Eram quase quatro horas da manhã desta quarta-feira, 5,
quando os autos de prisão em flagrante de Fabiano Kipper Mai (18 anos), que
matou cinco pessoas em Saudades, no Oeste catarinense, chegaram ao Poder
Judiciário de Santa Catarina.
Após manifestações do promotor de justiça e do
defensor dativo, o juiz da comarca de Pinhalzinho, Caio Lemgruber Taborda,
converteu a prisão em flagrante do suspeito em prisão preventiva.
Taborda
também deferiu o pedido da Polícia Civil para quebra de sigilo de dados, necessária
para análise de computadores, videogame e pen drive apreendidos na residência
do suspeito.
O magistrado considerou que a prisão preventiva "se
justifica por sua tríplice finalidade: é providência de segurança, garantia da
execução da pena e asseguradora da boa prova processual".
E que "a
prisão é necessária para garantia da ordem pública, em especial porque a
autoria delitiva recai sobre o acusado, sendo ele, em tese, responsável pela
morte violenta e cruel de 5 (cinco) pessoas, quais sejam, duas professoras
[...] e três crianças de tenra idade, [...] as quais tinham em torno de um ano
a dois anos de idade".
Outra observação diz respeito ao comportamento do agressor,
em que "sua maior preocupação era quantas pessoas havia conseguido matar,
demonstrando seu desprezo pela vida humana e sua incapacidade de retornar, ao
menos neste momento inicial e mediante as informações coletadas, ao convívio da
sociedade, o que demanda seu encarceramento cautelar".
"Assim, as
circunstâncias dos fatos ora apurados evidenciam exacerbada periculosidade do
conduzido, sendo que sua liberdade, sem qualquer dúvida, representa grave abalo
público e risco para a sociedade, diante da possibilidade de reiteração das
condutas praticadas por pessoa que já demonstrou não possuir arrependimento nem
dar valor à vida", reiterou o magistrado.
O promotor de justiça da comarca, Douglas Dellazari, se
manifestou pela prisão preventiva, reforçando que ela é necessária para a
garantia da ordem pública, a instrução criminal e a aplicação da lei penal.
O
promotor pontua que o agressor agiu por motivo torpe (ou fútil), com meio cruel
(múltiplos golpes com arma branca) e recurso que impossibilitou a defesa das
vítimas (contra crianças com menos de 2 anos de idade e professoras indefesas,
que estavam em seu horário de trabalho).
"Os crimes causaram extremo abalo à ordem pública,
consideradas a torpeza, covardia e crueldade com que foram praticados, cenas
nunca vistas antes nesta Comarca, denotando uma gravidade em concreto
inquestionável. A reprovabilidade das infrações penais e a periculosidade do
autor são extremamente acentuadas, sob qualquer perspectiva, seja pelo modus
operandi, seja pela multiplicidade de golpes, seja pela qualidade das
vítimas", ressalta Douglas.
A defesa de Fabiano foi feita pelo advogado nomeado, Kleber
dos Passos Jardim, do município de Papanduvas. O defensor dativo solicitou
averiguação de sanidade mental, já que o agressor apresenta traços de
psicopatia.
O pedido foi indeferido pelo juiz. Em decorrência da pandemia de Covid-19,
as audiências de custódia estão suspensas em todo o estado. Porém, as partes
têm o mesmo direito de manifestação, que é anexada ao processo, para posterior
decisão da Justiça. Tudo é feito pela internet.
O caso tramita em segredo de justiça na comarca de
Pinhalzinho, que atende à demanda de Saudades e Nova Erechim. De acordo com
informações da assessoria de imprensa do Hospital Regional do Oeste, onde o
agressor está internado, Fabiano passou por cirurgia e segue em estado grave na
Unidade de Tratamento Intensivo. Após alta hospitalar, será encaminhado para
unidade prisional, onde permanecerá até conclusão do processo e julgamento.
COMPROMISSO
Na decisão, o juiz fez questão de reafirmar o compromisso da
Justiça com o rápido atendimento ao caso. "Destaco, nesse ponto, que a
atuação do Poder Judiciário nessa pacata comarca deve ser exemplar, firme e
rápida, de modo que o senso de justiça exigido por todos tenha uma eficaz
resposta por parte deste Juízo", afirmou.
O CASO
Segundo as Polícias Civil e Militar, Fabiano entrou na
Escola Infantil Pró-Infância Aquarela, em Saudades, por volta de 10h da
terça-feira, 4. Após ferir uma professora com uma espada, o suspeito atingiu
uma auxiliar pedagógica e quatro crianças menores de dois anos. Das vítimas,
uma criança segue internada. As demais faleceram em decorrência dos ferimentos.