Do isopor ao sucesso

Joceli Maria Melo (a Lili Lanches) relembra sua história e faz revelações

Por Aline Brehmer 15/03/2023 - 07:00 hs
Foto: Marcelo Dias

No começo, tudo o que ela tinha era um isopor. Com poucos recursos, comprava um único peito de frango para desfiar e fazer o recheio do pastel – que saía pelas ruas vendendo no dia seguinte, de porta em porta.

Foram três anos de longas caminhadas por Timbó, oferecendo lanches e salgados às pessoas que, na correria do dia-a-dia, aproveitavam para “fazer uma boquinha”. Foi exatamente desse jeito que a cozinheira de mão cheia formou sua clientela e abriu sua primeira lanchonete na cidade, na rua 7 de Setembro.

Era 1999...

Em um espaço pequeno, com apenas três mesas, eram servidos os pasteis – carro chefe de vendas até hoje. Mas então a novidade de que havia uma lanchonete na cidade foi atraindo mais e mais pessoas – afinal, estamos falando de algo que aconteceu em 1999.

Foi assim que a necessidade de expandir suas receitas e espaço surgiu – até chegar em um dos pontos mais cobiçados do Centro, onde permanece já há 13 anos sob o comando da Joceli Maria Melo.

Não reconheceu esse nome? Vamos facilitar então: seu apelido é Lili (e o sobrenome mais conhecido é “Lanches”). É com um sorriso solto e brilho no olhar que ela, sentada em frente à sua lanchonete (realização de um grande sonho) conversou com a redação do Café Impresso nesta semana.


A “Tia Lili”

A identidade aponta que Lili tem 73 anos – mas sua disposição “desmente” essa informação. Ativa e repleta de ideias, ela comenta que a idade se trata apenas de um número.

Ainda na época em que carregava seu isopor, repleto de pasteis, bananinhas, entre outras opções, parava no antigo Colégio Energia para fazer algumas vendas – e foi assim que ficou conhecida como a “tia Lili”.

“Há ainda hoje pessoas que chegam e me pedem se lembro delas por causa daquela época. Gente de todas as idades vêm aqui na Lili Lanches e isso é muito gratificante, quer dizer que mesmo com o tempo, a concorrência ou correria, esse é o lugar que elas preferem – algo que nos motiva há tantos anos”, revela.

Amor como ingrediente secreto

Lili conta que sempre quis ser empreendedora. Ela primeiro abriu uma loja, mas acabou não dando certo, então partiu para a área da comida – que deu super certo! Conquistei minha clientela e o trabalho duro nunca parou, é o que me trouxe até aqui”, reflete.

Ali, naquela que ela considera sua segunda (ou quem sabe seja a primeira mesmo) casa, pessoas chegam e entram, escolhendo uma mesa e fazendo seu pedido. Tem sido assim nos últimos anos e, em tempos delicados como os que vivemos hoje, ela agradece ainda mais essa fiel e parceira clientela.

“Quando começamos era muito bom, já que fomos uma das primeiras lanchonetes em Timbó, mas a concorrência foi aumentando rapidamente. Só que, felizmente, nunca paramos de ter um bom movimento, algo que devo à qualidade: tanto no atendimento quanto nos salgados e doces que vendemos aqui. É tudo feito com muito amor e as pessoas sentem isso”, reflete a empresária.

A família Lili Lanches

Mas ela não está nessa empreitada sozinha. O marido Sérgio, quando a conheceu, largou o emprego e se dedicou a ajudá-la. Hoje ela conta ainda com a colaboração dos filhos Wilmar, Marco Aurélio e Márcia, que trabalham no local.

Lili faz questão de ressaltar que algo do qual nunca abriu mão nessas duas décadas foi o toque caseiro e fresco, garantindo que o pastel (salgado mais pedido desde sempre), por exemplo, seja feito, frito e servido na hora.


“Até já ganhamos prêmio por causa do nosso pastel (com opções de sabor como camarão, queijo, frango, entre outros). Além disso tem toda a questão de limpeza e qualidade, que prezamos muito aqui. Minha filha Márcia, que é a gerente, é o lado mais criativo. Ela gosta de criar novas receitas e tem uma ótima mão para doces e salgados”, destaca Lili.

Há também a opção de lanches, porções, sobremesas, brigadeiros, almoço executivo, a quarta-feira da feijoada – tudo, garante Lili, feito 100% pela família ali, na hora. A exceção é apenas de alguns salgados, como pão de batata e croissant, por exemplo, os quais Lili adquire da mesma empresa desde que a lanchonete abriu.

“A concorrência faz com que a gente se atente e esforce pra ser cada vez melhor. Admito que ouvir as pessoas falando que “igual aos lanches da Lili não tem”, sempre traz um misto de alegria e gratidão”, comenta entre risos.

O momento mais difícil

E por falar em família, algo que orgulha muito a empreendedora é saber que tanto seus filhos quanto os dois netos têm hoje uma vida confortável graças ao empreendimento.


“Todo o sustento da família vem daqui. Tenho dois netos formados, graças aos “lanchinhos” da vovó. Tenho um orgulho enorme deles e dos meus filhos também. É muito bom saber que eles estão bem e, principalmente, que reconhecem a força e o que a Lili Lanches representa”, relata.

E nesse cenário de 2019 que para a família foi economicamente falando, o período mais difícil da Lili até hoje, a matriarca dos Melo faz uma ressalva. “Vi nos últimos anos muita gente fechando as portas. Está difícil? Está, mas nunca desanimei. Sempre fiz questão de me manter positiva, isso faz muita diferença.

Claro que a gente se sente abatido às vezes, mas se reergue e segue em frente. Mesmo diante desse momento de crise que há no Brasil ainda pago minhas contas, meus funcionários e tenho tudo em dia, graças a Deus (e, claro, aos meus clientes e amigos)”, agradece a Lili.


“Começou do zero mesmo”, relembra Lili

Lili revela que mesmo podendo manter as contas no verde, anseia por um 2020 muito diferente. “A esperança, tanto minha quanto de todos que conheço, é de que haja mudanças. Quando eu e o Sérgio iniciamos nosso namoro, há 23 anos, começamos do zero mesmo. Hoje temos nossa casa, a Lili Lanches, nosso carro e ainda tenho o sonho de viajar para Portugal, então vou trabalhar para isso”, confidencia. Mas o que realmente motiva o dia-a-dia dela hoje são seus filhos.

“Desde sempre entreguei minha vida e meus planos nas mãos de Deus, e todos os dias agradeço pela vida e pelas pessoas que tenho comigo. É preciso sim ter muito jogo de cintura para administrar algo, principalmente nos tempos de hoje, mas meu lema é: desistir jamais! Se estou feliz, quero que minha família também esteja. Sozinha não iria dar conta, sozinho a gente não vai longe”, ressalta Lili.