Por que nos sentimos cansados quando vivenciamos o processo de luto?

Por Plano Boa Vida 11/08/2022 - 09:42 hs

Todo enlutado sabe e sente profundamente o quanto a morte de alguém significativo, importante e valoroso os afeta e impacta de forma complexa e ampla; ou seja, o luto não é somente tristeza e choro, é um emaranhado de pensamentos, sentimentos e emoções que alcançam toda a nossa existência no mundo, esse a qual tínhamos como seguro e previsível, esse mundo é abalado fortemente.

Há um esforço imenso para lidar com as situações que seguem após a morte; o luto envolve esforço físico e psíquico. Entramos em uma busca incessante de entender tudo que está acontecendo. Buscamos o mínimo de organização em meio ao caos da desorganização dos pensamentos e da vida, tentamos entender se o que sentimos é parte disso tudo, ou se estamos enlouquecendo, duvidamos da realidade e brigamos com Deus, com o universo, com pessoas da família, pois, nossos nervos estão à "flor da pele”. 

O luto é cansativo, nossa energia está diminuída, há uma exaustão em ter que resolver burocracias e em curto espaço de tempo, como inventários por exemplo, tantos e tantos ajustes que precisam ser feitos, trocar a titularidade de inúmeras contas; são tantas coisas, é exaustivo porque você tem insônia e acorda destruído, cansa porque parece que toda essa dor não terá fim, e sofrer cansa, a tristeza cansa!

Nos sentimos vulneráveis e ainda assim nos esforçamos para cumprir uma jornada de trabalho, acredito que em alguns momentos estamos só com nosso corpo presente, pois, os pensamentos e foco na atividade, a concentração, estão em suspensão; buscamos adaptação, mas muitas vezes não entendemos que se trata de um processo, e por isso o luto exige de nós paciência e compaixão.

O luto te deixa muito sensível, tudo ao redor sensibiliza, a aproximação das pessoas, ou o distanciamento delas nos tornam muitas vezes julgadores…sim você leu certo, julgadores, quanto te perguntam como você está?... e lá no fundo você pensa: é óbvio que nada bem não tá vendo? E talvez você até vá nutrindo raiva e decepção, mas faça uma pausa agora para pensar… Afinal quem nunca ficou sem saber o que dizer em uma situação dessas?

As pessoas muitas vezes, estão tentando entender esse processo que é seu, sem nenhuma maldade ou consciência de como algumas falas podem te magoar. O melhor e mais saudável é você enlutado buscar ser assertivo em se comunicar.  É compreensível que socializar por um período de tempo pode exigir demais de você, que no momento você só queira silêncio, um lugar para se recolher, como a onda do mar que recua. 

Por isso, se comunique com quem te oferece uma distração, um colo, um aconchego, uma saída para um café; hoje você pode não estar pronto, mas fique aberto, pois chegará o dia que você se alegrará que esse alguém pense em você e te lembre de se movimentar, e te estenda a mão.  Não feche portas porque hoje a dor está imensa, intensa, você encontrará seu ponto de descanso!

O luto dói, cansa e muito, e para além de tudo que citei até agora, talvez uma boa parte desse processo, seja o amor tentando se ajustar e encontrar um lugar diferente, porque antes era um amor dividido, compartilhado na presença, nas trocas, nos olhares… sem a presença física de quem se ama, é preciso descobrir o que a morte não levou dessa relação, desse vínculo. Mantenha-o vivo, tão vivo que no seu coração e na sua vida que segue apesar de, tornem-se templos de honra desse sagrado amor.

(in memoriam à todos os meus amores que carrego sempre comigo, onde quer que eu vá…).

Com carinho e amor,

Patrícia dos Santos
(Psicóloga e Tanatóloga - CRP 12/10686)