos a certeza de que iremos superar tudo isso.

 

Com certeza hoje minha rotina é outra. Não posso sair para comer em qualquer lugar, minha alimentação é restringida. Mas continuo praticando atividades, até por ser uma recomendação médica, já que ajuda na ansiedade também.

Você tem que enfrentar o que está passando, não adianta ir contra. Tento fazer isso com humor sempre, me cuidando, até porque se sua imunidade estiver baixa você não pode fazer a quimio – e quero terminar o quanto antes.

O que digo às mulheres é que, se sentirem qualquer desconforto ou algo diferente em suas mamas, ou qualquer parte do corpo, procurem um médico – não deixem para depois. Pode não ser nada, mas pode ser algo grave.

 

Depois que você descobre algo assim, sua forma de olhar e viver muda por completo. Sou hoje uma pessoa mais calma, estava sempre estressada. Meus filhos sentem isso, sinto que estão mais próximos de mim.

O poder da mente é incrível! Posso dizer que, hoje, sou mais feliz do que antes. É difícil para algumas pessoas entenderem isso, mas acordo todos os dias grata, afinal, há pessoas que estão em situações piores que a minha. Nunca duvidei que um dia vou me curar – e esse dia está cada vez mais próximo.

Quero também deixar registrado aqui o meu muito obrigada a todos que têm mandado mensagens de carinho e apoio. São pessoas que fazem, e muito, a diferença nos meus dias. Agradeço de coração aos meus amigos e à minha família – é deles que vem toda a minha força, onde minha Fé se fortalece dia após dia. Amo vocês”.