Com uma mala de roupas nas mãos, Dário e Ivone foram casar
escondidos. A família católica dele não aceitava seu relacionamento com uma
mulher que fosse evangélica (e vice-versa). Sem nem ao menos se conhecerem
direito, sentiram que o certo era construir uma vida juntos e, por isso,
fugiram, se casaram e mudaram para São Paulo.
Chegaram lá com uma muda de roupas cada um – e mais nada.
Ela tinha apenas 17 e ele 23 anos, morando a vida inteira em uma cidade do
interior, que é Timbó. De repente se viram diante da conhecida “selva de
pedras”, mas tiveram sorte, porque encontraram ali pessoas receptivas, que os
ensinaram muitas coisas.
Porém, a vida a dois foi algo que tiveram que aprender
sozinhos mesmo, no dia-a-dia, contornando dificuldades, comemorando alegrias,
dividindo um mesmo teto, até mesmo dividindo um único ovo cozido (porque é o
que tinham para comer naquela refeição) e sabendo que aquele casamento tinha
que dar certo, afinal, não seriam mais aceitos em casa por suas respectivas
famílias.
50 anos atrás...
Em São Paulo, estavam por conta própria. Moraram apenas um
ano lá, em um sítio. Nesse período nasceu o primeiro filho do casal: Rogério.
Mas a vida na cidade grande era difícil demais, então decidiram retornar ao
Médio Vale do Itajaí.
Compraram uma casa no bairro Pomeranos, onde estão até hoje
– 49 anos depois – e começaram trabalhando na lavoura. Ali, tiveram mais três
filhos: Rejane, Rangel e Resiete. Nessa altura a vida já não era mais tão
difícil, mas eles mal sabiam o que os aguardava adiante.
Nesta semana o casal completou Bodas de Ouro, celebrando 50
anos de união. Esses primeiros parágrafos que acabaram de ser narrados
aconteceram em 1969 e, foi relembrando tantos momentos e relatando fatos
curiosos à redação do Café Impresso, que seu Dário e dona Ivone reviveram um
pouco dessa desafiadora e surpreendente trajetória.
A primeira luta contra o câncer
Voltando para os dias de hoje, o casal continua residindo no
bairro Pomeranos, mas há alguns anos construíram sua nova casa. Quem está ali
fazendo companhia para eles no dia da entrevista é o quinto de oito netos,
Henrique, que ouve atentamente a história dos avós (e que, por sinal, sabe
fazer um café como ninguém).
Seu Dário Bonatti, hoje com 73 anos, confidencia que esse 26
de novembro é realmente algo a se celebrar. “Nos deixa contentes, porque poucos
casais têm a oportunidade de comemorar um momento assim, né?”, questiona.
Se no começo da vida a dois as dificuldades foram
financeiras, houve provações muito maiores, como quando Ivone Bonatti, hoje com
67 anos, descobriu que estava com câncer. “Enfrentei a dor dessa descoberta e a
alegria da recuperação duas vezes, e Dário sempre esteve ao meu lado. Quando
estava melhor, passamos por um novo susto, quando lee foi parar na UTI, onde
ficou durante 26 dias”, relata.
26 dias na UTI
Felizmente, não passou de um susto, mas as consequências,
diz Ivone, a fizeram até mesmo mudar de nome. “Quando ele recebeu alta, veio
para casa muito debilitado. Não conseguia andar, comer, ir no banheiro, tomar
banho. Naquele tempo disse para ele que meu nome tinha mudado: não era mais
Ivone, era Paciência”, conta ela enquanto o esposo, no sofá ao lado, deixa
escapar uma risada.
“Eu pedi a ela porque fazia aquilo tudo, e ela me respondeu
que há 50 anos tinha feito um juramento no altar: “juntos na saúde e na doença,
na alegria e na pobreza”, e disse que iria cumprir com sua promessa”,
confidencia Dário, emocionado.
Amor que cura
Aos poucos, especialmente graças aos cuidados da esposa, ele
começou a recuperar sua saúde, voltou a andar e ser independente – mas a vida
surpreendeu novamente quando ele voltou a ser internado, durante dias, na UTI.
“Foi neste ano, mês passado na verdade. Naqueles dias em que
estava na UTI, desacordado, comecei a falar com ele e disse: “Vamos lá! Somos
jovens ainda, temos netos que nos esperam com alegria, somos companheiros”.
Graças a Deus ele me ouviu e voltou para a gente”, agradece Ivone. Dário sofre de
insuficiência renal crônica e hoje em dia faz diálise, sempre na companhia de
sua esposa.
Alegria compartilhada
Mas os momentos difíceis não foram os únicos compartilhados,
houve muitas alegrias também, como a vez em que Dário foi eleito vereador e mais
três vezes em que sua esposa (que foi a primeira mulher de Timbó a ser eleita
presidente da Câmara) também ganhou as eleições para ocupar uma cadeira na Casa
Legislativa.
“Sempre digo que a Câmara é uma verdadeira faculdade. Lá
você acompanha o funcionamento de tudo, tem chance de ajudar e fazer algo pelas
pessoas, cria uma rede de contatos. É uma experiência incrível”, revela Dário.
Ivone comenta que eles não eram conhecidos, mas sempre
buscaram atuar na comunidade e auxiliar as pessoas. “Fomos nós, inclusive, que
fundamos a Associação de Moradores do bairro, onde permaneci por dez anos como
presidente”, diz.
E tudo termina bem...
E relembrando o que contamos lá no começo da reportagem, a
respeito da “guerra” entre as famílias devido à religião, Ivone diz que tudo
acabou terminando bem – em ambos os lados – e houve, enfim, harmonia.
Após algum tempo ela, assim como todos os filhos, acabou
sendo adepta da religião católica. O casal também entrou para o Movimento dos
Casais da Lareira (isso em 1982).
“Quando nos afastamos de Deus, sentimos de imediato que as
coisas ficam mais difíceis e pesadas. É preciso sempre mantê-lo por perto.
Depois que começamos a frequentar a Lareira, estreitamos esse laço e nossos
filhos seguiram esse exemplo”, compartilha Ivone.
Fórmula mágica da felicidade?
Tanto Ivone quanto Dário pensam que não existe “fórmula
mágica da felicidade”, mas existe sim uma palavra mágica que os ajudou a chegar
até aqui: perdão. “É preciso saber perdoar e ser grato também. Sempre agradeço
pelas coisas que aconteceram em nossas vidas, porque apenas fomos fortalecidos
e recebemos novas chances. E sempre lembre que a família é a base de tudo, um
por todos e todos por um. Qualquer fardo é muito mais pesado se você tentar
carrega-lo sozinho”, aconselha seu Dário.
Ivone, como em todos os momentos da vida, é o complemento do
marido (até nas colocações finais). “Peço a Deus todos os dias que minha
família saiba amar e ter humildade. Que tenha sempre Deus à frente de tudo e
que Ele nos abençoe, como sempre fez até hoje comigo, com o Dário, com nossos
filhos, com nossos genros (Clóvis e Rômulo), com nossas noras (Emerize e
Janaína) e com nossos netos (Pietra, Vinícius, Manolo, Lorenzo, Henrique,
Natália, Heloísa e Murilo)”.