Do câncer à UTI, um amor que supera tudo!

Seu Dário e dona Ivone Bonatti celebraram nesta semana suas Bodas de Ouro – e lembram do começo de tudo, quando a situação era tão difícil que eles precisavam até mesmo dividir um único ovo em suas refeições

Por Aline Brehmer 29/11/2019 - 16:29 hs
Foto: Arquivo pessoal

Com uma mala de roupas nas mãos, Dário e Ivone foram casar escondidos. A família católica dele não aceitava seu relacionamento com uma mulher que fosse evangélica (e vice-versa). Sem nem ao menos se conhecerem direito, sentiram que o certo era construir uma vida juntos e, por isso, fugiram, se casaram e mudaram para São Paulo.

Chegaram lá com uma muda de roupas cada um – e mais nada. Ela tinha apenas 17 e ele 23 anos, morando a vida inteira em uma cidade do interior, que é Timbó. De repente se viram diante da conhecida “selva de pedras”, mas tiveram sorte, porque encontraram ali pessoas receptivas, que os ensinaram muitas coisas.

Porém, a vida a dois foi algo que tiveram que aprender sozinhos mesmo, no dia-a-dia, contornando dificuldades, comemorando alegrias, dividindo um mesmo teto, até mesmo dividindo um único ovo cozido (porque é o que tinham para comer naquela refeição) e sabendo que aquele casamento tinha que dar certo, afinal, não seriam mais aceitos em casa por suas respectivas famílias.

50 anos atrás...

Em São Paulo, estavam por conta própria. Moraram apenas um ano lá, em um sítio. Nesse período nasceu o primeiro filho do casal: Rogério. Mas a vida na cidade grande era difícil demais, então decidiram retornar ao Médio Vale do Itajaí.

Compraram uma casa no bairro Pomeranos, onde estão até hoje – 49 anos depois – e começaram trabalhando na lavoura. Ali, tiveram mais três filhos: Rejane, Rangel e Resiete. Nessa altura a vida já não era mais tão difícil, mas eles mal sabiam o que os aguardava adiante.

Nesta semana o casal completou Bodas de Ouro, celebrando 50 anos de união. Esses primeiros parágrafos que acabaram de ser narrados aconteceram em 1969 e, foi relembrando tantos momentos e relatando fatos curiosos à redação do Café Impresso, que seu Dário e dona Ivone reviveram um pouco dessa desafiadora e surpreendente trajetória.


A primeira luta contra o câncer

Voltando para os dias de hoje, o casal continua residindo no bairro Pomeranos, mas há alguns anos construíram sua nova casa. Quem está ali fazendo companhia para eles no dia da entrevista é o quinto de oito netos, Henrique, que ouve atentamente a história dos avós (e que, por sinal, sabe fazer um café como ninguém).

Seu Dário Bonatti, hoje com 73 anos, confidencia que esse 26 de novembro é realmente algo a se celebrar. “Nos deixa contentes, porque poucos casais têm a oportunidade de comemorar um momento assim, né?”, questiona.

Se no começo da vida a dois as dificuldades foram financeiras, houve provações muito maiores, como quando Ivone Bonatti, hoje com 67 anos, descobriu que estava com câncer. “Enfrentei a dor dessa descoberta e a alegria da recuperação duas vezes, e Dário sempre esteve ao meu lado. Quando estava melhor, passamos por um novo susto, quando lee foi parar na UTI, onde ficou durante 26 dias”, relata.

26 dias na UTI

Felizmente, não passou de um susto, mas as consequências, diz Ivone, a fizeram até mesmo mudar de nome. “Quando ele recebeu alta, veio para casa muito debilitado. Não conseguia andar, comer, ir no banheiro, tomar banho. Naquele tempo disse para ele que meu nome tinha mudado: não era mais Ivone, era Paciência”, conta ela enquanto o esposo, no sofá ao lado, deixa escapar uma risada.

“Eu pedi a ela porque fazia aquilo tudo, e ela me respondeu que há 50 anos tinha feito um juramento no altar: “juntos na saúde e na doença, na alegria e na pobreza”, e disse que iria cumprir com sua promessa”, confidencia Dário, emocionado.

Amor que cura

Aos poucos, especialmente graças aos cuidados da esposa, ele começou a recuperar sua saúde, voltou a andar e ser independente – mas a vida surpreendeu novamente quando ele voltou a ser internado, durante dias, na UTI.

“Foi neste ano, mês passado na verdade. Naqueles dias em que estava na UTI, desacordado, comecei a falar com ele e disse: “Vamos lá! Somos jovens ainda, temos netos que nos esperam com alegria, somos companheiros”. Graças a Deus ele me ouviu e voltou para a gente”, agradece Ivone. Dário sofre de insuficiência renal crônica e hoje em dia faz diálise, sempre na companhia de sua esposa.

Alegria compartilhada

Mas os momentos difíceis não foram os únicos compartilhados, houve muitas alegrias também, como a vez em que Dário foi eleito vereador e mais três vezes em que sua esposa (que foi a primeira mulher de Timbó a ser eleita presidente da Câmara) também ganhou as eleições para ocupar uma cadeira na Casa Legislativa.

“Sempre digo que a Câmara é uma verdadeira faculdade. Lá você acompanha o funcionamento de tudo, tem chance de ajudar e fazer algo pelas pessoas, cria uma rede de contatos. É uma experiência incrível”, revela Dário.

Ivone comenta que eles não eram conhecidos, mas sempre buscaram atuar na comunidade e auxiliar as pessoas. “Fomos nós, inclusive, que fundamos a Associação de Moradores do bairro, onde permaneci por dez anos como presidente”, diz.


E tudo termina bem...

E relembrando o que contamos lá no começo da reportagem, a respeito da “guerra” entre as famílias devido à religião, Ivone diz que tudo acabou terminando bem – em ambos os lados – e houve, enfim, harmonia.

Após algum tempo ela, assim como todos os filhos, acabou sendo adepta da religião católica. O casal também entrou para o Movimento dos Casais da Lareira (isso em 1982).

“Quando nos afastamos de Deus, sentimos de imediato que as coisas ficam mais difíceis e pesadas. É preciso sempre mantê-lo por perto. Depois que começamos a frequentar a Lareira, estreitamos esse laço e nossos filhos seguiram esse exemplo”, compartilha Ivone.

Fórmula mágica da felicidade?

Tanto Ivone quanto Dário pensam que não existe “fórmula mágica da felicidade”, mas existe sim uma palavra mágica que os ajudou a chegar até aqui: perdão. “É preciso saber perdoar e ser grato também. Sempre agradeço pelas coisas que aconteceram em nossas vidas, porque apenas fomos fortalecidos e recebemos novas chances. E sempre lembre que a família é a base de tudo, um por todos e todos por um. Qualquer fardo é muito mais pesado se você tentar carrega-lo sozinho”, aconselha seu Dário.

Ivone, como em todos os momentos da vida, é o complemento do marido (até nas colocações finais). “Peço a Deus todos os dias que minha família saiba amar e ter humildade. Que tenha sempre Deus à frente de tudo e que Ele nos abençoe, como sempre fez até hoje comigo, com o Dário, com nossos filhos, com nossos genros (Clóvis e Rômulo), com nossas noras (Emerize e Janaína) e com nossos netos (Pietra, Vinícius, Manolo, Lorenzo, Henrique, Natália, Heloísa e Murilo)”.