Vamos buscar responder essa pergunta entendendo
primeiramente o que é o luto. Portanto, vamos partir da definição de que o luto
é uma resposta universal, natural e esperada frente a um rompimento de vínculo
significativo, ou seja, enlutamos por quem e aquilo que nos é valoroso. Essa
resposta a que atribuímos ao luto envolve todas as nossas dimensões:
psicológica, biológica, familiar, social, espiritual.
A morte nos atinge no lugar onde mora o amor, aquele amor
que supomos e acreditamos que só existe na presença física, na companhia dos
passeios, nas longas e demoradas conversas, no apego, no afeto, porque é assim
que aprendemos a nos vincular e amar até então, e diante da partida, é como se houvessem
estilhaços da dor por todo o nosso SER. Você é a própria dor por um tempo.
Quero deixar bem claro aqui que o luto é uma resposta
universal, todos nós experimentamos e vivenciamos lutos, mas as reações e as
formas de enlutar-se são muito individuais e singulares isso quer dizer que não
existem regras a seguir, um jeito certo, tampouco fases para ultrapassar, pois
o luto é mais parecido com uma montanha russa, oscilatório e dinâmico… do que
com a linearidade previsível de etapas a serem seguidas.
Estudar luto há mais de uma década, e cuidar de pessoas
enlutadas no acolhimento e suporte no luto do Plano Boa Vida, e claro com as
minhas próprias experiências de perdas até hoje, consegui entender que tem o
momento do luto onde a dor emocional é sentida de forma intensa, devastadora,
desorganizadora, e o enlutado é tomado pela falta de sentido, de qualquer
energia e investimento na vida, é o luto agudo.
À medida que o enlutado encontra caminhos de expressão, de
cuidado, de validação que é ter essa perda reconhecida, ele vai dando contornos
ao processo; de modo muito individual, ele passa a integrar essa perda como
parte da sua vida, da sua jornada… e nessa travessia a resposta nesse processo
vai se tornando suportável e adaptativa.
O que não quer dizer que a dor nunca mais retorne ou venha
visitar, há sempre “gatilhos” que nos conectam com a saudade, com a presença
dessa ausência, de modo que datas importantes, cheiros, lugares, sabores,
momentos, podem despertar essa dor, mas agora talvez você consiga lidar melhor
com ela, porque você percebeu que deu conta ontem, antes de ontem, na semana
passada… e aprendeu a sentir a tristeza da ausência física sem que a DOR faça
morada.
O luto é transição! Requer reorganização, adaptação, integração,
busca por novos caminhos…onde esse só se faz caminhando. Luto é movimento!
Aprendemos a viver com a presença simbólica que permanece dentro de cada um de
nós, passamos a ser guardiões das lembranças, e nos encontramos na saudade e no
amor.
Por: Patrícia dos Santos - Psicóloga e Tanatóloga
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